A busca das mulheres por modalidades de combate tem se intensificado nos últimos anos (Thomaz Marostegan/Guarani FC)
Já faz muito tempo que a prática de esportes de luta deixou de ser uma exclusividade dos homens. E nos últimos anos, a busca das mulheres por modalidades de combate tem se intensificado. Os motivos para esse crescimento são diversos, mas alguns professores de luta acreditam que a violência contra a mulher seja um dos principais deflagradores desse movimento. “Elas estão buscando maneiras de se proteger”, diz Jefferson Merim, professor de boxe do Clube Atlético Campinas.
Merim acredita que as mulheres se sentem mais confiantes e seguras a partir do momento em que passam a dominar técnicas de luta. “A violência contra elas tem aumentado e a autodefesa passou a ser uma alternativa de se livrar dessa situação.”
Em Valinhos, o combate à violência contra a mulher é levado tão a sério que a gestão da prefeita Lucimara Godoy decidiu abrir espaço para que o público feminino possa ter uma alternativa de proteção. O curso gratuito de técnicas de defesa pessoal teve início em junho de 2022 e mais de 100 mulheres já participaram das aulas e receberam certificados. Orientado por profissionais da área, o curso trabalha aprimoramento de conceitos sobre uso de chutes e socos e também técnicas para escapar de agarrões, esganaduras e agressões. “Nosso objetivo é proteger a mulher”, diz o secretário de Segurança Pública do município, Argeu Alencar.
Uma nova turma do curso iniciou as aulas na última quarta-feira, com 25 participantes, um aumento de 38% em relação à primeira turma do programa, que tinha 18 alunas. “No curso, também incentivamos as mulheres a denunciarem os agressores por meio dos canais de comunicação disponibilizados pela Prefeitura”, acrescenta Alencar
Na Academia Central Kung Fu Campinas, que fica na avenida Moraes Sales, 40% do total de alunos são mulheres, segundo Enrique Miluzzi Ortega, professor da academia. “Em alguns horários, temos mais mulheres do que homens praticando”, destaca, lembrando que há 35 anos o número de praticantes do sexo feminino representava cerca de 15%. A esposa de Ortega, Ariana Ortega, é professora na academia, com destaque em competições internacionais, como a conquista da medalha de bronze na Copa do Mundo de Sanda (boxe chinês) e participação em evento da Olimpíada de Pequim, em 2008.
OUTRAS MOTIVAÇÕES
Praticante de boxe chinês há dois anos, a jornalista Nathalia Pereira admite que a busca por autodefesa é uma motivação para participar das aulas. Porém, destaca também outras finalidades que a levaram a investir na prática. “Eu acredito que o boxe chinês é um esporte no qual a pessoa consegue liberar todas as emoções do dia. Tira o estresse. Como é uma atividade que exige movimento constante, é possível relaxar. Sem contar que dar uns socos é ótimo.”
Segundo Nathalia, a arte marcial é também um remédio para a ansiedade. “O boxe chinês me libertou de todos esses sintomas. Quem tem crises de ansiedade, sabe como o esporte é importante para combater alguns efeitos.”