Palco de duas finais de Campeonato Brasileiro e da decisão do Campeonato Paulista de 1988, o Brinco de Ouro faz parte de capítulos importantes da história do futebol nacional (Divulgação)
“Brinco de Ouro para a Princesa”. Esse foi o título de uma reportagem publicada no dia 13 de julho de 1948 no Jornal Diário do Povo, assinada pelo jornalista João Caetano Monteiro Filho. A publicação fazia alusão à maquete do novo estádio do Guarani que havia sido apresentada dois dias antes. Surgia, assim, o nome daquele que viria a se tornar um dos maiores e mais tradicionais estádios do interior do Brasil. O Brinco de Ouro completa nesta quarta-feira (31) 70 anos de história.
No título da histórica reportagem, Monteiro Filho comparou o formato circular do futuro estádio a um brinco e fez um trocadilho com o "apelido" da cidade de Campinas, que é Princesa D'Oeste. O nome se popularizou como Brinco de Ouro da Princesa e foi oficializado na denominação do estádio projetado pelos arquitetos modernistas Oswaldo Corrêa Gonçalves (Riviera de São Lourenço) e Ícaro de Castro Mello. A inauguração foi no dia 31 de maio de 1953 com o jogo em que o Guarani venceu o Palmeiras por 3 a 1.
A chuva que caiu no dia impediu a realização de uma solenidade programada para o gramado, que precisou ser adiada. Mas a partida aconteceu, com o time campineiro entrando em campo ao som da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes. Goleiro do time campineiro naquele dia, Paulo Martorano hoje mora em Ribeirão Preto. Com 90 anos e ainda lúcido, ele lembra de alguns detalhes de sua passagem pelo clube.
“Eu estudava e defendia o Ateneu Paulista. De lá, fui para o Guarani”, conta Paulo, que apenas relata problemas no joelho quando questionado sobre sua saúde. Ele foi o primeiro jogador do Guarani convocado para a seleção brasileira principal, em 1956. De Campinas, se transferiu para o São Paulo e depois para o futebol mexicano. Sobre o Brinco de Ouro, ele lembra que morou no estádio e que em alguns jogos a bola “caía na rua”, pois a arquibancada de madeira da cabeceira sul (a do portão de entrada) era baixa.
No jogo de inauguração, as cabeceiras foram improvisadas com material proveniente do antigo estádio do clube. Já o setor das vitalícias e sociais com a cobertura, e a geral (a parte debaixo do tobogã hoje) estavam concluídas. Um dos presentes na arquibancada naquela tarde foi Pedro Santucci, ex-vice-presidente do Guarani nos anos 70, então com 15 anos de idade. Hoje, ele tem 84. “Augusto marcou gol naquele jogo. Veio do São Paulo, grande centroavante”, lembra Santucci. Nilo e Dido também marcaram para a equipe campineira, enquanto Lima fez para o Palmeiras.
O estádio foi construído na chamada “Baixada do Proença” em um terreno de 50 mil metros quadrados que o Guarani havia adquirido em 1947 como parte da negociação envolvendo o terreno do Guanabara, onde ficava o antigo estádio do clube. A construção começou em 1950. E da inauguração, em 1953, até o início dos anos 1980 a “taba” bugrina passou por diversas transformações. Entre 1958 e 1962, foi erguida a cabeceira norte (do placar) e construída as primeiras piscinas; em 1966 foi inaugurado o sistema de iluminação; no início dos anos 1970 foi concluída a cabeceira sul e no começo dos anos 1980 surgiu o tobogã. O estádio ainda chegou a ter alambrado entre o fosso e o gramado nos anos 1960.
