ESPERANÇA RENOVADA

Brasil vai em busca do hexa

O objetivo não é apenas voltar a disputar uma final. A meta é conquistar o título

Ronnie Romanini
21/11/2022 às 09:08.
Atualizado em 21/11/2022 às 09:08
Torcedores animados já marcam locais para acompanhar as partidas da Seleção Brasileira, que estreia na Copa do Mundo diante da Sérvia, na quinta-feira, às 16 horas. Em Campinas, a Prefeitura instalou um mega-telão no Largo do Rosário para a população acompanhar os jogos da Copa do Mundo do Catar (Freepick)

Torcedores animados já marcam locais para acompanhar as partidas da Seleção Brasileira, que estreia na Copa do Mundo diante da Sérvia, na quinta-feira, às 16 horas. Em Campinas, a Prefeitura instalou um mega-telão no Largo do Rosário para a população acompanhar os jogos da Copa do Mundo do Catar (Freepick)

O Brasil entra em campo na quinta-feira (24), às 16h, para enfrentar a Sérvia na estreia da Copa do Mundo do Catar. Será o pontapé inicial em busca do hexacampeonato, 20 anos após a última conquista mundial da Seleção. Sem o título, o Brasil igualará o período de 24 anos de jejum vivido após o tricampeonato no México em 1970 e encerrado apenas em 1994 com o tetra nos Estados Unidos.

Além disso, desde que o Brasil foi penta, apenas europeus venceram a Copa do Mundo (Itália, Espanha, Alemanha e França). Em 2006, 2010 e 2018 a Seleção parou nas quartas. Em 2014 foi mais longe: semifinalista, porém a derrota para a Alemanha por 7x1 em pleno Mineirão deixou um gosto ainda mais amargo do que as eliminações mais precoces.

Com um caminho não tão simples na Copa do Mundo do Catar, que começou no domingo (20), o objetivo não é apenas voltar a disputar uma final. A expectativa é a de levantar o título e superar os tropeços - e trauma - de Copas passadas.

Para conseguir o feito, o técnico Tite, em suas últimas (sete?) partidas à frente da Seleção, conta com veteranos como Daniel Alves (que não foi para a Rússia em 2018, mas esteve em 2014 e 2010) e Thiago Silva, que foi convocado para as últimas três Copas, com Neymar, o maior jogador do futebol brasileiro dos últimos anos indo para a sua terceira - e última? - Copa aos 30 anos e em um bom início de temporada. Ainda há jogadores que estiveram na Rússia em 2018 e retornam para a segunda, casos de Alisson, Ederson, Danilo, Marquinhos, Casemiro, Fred e Gabriel Jesus.

O Brasil também conta com estreantes em Copas que estão em excelente fase, principalmente do meio-campo para frente. Com um nível bastante equilibrado entre titulares e reservas, muito pode acontecer na escalação para a primeira partida e na sequência da Copa do Mundo. Paquetá jogará de segundo volante e Vini Jr. será promovido ao time titular? Raphinha será mesmo o titular na ponta direita? Richarlison conseguirá garantir a titularidade com a concorrência de Gabriel Jesus e Pedro? O fato é que nem mesmo Tite conseguirá ficar 100% satisfeito com os 11 iniciais. São muitos jogadores com potencial de estarem entre os 30 melhores do mundo por alguns anos, mas sem espaço para todos. Desde Kaká, em 2007, o Brasil não tem um jogador considerado o melhor do mundo pela Fifa. 

Nove dos onze jogadores ofensivos têm 25 anos ou menos. É a geração que mal se lembra do penta, ou que nem era nascida, que terá a missão de buscar o hexa para marcar o nome na história. E, quem sabe, iniciar um novo período de hegemonia da Seleção.

