As histórias e façanhas de um jogador que encantou pontepretanos na década de 1950
Hoje residente em Campinas, Atis Monteiro está presente na história da Ponte Preta como um dos três jogadores que anotaram três gols em um único Dérbi. Após pendurar chuteiras, ele teve diversos estabelecimentos comerciais e nunca abriu mão de tomar café com os amigos no centro da cidade (Kamá Ribeiro)
O mês é tempo de reverenciar os 250 anos de Campinas e seus personagens. O futebol não pode ser esquecido. Clube fundado em 1900, a Ponte Preta foi o palco para o surgimento de um herói discreto, capaz de comover plateias e que levou a Macaca a vitórias históricas. Após aposentar-se, decidiu levar uma vida comum, sem alarde ou gestos de vaidade. Os torcedores não o esqueceram. Sempre fizeram questão de lembrar o protagonismo e as façanhas de Atis Monteiro, hoje com 92 anos e que foi atacante da Ponte Preta na década de 1950.
Em um tempo de jogadores midiáticos e de gente que não sai dos holofotes quando deixa os gramados, até amigos e parentes próximos demoraram um tempo para se acostumarem com a discrição adotada pelo ex-jogador. "Ele nunca foi de falar muito com a gente sobre essas coisas (a carreira de jogador). Essas histórias eu ouvia mesmo em rodas de conversa dele no clube. Ele nunca se gabou por isso (tempo de jogador)", disse o filho Guilherme Monteiro, que reforça a aptidão demonstrada pelo pai no basquete. "Ele jogava muito bem pela Ponte Preta. Mas resolveu ficar no futebol porque dava mais dinheiro", completou.
Com 25 gols em 59 jogos na Ponte Preta, Atis Monteiro ostenta dois fatos que justificariam qualquer resquício de orgulho. Satisfação também demonstrada pelas passagens na Portuguesa e no Fluminense. A marca principal, entretanto, foi na Ponte Preta.
O primeiro feito ocorreu no dérbi realizado no dia 6 de julho de 1952. A Ponte Preta venceu o Guarani por 4 a 0, no estádio Moisés Lucarelli e Atis Monteiro fez três gols e Sabará completou o placar. Atis fez o gol inaugural com 30 segundos de jogo, anotou o segundo aos 45 minutos da etapa inicial e sacramentou a atuação de gala aos nove minutos do segundo tempo. Sabará fez o quarto aos 23 minutos da etapa final.
O jogo era integrante de um triangular com o Bangu do qual a Macaca sagrou-se campeã. Só outros dois jogadores anotaram três gols em um dérbi com a camisa da Ponte Preta. O primeiro foi Gigena, no dia 11 de outubro de 2003, em um clássico que terminou com vitória pontepretana por 3 a 1 no estádio Brinco de Ouro. Weldon, por sua vez, marcou três gols no dia 10 de julho de 2004 em outro triunfo por 3 a 1, dessa vez no estádio Moisés Lucarelli. Os dois jogos foram válidos pelo Campeonato Brasileiro. Apesar do ineditismo, Guilherme Monteiro relata que o pai nunca colocou tal tema como uma de suas prioridades nas conversas. "Se você puxa esse assunto com ele, a resposta é que ele fez três gols e nenhum foi de pênalti", contou o filho.
Apesar da marca relevante, Atis Monteiro nunca destilou ódio e ressentimento contra o Guarani. Pelo contrário. "Ele fala que o Guarani era uma coisa boa para Ponte Preta e que um puxa o outro", assegurou Guilherme Monteiro.
Atis Monteiro não fincou apenas o dérbi na sua galeria de feitos. Ele esteve presente no primeiro amistoso internacional, contra o Estudiantes de La Plata, da Argentina. A Macaca venceu por 2 a 0, no Majestoso. O confronto foi realizado no dia 17 de fevereiro de 1952 e foi importante porque arrecadou fundos para a conclusão das obras do Moisés Lucarelli.
Nunca faltaram tentativas de Atis Monteiro levar uma vida normal, quase anônima, apesar de sua marca na história da Ponte Preta. Primeiro com a instalação de lojas e pontos comerciais em Campinas. Depois, já aposentado, não abria mão de tomar café com os amigos no centro da cidade.
As tentativas de discrição são inúteis diante do tamanho de Atis Monteiro na história da Ponte Preta, segundo o historiador e estudioso da história da Ponte Preta, José Moraes dos Santos Neto. "A fase do amadorismo já tinha ido embora. Mas o Atis é alguém que nasceu Ponte Preta e jogou na Ponte. Isso já é um diferencial. Tem o segundo diferencial que é marcar três gols em um Dérbi. Você conta nas mãos quem fez isso", afirmou Neto.
O legado de Atis Monteiro, segundo Neto, só não tem maior divulgação em virtude de um defeito da própria sociedade brasileira. "Isso é do Brasil, que é um país sem preservação da memória", lamentou.
