Campineira Marina Amadeu foi destaque nas competições de breaking e é candidata a uma vaga em Paris-2024 (Divulgação)
Estilo de dança que surgiu nos guetos dos Estados Unidos e chegou ao Brasil na década de 1970, o breaking, conhecido como break dance, agora se tornou também esporte olímpico. Elemento da periferia e inserido na cultura hip hop, a prática estreia na Olimpíada no ano que vem, nos Jogos de Paris, com o objetivo de atrair a atenção do público jovem ao evento, segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI). Trata-se de uma repetição do que aconteceu com o surf e skate, práticas contextualizadas dentro de um “Life Style” (Estilo de Vida), e que foram incorporadas aos Jogos a partir de Tóquio-2020.
Destaque nas competições de breaking e candidata a uma vaga em Paris-2024, a campineira Marina Amadeu celebra a amplitude que a prática alcançou. Segundo ela, o fato de uma dança marginalizada surgida na rua ganhar nova dimensão abre portas para os dançarinos, “agora atletas”. No entanto, ela lembra que nem todos “na cena” pensam assim e revela polêmica entre os praticantes, já que muitos acreditam na tendência da prática perder sua essência. Formada em Dança pela Unicamp e primeira colocada no Cypher Red Bull SP 2023, Marina, de 30 anos, conhecida como Bgirl Marininha, concedeu entrevista ao Esportes Já:
Esportes Já: Como você vê o fato do breaking se tornar esporte olímpico já a partir do ano que vem?
Marininha: Hoje, temos as competições culturais, que mantêm viva a arte e a cultura hip hop, mas ganham destaque também as competições de nível esportivo, que têm formatos, exigências e características de julgamento muito específicas. A chegada do breaking na Olimpíada tem mudado muito a cena e gerado divergência de opiniões, pois muitos acreditam que a essência da prática, ligada à rua, pode se perder. Da minha parte, vejo mais portas se abrindo para os dançarinos, agora atletas, de breaking. A possibilidade de apoio financeiro, patrocínios, treinos em espaços adequados e de ser acompanhado por profissionais da saúde está mais atingível agora que o breaking não é mais visto apenas como uma "dança marginalizada" por ter suas origens na rua.
O Brasil é favorito para ganhar medalhas? Quais os países mais fortes?
Atualmente, o Brasil não é favorito para ganhar medalha, mas temos grandes competidores crescendo e sendo reconhecidos internacionalmente. Os países favoritos são China, Japão e França.
Você tem chance de ir à Olimpíada?
Os brasileiros que vão a Paris ainda não estão definidos, pois ainda acontecerão competições de pontuação para os rankings olímpicos. Dessa forma, tenho chance de classificação.
Como mantém viagens, participação em competições....
Atualmente em Campinas faço parte de uma equipe de breaking chamada Mos Crew e da companhia de dança Eclipse Cultura e Arte. Porém, essas companhias são independentes e não financiam os dançarinos com salário mensal. No momento, mantenho minhas viagens e competições com minha própria renda de trabalho fixo de aulas de dança e também através de trabalhos esporádicos com as companhias. Durante este ciclo olímpico do breaking, tenho buscado empresas patrocinadoras.
Quais foram os maiores desafios em competições?
Maior desafio foi desafiar a mim mesma e minha própria mente. Controlar a ansiedade de estar exposta e não deixar isso afetar minha dança. Ainda mais sendo mulher em um espaço ocupado há anos majoritariamente por homens. Para nós girls, é um desafio ter suporte, até mesmo dos de dentro da cena breaking, e isso afeta a mente muitas vezes.
Como foi o início?
Sou ginasta desde os 5 anos de idade e o grupo do qual participava fazia muitos trabalhos artísticos, misturando ginástica com a dança contemporânea e circo. Com 15 anos me encontrei no hip hop. Ao longo da minha trajetória em academias de dança e grupos independentes, sempre utilizei o diferencial da parte acrobática. Me formei no curso de Dança na Unicamp e, em seguida, conheci o breaking. Foi a mistura perfeita para mim, a dança com movimentos de força e acrobáticos.’