2006

Quatro anos antes pentacampeão com a "família Scolari", e com Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho comandando o time, o ânimo para 2006 não podia ser maior. O técnico era Carlos Alberto Parreira e o os laterais Cafu e Roberto Carlos ainda eram titulares. No ataque, o quadrado mágico fez história mais pela expectativa do que pelo que foi entregue. Sem Rivaldo, que não foi convocado, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho - melhor do mundo nos dois anos anteriores - recebiam a companhia de Kaká e Adriano. Ainda havia Robinho como opção no banco de reservas, uma das maiores promessas do futebol mundial à época e que já estava no Real Madrid.

Com críticas à forma física dos jogadores e ao oba-oba, a preparação para a Copa do Mundo não foi a ideal. Mesmo assim o Brasil somou três vitórias consecutivas, 1x0 contra a Croácia, 2x0 contra a Austrália e 4x1 em cima do Japão, partida em que Parreira poupou alguns jogadores e viu o Brasil ter uma boa atuação. Nas oitavas de final, 3x0 em cima de Gana com um icônico gol do Fenômeno, seu último em uma Copa do Mundo.

Classificada às quartas, o Brasil encontrou a França, a última equipe que havia batido a Seleção em Copas do Mundo, justamente na final de 1998. Após a famosa final, o Brasil venceu todas as partidas do pentacampeonato em 2002 e as quatro do mundial de 2006. Mas, mais uma vez, Zinedine Zidane eliminou o Brasil. Mesmo que o único gol da partida tenha sido marcado por Thierry Henry, Zizou foi o grande nome do jogo na antepenúltima partida da carreira, assim como no primeiro título francês em 1998.

Embora as imagens nostálgicas do quadrado mágico e da Seleção de 2006 despertem nos mais jovens uma sensação de que o Brasil era imparável, não foi. Os problemas na preparação, jogadores fora de forma, um esquema tático insuficiente para conquistar o título marcaram a participação no Brasil em 2006.

2010

Querendo superar o oba-oba, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apostou em Dunga para o novo ciclo de olho na Copa da África do Sul. Dunga assumiu com um perfil mais rígido, criando rusgas com e por meio da imprensa e apostando em uma estratégia mais fechada tanto dentro como fora de campo. A Seleção, mais renovada, não contava mais com jogadores que marcaram época, como Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e até Adriano (Grafite foi o centroavante convocado para a reserva de Luís Fabiano). Kaká também estava longe da sua melhor condição física. Os apelos da torcida para que Ganso e Neymar, em grande forma no Santos, fossem convocados não surtiu efeito.

Durante a fase de grupos o Brasil venceu dois jogos (Coreia do Norte 2x1 e 3x1 sobre a Costa do Marfim) e, além de Luís Fabiano, Elano se destacava com dois gols marcados. Uma lesão contra a Costa do Marfim tirou o jogador do campeonato e Daniel Alves foi o substituto nos jogos seguintes. No último jogo da fase de grupos, o Brasil empatou em 0x0 com Portugal. Nas oitavas, venceu o Chile por 3x0 e se classificou para enfrentar a Holanda, que seria finalista daquela Copa e contava com jogadores experientes e consagrados, como Van Bommel, Van Bronckhorst, Dirk Kuyt, Sneijder, Robben e Van Persie.

Um gol anulado e outro validado de Robinho ainda no começo do jogo, além de outras boas chances no primeiro tempo, mostraram que a classificação poderia acontecer. No segundo tempo, em dois lances de bola aérea, a Holanda virou. No primeiro, Sneijder cruzou. Felipe Melo e Júlio César se atrapalharam e a bola entrou. No segundo, Sneijder, baixinho e sozinho na pequena área, mal precisou saltar para cabecear para o fundo da rede. A Seleção se descontrolou e Felipe Melo, autor da assistência para Robinho, foi expulso após um pisão em Robben. Sem controle emocional e sem opções para mudar o jogo, o Brasil foi eliminado.