Palco de duas finais de Campeonato Brasileiro, em 1978 e em 1987 (referente à competição do ano anterior), e da decisão do Campeonato Paulista de 1988, o Brinco de Ouro faz parte de capítulos importantes da história do futebol nacional. O recorde de público foi registrado no dia 15 de abril de 1982, quando 52.002 torcedores assistiram a vitória do Flamengo sobre o Guarani por 3 a 2 pelas semifinais do Brasileiro. Oito anos depois, o número de pessoas presentes no estádio chegou bem próximo do recorde. Mais de 51 mil torcedores estiveram nas arquibancadas no amistoso em que o Brasil venceu a Bulgária por 2 a 1 em 4 de maio de 1990. Hoje, a capacidade foi reduzida para 29.130 por medidas de segurança.
Atualmente, o Brinco de Ouro se aproxima do seu desaparecimento. O estádio foi vendido e a tendência é de que em seis anos o espaço seja ocupado por empreendimentos imobiliários. O valor da venda foi de R$ 105,5 milhões. Desse montante, R$ 60 milhões foram destinado para pagamento de dívidas trabalhistas e o restante, R$ 45,5 milhões, está sendo pago em 130 parcelas de R$ 350.000 de setembro de 2015 a julho de 2026. No acordo, está previsto ainda a construção de um novo estádio, além de um CT e um clube social.
* Em 70 anos, o Guarani jogou no Brinco um total de 1.846 partidas. Foram 966 vitórias, 507 empates e 373 derrotas, com 3.032 gols marcados e 1.751 sofridos.
*O milésimo gol do Guarani no Brinco foi contra o Paulista de Jundiaí, em 22/2/1976, na vitória por 2 a 0. André foi o autor do gol aos 2 minutos do 2º tempo.
*O gol de número 2.000 foi de Fábio Augusto aos 3 minutos do 2º tempo na vitória contra o Vasco da Gama por 2 a 1 em 17/09/1994; já o gol de número 3.000 foi de Diego Mateus aos 26 do 2º tempo na vitória contra o Criciúma por 1 a 0 em 27/04/2022.
*O São Paulo foi adversário que mais vezes visitou o Brinco de Ouro: 80 jogos. E também o time que mais venceu o Bugre em seu reduto (35 vitórias).
*A Portuguesa de Desportos é o adversário que mais sofreu derrotas dentro do Brinco (37). E também o que mais gols sofreu do Guarani (118 gols).
*Quem mais empatou com o Guarani em jogos no Brinco é a Ponte Preta, com 32 empates.
*Os onze maiores artilheiros do Bugre no Brinco são: 1º - Careca: 80 gols; 2º - Jorge Mendonça: 56 gols; 3º - Fumagalli: 55 gols; 4º - Osvaldo: 49 gols; 5º - Renato e Fifi: 44 gols; 7º - Neto: 41 gols; 8º - Zenon: 39 gols; 9º - Villalobos: 38 gols; 10º Américo Murolo e Paulo Leão: 37 gols
*As maiores goleadas: 22/01/1958 – Guarani 8 a 2 Ferroviária – Campeonato Paulista; 30/04/1978 – Guarani 7 a 0 Itabuna/BA – Campeonato Brasileiro; 04/02/1982 – Guarani 8 a 0 River/PI – Campeonato Brasileiro; 07/02/1982 – Guarani 8 a 1 Ceará – Campeonato Brasileiro; 02/10/1986 – Guarani 8 a 2 Piauí/PI – Campeonato Brasileiro; 05/12/1993 – Guarani 8 a 2 Remo/PA – Campeonato Brasileiro
*Maior série invicta no Brinco: 34 jogos entre 30/03/1978 (Guarani 2 a 1 Bahia) até 24/02/1979 (Guarani 2 a 2 XV de Piracicaba). Foram 25 vitórias (sendo 15 consecutivas) e 9 empates, com 73 gols marcados, contra 16 gols sofridos.
*Em 2014 o Brinco recebeu apenas duas partidas do Guarani com um empate e uma derrota. A Seleção da Nigéria utilizou o gramado reformado do Brinco de Ouro para se preparar à Copa do Mundo de Futebol em nosso país.
*PESQUISAS DE CELSO FRANCO DE OLIVEIRA
Construção do Brinco de Ouro (Divulgação)