Thiago auxilia para que o médico, aprimore os cuidados já adotados por uma boa alimentação e prática de exercícios (Divulgação)
O esporte muitas vezes obriga o atleta a exercer múltiplas tarefas. Auxiliar em missões que muitas vezes não estariam em seu radar em condições normais. Tal condição é vivida pelo lutador de Muay Thai, Thiago Augusto de Lima, 31 anos. O currículo é imenso: campeão mundial na Tailândia, currículo com mais 50 lutas e vencedor de muitos prêmios.
A partir de 2018, a sua decisão foi a de exercer a função de treinador. Abraçou a missão de treinar toda e qualquer pessoa. E quando o pupilo é alguém designado a salvar vidas? Pois um destes alunos é o médico-cirurgião José Gonzaga Teixeira de Camargo, médico cirurgião geral e professor na Faculdade de Medicina da PUC-Campinas.
Thiago auxilia para que o médico, responsável por cuidar da saúde de outras pessoas, aprimore os cuidados já adotados de viabilizar uma boa alimentação e prática de exercícios para encontrar-se pronto para os desafios da medicina. Com os treinos de Muay Thai, o médico de 57 anos não tem receio em afirmar que tais atividades lhe dão equilíbrio, disciplina e confiança para os desafios da profissão. De acordo com o médico, o interesse pelas artes marciais surgiu desde criança, quando frequentava uma academia para praticar judô. Posteriormente, ao entrar na adolescência, cresceu o interesse pelo Karatê.
A partir do instante em que começou a frequentar a Faculdade de Medicina, seus olhos foram direcionados ao jiu-jitsu e ao boxe. A prática foi interrompida por causa de uma estadia de um ano na Espanha. No retorno ao Brasil, Gonzaga começou a praticar muay thai. Não foi difícil, para que anos depois, o cirurgião se interessasse pelo mundo e bastidores do MMA. “Quando tinha o Max Fight, eu era o médico do Max Fight de vários Max Fighters. Tudo por amor à camisa e amizade mesmo”, disse o médico.
Gonzaga não parou de treinar e de aprimorar e a prática de modalidades marciais é essencial para viabilizar o seu alto rendimento como médico tanto nas consultas como nas cirurgias. “É que na verdade é parte integrante da minha vida. É como tomar banho”, disse o médico.
O médico dá exemplos práticos de como os treinamentos de Muay Thai auxiliam na tomada de decisões do seu cotidiano. “Isso (treinamento) me ajuda muito porque me faz pensar nos momentos de estresse. Eu tenho calma para decidir uma série de coisas e ajuda muito na confiança. Dificilmente as situações me intimidam”, explicou.
Em contrapartida,o lutador Thiago Lima considera que todos esses efeitos positivos no cotidiano do seu aluno são fruto de sua dedicação nos treinamentos”.A diferença dos médicos comuns para o Gonzaga, é que ele treina forte todos os dias, até mesmo mais do que muitos competidores. Treinamos sparring todos os dias, às vezes acertamos golpes mais fortes e ele não se importa, inclusive preciso ficar esperto senão apanho”, disse o lutador de maneira humorada. “Mas tomamos muito cuidado para ninguém se machucar”, completou Thiago, que carinhosamente chama Gonzaga de “doutor Porrada”.
O lutador complementa que os treinos exigem atenção e cuidado nos mínimos detalhes. “Quando treino médicos, minha atenção e cuidado são maiores com as mãos, para evitar lesões, mas isso não os impede de treinar e fazer todos os movimentos”, arrematou.
A medicina exige uma rotina desgastante. Juntamente com as funções de diretor da Escola de Ciências da Vida da PucCampinas, em algumas ocasiões pode acontecer de que não haja possibilidade de Gonzaga encontrar-se com Thiago para os treinos. As consequências, de acordo com o médico, são inevitáveis. “Meu humor muda e o corpo pede. A gente sente falta. Fico bem menos engraçado”, afirmou Gonzaga, que relembra das consequências quando precisou operar o joelho em três oportunidades.
Atualmente, além de Thiago Lima, Gonzaga tem uma equipe que engloba Rafael Furlan, responsável pelos treinamentos e Edson Gomes do wrestling. A equipe engloba também um preparador físico.
Com tantas qualidades enumeradas, o cirurgião geral repudia o preconceito sofrido pelas modalidades de artes marciais em relação a um possível nível exacerbado de violência. O médico afirma que nem tudo é o que parece ser. “O marido de uma amiga minha vai operar a face porque em um jogo de futebol tomou uma cabeçada. Um outro amigo operou o ombro jogando futebol. Quando você joga futebol, o jogo é solto e em dessas viradas você se machuca. (Nas lutas) você já está preparado para levar os golpes. Então você sabe se defender disso desde que sejam parceiros de treino. E essa é uma das coisas muito importantes da arte marcial você respeitar. Teu parceiro está cedendo o corpo dele para você aprender”, explicou.
Utilizar o esporte como uma maneira de socialização é uma forma de aproveitarse dos fatores positivos do May e das artes marciais, segundo Gonzaga. “Não importa o seu tamanho, o seu peso e sua idade. Tem sempre alguém que vai se aproveitar da tua anatomia para treinar um golpe. Você sabe umas coisas que não se ensina mais. Esse encontro de gerações ajuda muito a socializar. Muitas vezes presenciamos mãe com os filhos para treinar”, explicou.
O médico fala com orgulho que suas filhas Lívia e Laura, ambas matriculadas em cursos de direito, seguem seu exemplo nas lutas. “ A Lívia faz Muay Thai, a Laura faz jiu-jitsu e minha esposa (Renata) que é cardiologista também treina”, disse o médico, satisfeito pelo compartilhamento em família de sua paixão.
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