Neste contexto adverso, contar com pessoas que tenham a capacidade de descrever detalhes dos feitos de um jogador da envergadura do Atis Monteiro é algo precioso. Um deles é o jornalista Zaiman de Brito Franco, um conhecedor da história de Campinas, da Ponte Preta e de Atis Monteiro. Testemunha de atletas que marcaram época como Zuza e Benê, que atuaram pelo Guarani, de Moacir e Lelé, Zaiman coloca Atis Monteiro em um capítulo especial da história pontepretana. Ele relembra que Zezé Moreira, ao assistir a um jogo da Portuguesa contra o Corinthians, ficou encantado com Atis, mas só não o levou para a Copa do Mundo da Suíça, em 1952, porque ele teve uma lesão. "No fim, ele levou o Paulinho do Botafogo e o Índio do Flamengo", afirmou Zaiman.
O jornalista não esqueceu ainda as histórias que cercam o jogador enquanto vestia a camisa da Macaca. "Ele foi retirado de um baile de gala do Tênis Clube no velho Teatro (Municipal) na véspera de um Dérbi. Os dirigentes souberam que ele havia fugido da concentração e foram buscá-lo", recordou.
Atual primeiro vice-presidente da Ponte Preta, Marcos Garcia Costa, relembra que assistiu ao surgimento de Atis Monteiro desde o time amador (atual categoria de base). "Tive o privilégio de vê-lo atuar pelo time de basquetebol da Ponte Preta pelos idos do início da década de 50 e sendo vice-campeão paulista em um jogo decisivo contra o Corinthians e com o time pontepretano sendo prejudicado pela arbitragem na época", disse.
No gramado, o dirigente pontepretano tem na memória as características de jogo do ex-atacante. "Ele tinha mobilidade, visão de jogo, criatividade e enorme facilidade para esbanjar categoria. Não se abatia quando os zagueiros tentavam intimidá-lo, algo que era comum no futebol daquela época", disse. Exemplar dentro e fora de campo, segundo Marcos Garcia Costa, o centroavante e armador Atis Monteiro viabilizou uma boa quantia de recursos para a Ponte Preta, quanto foi transferido para a Portuguesa por uma quantia em dinheiro e mais o passe do centroavante Nininho, que já era morador em Campinas, na Vila Industrial.
Entre idas e vindas, a família de Atis Monteiro fica sAtisfeita pela consideração que o clube mostra com o patriarca. "Sempre fazem homenagem e chamam meu pai. Tem uma parede pintada inteira com a foto do meu pai com um trecho escrito na própria Ponte Preta. Quando tem festa sempre dão relógio de presente, ele faz discurso. Não se esquecem dele", disse Guilherme Monteiro. Se a instituição não esquece, os torcedores mais velhos têm a mesma reverência em relação a Atis Monteiro e fazem questão de transmitir suas façanhas para as próximas gerações.
O mês é tempo de reverenciar os 250 anos de Campinas e seus personagens. O futebol não pode ser esquecido. Clube fundado em 1900, a Ponte Preta foi o palco para o surgimento de um herói discreto, capaz de comover plateias e que levou a Macaca a vitórias históricas. Após aposentar-se, decidiu levar uma vida comum, sem alarde ou gestos de vaidade. Os torcedores não o esqueceram. Sempre fizeram questão de lembrar o protagonismo e as façanhas de Atis Monteiro, hoje com 92 anos e que foi atacante da Ponte Preta na década de 1950.
Em um tempo de jogadores midiáticos e de gente que não sai dos holofotes quando deixa os gramados, até amigos e parentes próximos demoraram um tempo para se acostumarem com a discrição adotada pelo ex-jogador. "Ele nunca foi de falar muito com a gente sobre essas coisas (a carreira de jogador). Essas histórias eu ouvia mesmo em rodas de conversa dele no clube. Ele nunca se gabou por isso (tempo de jogador)", disse o filho Guilherme Monteiro, que reforça a aptidão demonstrada pelo pai no basquete. "Ele jogava muito bem pela Ponte Preta. Mas resolveu ficar no futebol porque dava mais dinheiro", completou.
Com 25 gols em 59 jogos na Ponte Preta, Atis Monteiro ostenta dois fatos que justificariam qualquer resquício de orgulho. Satisfação também demonstrada pelas passagens na Portuguesa e no Fluminense. A marca principal, entretanto, foi na Ponte Preta.
O primeiro feito ocorreu no dérbi realizado no dia 6 de julho de 1952. A Ponte Preta venceu o Guarani por 4 a 0, no estádio Moisés Lucarelli e Atis Monteiro fez três gols e Sabará completou o placar. Atis fez o gol inaugural com 30 segundos de jogo, anotou o segundo aos 45 minutos da etapa inicial e sacramentou a atuação de gala aos nove minutos do segundo tempo. Sabará fez o quarto aos 23 minutos da etapa final.