2014

Um ciclo iniciado por Mano Menezes com expectativa de renovação e tendo Neymar como a principal estrela. Pouco mais de dois anos depois, Luiz Felipe Scolari assumiu o lugar de Mano com a missão de levar mais uma vez a Seleção ao título, desta vez em uma Copa do Mundo no Brasil. A conquista da Copa das Confederações de 2013 no Maracanã, com um 3x0 sobre a forte Espanha, campeã da Copa de 2010, fez com que muitos acreditassem ser possível o Hexa no ano seguinte. O Brasil se classificou na fase de grupos com 7 pontos ao lado do México (venceu a Croácia por 3x1 e o Camarões por 4x1), mas foi a partida contra o Chile nas oitavas de final que evidenciou o Brasil como um azarão para vencer a competição. Os dois sul-americanos empataram no tempo normal, 1x1, na prorrogação o Chile quase elimina o Brasil, mas nos pênaltis a Seleção da casa se classificou.

O Brasil encarou outro sul-americano nas quartas, a Colômbia, e venceu por 2x1, mas com uma péssima notícia. Neymar, autor de quatro gols na competição, sofreu uma falta dura que o tirou da Copa do Mundo com uma lesão na terceira vértebra lombar. A semifinal contra a Alemanha no Mineirão tornou-se histórica pelo placar de 7x1. Aos 21 minutos o jogo estava 1x0 para Alemanha. Aos 28, 5x0. Foram quatro gols marcados em menos de sete minutos e o solitário tento de Oscar pelo Brasil aconteceu apenas aos 45 do segundo tempo. Além de Neymar, Thiago Silva, suspenso, não enfrentou a seleção europeia.

2018

Como se o 7x1 não bastasse a CBF promoveu o retorno de um velho conhecido para o ciclo de 2018: Dunga. Ainda traumatizada pela goleada humilhante sofrida em uma Copa no Brasil, a Seleção não começou bem as Eliminatórias e ficou atrás de Equador e Peru na fase de grupos da Copa América Centenário. Terminava ali - ao menos por enquanto - a história de Dunga na Seleção Brasileira. A partir disso, havia apenas um nome que contava com grande apoio popular e que merecia a oportunidade: Adenor Leonardo Bacchi, o Tite.

Tite comandou o Brasil em 12 jogos nas Eliminatórias. Foram dez vitórias e dois empates, trinta gols marcados e apenas três sofridos. Em sua primeira partida, ele escalou o jovem Gabriel Jesus como titular. Foram dois gols do garoto de 19 anos na vitória por 3x0 sobre o Equador. A boa sequência do então jogador do Palmeiras fez com que ele garantisse um lugar na Copa do Mundo da Rússia em 2018 e como titular.

Na Copa do Mundo, o Brasil empatou com a Suíça na estreia (1x1) e venceu por 2x0 a Costa Rica e a Sérvia. Nas oitavas, bateu o México pelo mesmo placar. Até que veio a tão falada "Geração Belga", com Eden Hazard, Kevin de Bruyne, Romelu Lukaku, Thibaut Courtois entre outras estrelas. Sem Casemiro, suspenso, o Brasil perdeu uma peça importante no time titular e não conseguiu vencer a Bélgica. Mesmo saindo perdendo por 2x0, a Seleção mostrou que poderia ter vencido a partida. Renato Augusto, que entrou no segundo tempo, diminuiu a diferença no placar e pouco depois quase empatou o jogo. Courtois, com boas defesas, impediu a reação do Brasil mesmo com um segundo tempo superior.

Ironizada por muitos, a Geração Belga foi a algoz do Brasil em 2018. Tite, que foi a salvação nas Eliminatórias, foi criticado. Jesus, que terminou a Copa do Mundo sem gols, também. Na quinta-feira, o Brasil estreia com a ambição de resgatar a hegemonia no futebol e de conquistar um título depois de 20 anos. Em sete jogos, 26 atletas buscarão imortalizar os seus nomes na história da Seleção Brasileira.

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