CORAÇÃO ALVINEGRO

Um goleiro sem 'papas na língua'

Em sua passagem pela Ponte, Roberto criou inimizades com dirigentes, mas aprendeu a amar o clube

Alison Ramalho Negrinho
30/04/2018 às 20:01.
Atualizado em 28/04/2022 às 07:17
Vice-campeão da Sul-Americana, Roberto lamenta não ter sido o primeiro capitão a levantar um título de expressão pelo clube: "Chorei" (Cedoc/RAC)

Vice-campeão da Sul-Americana, Roberto lamenta não ter sido o primeiro capitão a levantar um título de expressão pelo clube: "Chorei" (Cedoc/RAC)

A passagem do goleiro Roberto Volpato pela Ponte Preta ficou marcada na história. Vice-campeão da Sul-Americana e da Série B, ele amargurou ainda um rebaixamento no Brasileirão de 2013 e criou inimizades com dirigentes, talvez por seu jeito sincero, sem ‘papas na língua’. A mágoa, entretanto, se restringe a alguns nomes, porque, em relação ao clube, o sentimento é de um imenso carinho, desses raros no futebol. Ainda jovem, Roberto começou no Criciúma, e em seu peito batia um coração vascaíno. Mesmo assim, os 105 jogos e as diversas vezes em que carregou a braçadeira de capitão fizeram com que a alvinegra ganhasse um importante espaço. "Sinto muita saudade. Esse time nunca vai sair da minha cabeça. Entre outras coisas, eu sempre quis ter uma bandeira minha em um clube e o dia que eu vi isso na Ponte, me marcou muito. É um carinho imenso", disse Roberto. A caminhada para chegar até a Macaca, porém, não foi fácil. Enquanto adversário, o atleta já via despertar uma vontade de defender as cores da equipe pelo fato da trajetória alvinegra ser semelhante a sua, caracterizada por muita raça e dedicação. Ele então passou a ligar para Gilson Kleina (treinador do time na época) para levá-lo. "Eu enchi o saco mesmo, era uma oportunidade grande." O que era apenas um desejo de jogar no time se transformou em algo maior. Roberto se consolidou como titular ao praticar lindas defesas. Em meio à boa fase, teve a chance de ser campeão da Sul-Americana em 2013, mas viu o título escapar por entre os dedos, após a derrota para o Lanús, da Argentina, por 2 a 0 no segundo jogo da final — o embate de ida terminou 1 a 1. "Alguns atletas sentirem mais pressão e outros menos é normal, não significa que pipocaram. O Lanús era bom. Não perdemos para um cachorro morto", falou, antes de completar: "Sabe o que seria pra mim ser o primeiro capitão a levantar um título de expressão da Ponte? Eu ficaria marcado pro resto da vida. Quando acabou o jogo, lembro que cheguei no vestiário e, depois da reza, fui pro banheiro. Fechei a porta e só chorei. Aí passou o filme da minha carreira, de tudo que lutei para viver aquele momento. Foi uma tristeza muito grande." Para chegar até a decisão, a Macaca superou Criciúma, Deportivo Pasto (Colômbia), Vélez Sarsfield e São Paulo. Ir tão longe não estava nos planos. "O objetivo da diretoria era só participar e colocar o time num jogo internacional", conta. Ao mesmo tempo, a Ponte penava na luta contra o rebaixamento no Brasileirão. Segundo Roberto, alguns dirigentes chegaram a cogitar que o time fosse eliminado na Sul-Americana para se concentrar apenas na Série A. "Começou um papo de time misto porque não podia cair por causa das finanças. Mas deviam ter pensado nisso lá no primeiro jogo contra o Criciúma, não antes da semifinal com o São Paulo." Rebaixada ao término do nacional, o goleiro acertou para seguir no clube, com o objetivo de colocá-lo novamente na elite. Dito e feito. Após grande campanha, a Macaca subiu de divisão e quase ficou com a taça. "Infelizmente perdemos o título, mas saí com o dever cumprido." Diretores torciam contra na Sul-Americana, diz jogador Se por um lado Roberto possui grande apreço pela Ponte, por outro foram inúmeros os episódios complicados que ele vivenciou no clube. O goleiro conta que pouco após sua chegada, percebeu que alguns dirigentes não o queriam lá. "Para renovar de 2012 para 2013 foi uma luta. Me impuseram algumas coisas que não aceitei. Eles queriam determinar que eu revezasse com goleiro da base. Eu sempre joguei por méritos, se o mais novo queria entrar em campo, que treinasse e fosse melhor", relembra. Na Copa Sul-Americana os problemas também apareceram. "Alguns dirigentes não queriam que fôssemos campeões. Fizeram tanta besteira que conseguiram atrapalhar na final. Se eles não ajudassem, não tinha problema, mas tiveram uns que prejudicaram e sabem disso." Durante 2014, o jogador esteve próximo de ir para o Palmeiras, mas não quis deixar o clube pela porta dos fundos, quando pessoas envolvidas no negócio sugeriram que ele forçasse uma saída. "Meu contrato tinha uma cláusula que eu poderia ir embora se recebesse uma oferta que a Ponte não pudesse cobrir. Falei para fazerem a proposta que eu iria sem problemas. Depois fiquei sabendo que teve uma interferência da diretoria. Pediram para o Palmeiras não fazer a proposta porque eles não conseguiriam me segurar e a torcida iria se revoltar". Roberto seguiu no clube e, para sua surpresa, foi dispensado ao término do ano. "Fizeram tudo pra me segurar e eu aceitei, não fiz guerra nenhuma. Aí acaba a Série B e me mandam embora? Foram covardes. Questionei os diretores, que se não me queriam, deveriam ter me liberado pro Palmeiras. Simplesmente me deram um chute na bunda. Me jogaram pela porta dos fundos, mas eu saí de cabeça erguida."

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