ESGRIMA

Com uma espada na mão, novas histórias são escritas

Academia em Campinas dá nova esperança para garoto curado de câncer e paratleta limitada por amputação e lesões nas pernas

Esportes Já
18/03/2024 às 10:11.
Atualizado em 18/03/2024 às 10:11
Carolina durante premiação quando praticava atletismo (Divulgação)

Carolina durante premiação quando praticava atletismo (Divulgação)

Mestre Pereira. Esse é o nome de uma academia de esgrima no bairro Bonfim, em Campinas. Mas há quem possa incluir o nome esperança ao lugar. Duas histórias de vida explicam. Depois de ser curado de um câncer na cabeça, Bryan Antonio, de 10 anos, vê na academia um ambiente de acolhimento e superação. E a mesma sensação tem Carolina Roncato, de 36 anos. Com amputação em parte da perna esquerda e lesões na direita, a paratleta enxerga na esgrima sua única possibilidade de seguir no esporte.

Carolina diz que estar numa cadeira de rodas aprendendo esgrima é sua tábua de salvação depois que os médicos a consideraram inapta para o atletismo, sua especialidade. Segunda colocada no ranking nacional do arremesso de disco e recordista dentro da classe F64 até o ano passado, a paratleta não conta mais hoje com o apoio de suas pernas para seguir na modalidade. Ela praticava parabadminton também, mas foi outra atividade interrompida.

“Quando os médicos falaram que eu não poderia mais praticar esporte por causa do problema nas pernas, foi um baque enorme, acabou comigo. Mas eu já tinha procurado uma academia de esgrima e na cadeira de rodas durante os treinos me sinto viva, forte e apta a seguir e não desistir.”

A cada dois anos praticamente Carolina precisa passar por cirurgia para que parte de sua perna esquerda seja retirada e reconstruída. A última intervenção foi feita no dia 19 de janeiro. Já a perna direita apresenta lesões que limitam movimentos mais intensos. O drama teve início após um acidente de trabalho, quando ela tinha 24 anos. “Como demorei muito para amputar a perna esquerda, a direita foi sobrecarregando e tenho derrame nas articulações do joelho e do tornozelo”, explica ela, que tem osteomielite, processo de inflamação no osso causada por uma infecção. “Andar devagar, calculando os passos, eu consigo com o apoio de uma muleta. Mas se eu exercer qualquer movimento mais forte, caio.”

Hoje, a esgrima, que pratica há sete meses, é sua grande paixão. O envolvimento é tão forte que Carolina não mede esforços na aprendizagem sob orientação do professor Maicon Pereira. Nos deslocamentos para os treinos, que acontecem entre 9h e 11h duas vezes por semana, o sacrifício revela sua determinação. Moradora em Mogi Guaçu, ela conta que pega o ônibus às 6h40 e chega em Campinas às 8h30 todas as terças e quintas-feiras. “Aí, vou na caminhada da rodoviária até a academia. Dá cerca de um quilômetro. É cansativo, mas para mim é como se eu tivesse vencido uma maratona e ganhado uma medalha de ouro a cada final de treino.”

Para Carolina, a prática da esgrima é a realização de um sonho. “Na infância, fui fã do zorro”, lembra ela. Seu objetivo é em 2018 integrar a equipe paralímpica representando o Brasil na modalidade.

VENCEDOR

A intensidade emotiva de Bryan ao retornar neste ano à academia Mestre Pereira comoveu o professor Maicon e a família do garoto. “Não acredito que estou voltando, era tudo o que eu queria”, dizia, depois de seis meses afastado da prática da esgrima. O diagnóstico de um tumor na cabeça em junho do ano passado alterou a vida do garoto, que precisou se afastar de todas as atividades. “Foram seis meses praticamente dentro de um hospital”, conta o pai Vladimir Lopes Mesquita Junior.

Bryan passou por cirurgia para a retirada do tumor e depois foi submetido a sessões de quimioterapia e radioterapia. Todo processo aconteceu no Centro Boldrini. “O tratamento foi finalizado em dezembro, graças a Deus sem sequelas”, comenta o pai.

Agora, Bryan se sente ainda mais motivado para seguir sua trajetória dentro da esgrima, que teve início no começo do ano passado. “Tentei colocá-lo em vários esportes e ele não se manteve em nenhum. Aí, ele pediu para colocá-lo na esgrima e está indo muito bem”, conta o pai. “O esporte me ajuda a sempre ter motivação e a sempre continuar a persistir para alcançar meus objetivos”, diz Bryan.

Depois de obter a sua primeira graduação na modalidade, o jovem está sendo preparado por Maicon para as competições internas da academia, antes de ser inserido no campeonato paulista.

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