Campineira vai disputar etapa do Circuito Paulista de Atletismo em 22 de março nas provas de lançamento e arremesso de dardo, peso e disco
Conceição é campeã pan-americana, recordista sul-americana e tem três participações olímpicas, todas no heptatlo (Divulgação)
Um recomeço. É assim que Conceição Geremias encara a nova fase de sua carreira no atletismo. Depois de vivenciar inúmeras conquistas na modalidade, ela busca se adaptar a uma outra realidade. Há dois meses, a campineira vem treinando na Associação Paraolímpica de Campinas (APC) e a primeira competição na condição de paratleta da qual participará está marcada para 22 de março, em São Paulo, onde disputará a primeira etapa do Circuito Pau lista de Atletismo.
“Penso que vai ser uma estreia, vou chegar como se fosse a minha primeira vez. É assim que me sinto”, diz Conceição, de 68 anos, que em maio do ano passado precisou amputar parte de sua perna esquerda e, desde então, iniciou um longo processo de recuperação até ser liberada pelos médicos para começar a se envolver com os treinos.
Campeã pan-americana, recordista sul-americana com marca vigente por 25 anos e com três participações olímpicas, todas no heptatlo, Conceição vinha competindo na categoria máster antes da amputação. E ela resistia em ser vencida pela limitação imposta pelo imprevisto. Hoje, segue com trabalhos de reabilitação e ainda precisa superar barreiras do corpo para se adaptar à prótese que irá usar. Por enquanto, se locomove em cadeira de rodas e é nela que treina e irá competir.
“Estou me adaptando bem. A técnica já conheço. Só tenho que me adaptar à cadeira”, diz ela, que vem treinando arremesso e lançamento de dardo, peso e disco, manobras praticadas pela atleta principalmente quando participava de competições na categoria máster. Conceição disputará as três provas no evento do dia 22.
Para Luiz Marcelo Ribeiro da Luz, diretor da APC, o histórico de Conceição dentro do atletismo contribui para sua adaptação, mas ele ressalta outros dois elementos no perfil da campineira considerados essenciais para seu avanço: “ela é dedicada e extremamente positiva”, afirma. “Apesar da nova realidade e da situação que a levou à condição de deficiência, ela é sempre muito alegre, mostra empenho e isso tudo faz dela um grande exemplo.”
Calorosa com os companheiros de treino e comissão técnica, Conceição também se sente acolhida no novo ambiente. “Estou fazendo novas amizades, é um pessoal muito acolhedor”, diz. Os treinos acontecem três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas-feiras, na Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas. A equipe principal de atletismo da APC tem 15 integrantes.
A competição da qual Conceição participará, organizada pela Federação Paulista de Desportos para Cegos (FPDC), acontecerá no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro e é classificatória para eventos nacionais. Mas nessa estreia, o resultado não é considerado fundamental pela APC. “É tudo muito novo para ela. Neste momento, o foco está em realizar a classificação funcional e propiciar um ambiente acolhedor a ela”, diz Da Luz.
O DRAMA
Conceição precisou amputar parte da perna esquerda, do joelho para baixo, em razão de complicações resultantes de uma cirurgia no pé realizada no dia 24 de janeiro de 2024. A princípio, a situação não demandava grandes preocupações. A atleta sentia dores e exames detectaram a chamada “síndrome do túnel do tarso”, uma neuropatia que afeta o membro, além do tornozelo. Indicada, a cirurgia foi realizada, mas a recuperação contrariou a programação médica.
“Tive problemas na circulação do sangue e apaguei”, lembra ela, que entrou em coma. “Precisei passar pela amputação, pois eu corria risco de morte. Não vi nada. Quando acordei, a amputação já tinha acontecido. Mas não reclamei, só agradeci.”
Conceição ainda recebeu a ajuda de fãs e amigos em razão do alto custo da recuperação, que demandou cuidados especiais e uma vaquinha virtual foi criada. “A nossa vida é uma caixinha fechada. A gente não sabe o que tem dentro. Por isso, temos que aceitar algumas situações. Estou tranquila e grata a Deus por Ele me dar uma segunda chance”, comentou na ocasião.
Agora, depois de um 2024 marcado por uma luta pela vida, com cinco meses internada e outros cinco em processo de recuperação em sua casa e em clínicas, Conceição salienta a volta por cima. "Essa foi, com certeza, a maior dificuldade da minha vida. Acho que se eu não tivesse tido uma trajetória de atleta eu não teria suportado."
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