Lisca diz que aceitou o apelido por ser louco por futebol, mas avisa: sem conteúdo não se sacode um vestiário
Lisca diz que aceitou o apelido por ser louco por futebol, mas avisa: sem conteúdo não se sacode um vestiário (Carlos Sousa Ramos)
Lisca Doido, mas com conteúdo. Essa pequena adaptação se aplica ao apelido de Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi. O gaúcho de 45 anos, que ajudou o Guarani a evitar o rebaixamento para a Série C, admite a irreverência, mas garante que tem muito mais a oferecer. Em entrevista exclusiva ao Correio Popular, o treinador fala sobre os prós e contras do personagem e conta em que pé está a renovação com o Guarani. O quanto o Lisca tem realmente de doido e o quanto isso é folclore? Sou doido pelo que faço, apaixonado e realizado por ser treinador de futebol. Comecei com 18 anos nas escolinhas do Internacional. Aceitei o apelido por causa do amor pelo que faço. Passo muito isso aos jogadores, de ter paixão. Não comecei no futebol para ganhar dinheiro, foi por paixão. Por isso sou doido. Você é rotulado por sacudir o vestiário, mas é possível perceber um bom trabalho de campo. Como lidar com isso? É normal, no nosso futebol não se fala em metodologia de treinamento. E, na verdade, ninguém chega e sacode o vestiário se não tem conteúdo. A sacudida é no dia a dia, nos treinamentos propostos. O jogador precisa ver que está evoluindo, que o que está sendo passado tem nexo, faz a equipe crescer. Eu sou um melhorador de performance. Esse é o grande papel do treinador e que muitas vezes é esquecido. Mas, quando te procuram, esperam esse cara que mexe com o vestiário... De vez em quando dou risada porque, quando chego no clube, os caras esperam que eu faça algum espetáculo no vestiário. O dirigente fica esperando um show do Lisca e não é isso que acontece. Tanto é que geralmente antes do jogo fico na minha, não me misturo com os jogadores. O grande líder é aquele que não aparece, mas deixa a sementinha plantada na cabeça dos jogadores. Se ajudei muitos times a saírem de situações difíceis foi por causa do conteúdo e não por ter sacudido o adversário. O que falta para o Lisca ser um técnico de ponta? Oportunidade. Já foi muito difícil eu chegar para treinar o Guarani, ter um mercado mais consolidado na Série B. Essa imagem do Doido também atrapalha um pouco na abertura de mercado. Não conhecem a história, a origem carinhosa do apelido e trancam as portas. Mas é algo que tem melhorado. Estou no futebol paulista, ficando mais conhecido. É um caminho natural. Daqui a pouco, um clube de Série A vai apostar nessa doideira. Em que clubes a história com o apelido atrapalhou? Não fui anteriormente para o Inter por isso, não havia muita confiança por causa dessa coisa de Doido. Era para eu ter ido depois da saída do Argel (em julho de 2016), mas a imagem pegou. O Sport também gosta muito do meu trabalho, mas como tem a rivalidade com o Náutico e teve muita brincadeira na minha passagem lá, isso acabou atrapalhando. Além da briga contra o rebaixamento, o que mais te preocupou ao chegar no Guarani? A autoestima dos jogadores estava muito arranhada. Quando cheguei, o time tinha uma vitória em 17 jogos. Era importante resgatar o orgulho e sentimento de jogar no Guarani. Precisava despertar esse interesse. Ninguém mais joga pela camisa. O Guarani é enorme, mas o jogador que está aqui agora, amanhã não está mais. Tem que achar algo que mexa com a cabeça dos jogadores para eles se mobilizarem. Conseguimos isso. Há expectativa por sua renovação com o Guarani. Hoje, de 0 a 10, qual a chance de acerto? Por mim, 10, mas vou aguardar a diretoria. Fizemos um contrato emergencial de 45 dias e deu tudo certo. Espero definir logo a situação e dar sequência ao trabalho. No meu planejamento, já voltamos dia 18 de dezembro para treinar para a Série A2. Está bem encaminhado, não sou um treinador caro. Você quer um trabalho com começo, meio e fim para afastar o rótulo de 'bombeiro'. Continuar no Guarani pode ser o primeiro passo para isso? Pode, mas não só aqui. Nos últimos dois, três anos optei por não treinar ninguém nos Estaduais. Estadual é complicado porque você queima uma etapa e perde a sequência pro Brasileiro. Mas em 2018 optei por aceitar essa pré-proposta do Guarani e tentar o acerto. Se não for possível, vou procurar realizar a montagem do elenco em outro clube. Treinador foi à Justiça contra o Paraná O ano de 2017 termina positivo para Lisca, mas de um momento da temporada o técnico não guarda lembranças positivas. Mais especificamente, o dia 2 de setembro. Acusado de agredir o então auxiliar Matheus Costa com um soco no rosto na concentração em Belo Horizonte, o treinador foi demitido pelo Paraná horas antes da partida contra o Atlético-MG, pela semifinal da Copa da Primeira Liga. Ao Correio Popular, Lisca falou sobre o assunto, negou as acusações e disse que tudo foi orquestrado por um grupo de seis pessoas que o boicotaram para tocar o time sem a presença dele. Lisca assumiu o Paraná em julho, com o time na 10ª posição da Série B. Após oito jogos e 62% de aproveitamento, foi demitido com a equipe no 5º lugar. "Isso já está na Justiça e será clareado. Óbvio que não aconteceu nenhuma agressão. O Matheus é um menino que eu tinha como irmão, que eu considerava, mas é a pessoa mais dissimulada que conheci na vida. Devo ser muito ruim de soco porque não ficou nenhuma marca nele. É uma mentira deslavada e isso será provado." Na visão do técnico do Guarani, o grupo de seis pessoas — Matheus e mais cinco, que ele prefere não dizer quem são — tramaram a suposta agressão para que ele fosse demitido. "Quando o clube me contratou, a briga era para não cair. Quando viram que o clube tinha condições de subir, inventaram a agressão. Essas seis pessoas resolveram me tirar e assumir um trabalho que eu vinha fazendo há 50 dias. O que eles fizeram, não se faz com ninguém."