O jogo era integrante de um triangular com o Bangu do qual a Macaca sagrou-se campeã. Só outros dois jogadores anotaram três gols em um dérbi com a camisa da Ponte Preta. O primeiro foi Gigena, no dia 11 de outubro de 2003, em um clássico que terminou com vitória pontepretana por 3 a 1 no estádio Brinco de Ouro. Weldon, por sua vez, marcou três gols no dia 10 de julho de 2004 em outro triunfo por 3 a 1, dessa vez no estádio Moisés Lucarelli. Os dois jogos foram válidos pelo Campeonato Brasileiro. Apesar do ineditismo, Guilherme Monteiro relata que o pai nunca colocou tal tema como uma de suas prioridades nas conversas. "Se você puxa esse assunto com ele, a resposta é que ele fez três gols e nenhum foi de pênalti", contou o filho.
Apesar da marca relevante, Atis Monteiro nunca destilou ódio e ressentimento contra o Guarani. Pelo contrário. "Ele fala que o Guarani era uma coisa boa para Ponte Preta e que um puxa o outro", assegurou Guilherme Monteiro.
Atis Monteiro não fincou apenas o dérbi na sua galeria de feitos. Ele esteve presente no primeiro amistoso internacional, contra o Estudiantes de La Plata, da Argentina. A Macaca venceu por 2 a 0, no Majestoso. O confronto foi realizado no dia 17 de fevereiro de 1952 e foi importante porque arrecadou fundos para a conclusão das obras do Moisés Lucarelli.
Nunca faltaram tentativas de Atis Monteiro levar uma vida normal, quase anônima, apesar de sua marca na história da Ponte Preta. Primeiro com a instalação de lojas e pontos comerciais em Campinas. Depois, já aposentado, não abria mão de tomar café com os amigos no centro da cidade.
As tentativas de discrição são inúteis diante do tamanho de Atis Monteiro na história da Ponte Preta, segundo o historiador e estudioso da história da Ponte Preta, José Moraes dos Santos Neto. "A fase do amadorismo já tinha ido embora. Mas o Atis é alguém que nasceu Ponte Preta e jogou na Ponte. Isso já é um diferencial. Tem o segundo diferencial que é marcar três gols em um Dérbi. Você conta nas mãos quem fez isso", afirmou Neto.
O legado de Atis Monteiro, segundo Neto, só não tem maior divulgação em virtude de um defeito da própria sociedade brasileira. "Isso é do Brasil, que é um país sem preservação da memória", lamentou.
Neste contexto adverso, contar com pessoas que tenham a capacidade de descrever detalhes dos feitos de um jogador da envergadura do Atis Monteiro é algo precioso. Um deles é o jornalista Zaiman de Brito Franco, um conhecedor da história de Campinas, da Ponte Preta e de Atis Monteiro. Testemunha de atletas que marcaram época como Zuza e Benê, que atuaram pelo Guarani, de Moacir e Lelé, Zaiman coloca Atis Monteiro em um capítulo especial da história pontepretana. Ele relembra que Zezé Moreira, ao assistir a um jogo da Portuguesa contra o Corinthians, ficou encantado com Atis, mas só não o levou para a Copa do Mundo da Suíça, em 1952, porque ele teve uma lesão. "No fim, ele levou o Paulinho do Botafogo e o Índio do Flamengo", afirmou Zaiman.
O jornalista não esqueceu ainda as histórias que cercam o jogador enquanto vestia a camisa da Macaca. "Ele foi retirado de um baile de gala do Tênis Clube no velho Teatro (Municipal) na véspera de um Dérbi. Os dirigentes souberam que ele havia fugido da concentração e foram buscá-lo", recordou.
Atual primeiro vice-presidente da Ponte Preta, Marcos Garcia Costa, relembra que assistiu ao surgimento de Atis Monteiro desde o time amador (atual categoria de base). "Tive o privilégio de vê-lo atuar pelo time de basquetebol da Ponte Preta pelos idos do início da década de 50 e sendo vice-campeão paulista em um jogo decisivo contra o Corinthians e com o time pontepretano sendo prejudicado pela arbitragem na época", disse.
No gramado, o dirigente pontepretano tem na memória as características de jogo do ex-atacante. "Ele tinha mobilidade, visão de jogo, criatividade e enorme facilidade para esbanjar categoria. Não se abatia quando os zagueiros tentavam intimidá-lo, algo que era comum no futebol daquela época", disse. Exemplar dentro e fora de campo, segundo Marcos Garcia Costa, o centroavante e armador Atis Monteiro viabilizou uma boa quantia de recursos para a Ponte Preta, quanto foi transferido para a Portuguesa por uma quantia em dinheiro e mais o passe do centroavante Nininho, que já era morador em Campinas, na Vila Industrial.
Entre idas e vindas, a família de Atis Monteiro fica sAtisfeita pela consideração que o clube mostra com o patriarca. "Sempre fazem homenagem e chamam meu pai. Tem uma parede pintada inteira com a foto do meu pai com um trecho escrito na própria Ponte Preta. Quando tem festa sempre dão relógio de presente, ele faz discurso. Não se esquecem dele", disse Guilherme Monteiro. Se a instituição não esquece, os torcedores mais velhos têm a mesma reverência em relação a Atis Monteiro e fazem questão de transmitir suas façanhas para as próximas gerações.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram