EM PARIS

Campineiro deixa sua marca na primeira medalha olímpica da história de cabo verde

Robson Luis da Silva, o Robinho, é preparador físico do boxeador David Pinha, o novo herói do país africano

Da Redação
05/08/2024 às 11:33.
Atualizado em 05/08/2024 às 12:48
Davi Pina (esq.), de Cabo Verde, durante combate (Divulgação)

Davi Pina (esq.), de Cabo Verde, durante combate (Divulgação)

Um dos fatos marcantes dos Jogos de Paris foi a conquista da primeira medalha olímpica na história de Cabo Verde. E o feito tem a participação de um campineiro. Robson Luis da Silva, o Robinho, que saiu do interior paulista para trabalhar e se especializar em Portugal, é o preparador físico do boxeador David Pina, o novo herói da pequena ilha africana. Robinho está em sua primeira Olimpíada depois de uma trajetória, literalmente, marcada por muitas lutas.

"É a realização de um sonho estar aqui. Ainda não caiu a ficha", disse o campineiro de 43 anos em entrevista ao Esportes Já, direto da Vila Olímpica, na véspera da estreia de David Pina. A pugilista Marine Câmara, do Mali, derrotada na primeira luta, também foi preparada por Robinho.

"A Vila é uma energia fora do comum. Aqui encontramos nossos ídolos e pessoas de todo mundo em busca do mesmo objetivo. É um lugar para fazer conexões", define o filho de pedreiro com uma doméstica, que cresceu ao lado de outros três irmãos e se tornou um estudioso do esporte de luta.

Robinho vive em Portugal, para onde se mudou em novembro de 2022. Ele embarcou sozinho. "Foi algo planejado durante um ano. Vi que era possível ter um diploma PhD europeu", diz ele, que faz doutorado na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (Fadeup) e trabalha como preparador físico da seleção portuguesa de boxe, reativada recentemente. Ao mesmo tempo, prepara boxeadores imigrantes, como a dupla que conseguiu classificação para Paris.

Os dois atletas, o técnico e o preparador físico formam um quarteto de lutadores, em diversos sentidos. "A Marine vem de duas cirurgias nos ombros e, após se recuperar, foi morar em Portugal. Hoje, reside na academia do Bruno, que é referência no boxe nacional", conta Robinho. "Já o Pina, que participou dos Jogos de Tóquio. Por diversas vezes pensou em desistir por não ter recursos para treinar, mas o Bruno o encoraja e o ajuda", detalha o brasileiro.

Robinho conheceu Bruno quando decidiu se envolver com o boxe em Portugal, embora o kung fu faça parte de sua vida desde os primeiros passos no universo da luta. "Maiores oportunidades, tanto de pesquisa quanto de projeção financeira, estão em modalidades profissionais e olímpicas. E, dessas, me identifico mais com o boxe", diz, justificando a mudança, lembrando que o kung fu não integra o programa das Olimpíadas.

No país europeu, a saudade de casa e as dificuldades em se consolidar profissionalmente o levaram a pensar em desistir várias vezes. "Ensaiei um retorno, voltei e fiquei quatro meses no Brasil", explica. "Mas quando saiu a decisão de reativar a seleção de boxe de Portugal, resolvi me arriscar novamente."

Em Campinas, um dos momentos mais difíceis que passou foi durante uma enchente em 2001, quando tinha 20 anos e iniciava sua trajetória de competições no kung fu. Ele morava no Jardim do Lago 2 com os pais e viu parte da casa desabar. Ninguém se feriu, mas ficou a marca do drama com a perda dos poucos bens materiais que a família possuía.

Sua entrada no universo da luta aconteceu na adolescência. "Em um sábado, saí de casa disposto a começar a praticar uma modalidade. Na época, queria fazer capoeira, mas encontrei uma academia de kung fu. Fiz a aula experimental e foi amor à primeira vista. A partir de então, não parei mais", conta. O empenho e a determinação compensaram a falta de recursos dentro do plano em evoluir no esporte. De atleta e competidor, passou a ser treinador e formou alguns campeões.

O envolvimento com a vida acadêmica foi o passo seguinte, mas os obstáculos não cessavam. "A conquista de uma bolsa de estudos veio em uma última tentativa de proposta, que mandei para a faculdade de Jaguariúna (Unifaj – centro universitário de Jaguariúna). Já estava quase desistindo, mas consegui 50% de desconto na mensalidade", lembra. O curso de Educação Física foi encaminhado na base do "malabarismo", com buscas de alternativas para conseguir 100% de bolsa e eventuais paralisações em função de imprevistos. No final, o processo foi concluído com êxito.

O objetivo em se aprofundar em pesquisas ainda conduziu Robinho para Piracicaba, onde fez mestrado na Universidade Metodista (Unimep). Os passos seguintes foram em direção a Portugal e, na sequência, França. "Tudo foi planejado, mas acontecendo na base do 'improvável, é possível, eu acredito'. Sempre idealizei chegar em uma Olimpíada como parte de uma comissão técnica. E aqui estou", finaliza.

HERÓI

David Pina conquistou a torcida em Paris com seu cabelo no formato de orelhas do Mickey, mas também chamou a atenção pela técnica dentro do ringue. Ele garantiu o bronze ao vencer Patrick Chinyemba, da Zâmbia, nas quartas de final, na última semana. Na semifinal, mesmo perdendo para o uzbeque Hasanboy Dusmatov, entrou para a história de Cabo Verde (no boxe, os dois semifinalistas derrotados garantem uma medalha). "Eu fiz pelo meu país porque nós merecemos."

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