Nunes participou de campanhas históricas, como o acesso à Série A do Brasileiro em 1997 e a subida para a elite do Paulista em 1999 (Arquivo Pontepress)
A estreia de Carlo Ancelotti como técnico da Seleção Brasileira teve um componente inesperado que chamou a atenção dos pontepretanos mais atentos. Logo na apresentação de sua comissão técnica, realizada na segunda-feira (26), o consagrado treinador fez questão de destacar os nomes escolhidos para acompanhá-lo na missão de resgatar o prestígio da Amarelinha. Entre eles, um nome com raízes profundas na história da Ponte Preta: Cristiano Nunes.
O profissional de 51 anos, que iniciou sua trajetória no futebol como atleta da base da Macaca nos anos 1990, foi escolhido para ser o novo preparador físico da Seleção. E, embora o cargo possa parecer coadjuvante para o grande público, internamente, sua nomeação é vista por dirigentes da Ponte como mais do que uma conquista pessoal: é símbolo de um projeto que, ainda que entre altos e baixos, continua tentando posicionar o clube como um formador de talentos não apenas dentro das quatro linhas, mas também nas áreas técnicas e administrativas do futebol.
Cristiano Nunes chegou ao estádio Moisés Lucarelli como jogador em 1993, mas logo percebeu que sua vocação estava fora das quatro linhas. Incentivado a seguir os estudos, ele passou a se dedicar à preparação física e assumiu, ainda jovem, a categoria sub-17. Seu talento logo foi notado por Marco Antonio Eberlin, então diretor da base, que não hesitou em promovêlo ao elenco profissional no final daquela década.
Ali, ao lado de técnicos como Abel Braga, Vadão e Ivo Secchi, Cristiano Nunes participou de campanhas históricas: o acesso à Série A do Brasileiro em 1997, a subida da A2 para a elite do Paulista em 1999 e o terceiro lugar na Copa do Brasil em 2001 — até hoje a melhor campanha da Macaca no torneio. Em 2003, ele foi convidado por Abel Braga para assumir a preparação física do Flamengo e iniciou uma carreira sólida em grandes clubes do país, sempre reconhecido por sua dedicação, metodologia moderna e postura discreta.
Mesmo com a longa distância, a ligação com a Ponte Preta permaneceu. Cristiano Nunes teve outras duas passagens pelo clube, como coordenador técnico, em 2007 e 2016. A amizade com Eberlin também permaneceu — tanto que, ao saber da nomeação do preparador para a Seleção, o presidente pontepretano não escondeu o orgulho. "Ele é uma referência no que faz. E tudo começou aqui, com a gente. Cristiano é um profissional de personalidade forte, cobra como poucos e tem o respeito dos atletas", afirmou Eberlin.
A escolha de Cristiano para a comissão de Ancelotti, além de premiar uma carreira sólida, carrega um simbolismo importante para a Ponte. Em tempos em que o clube tenta se firmar como plataforma de talentos e se equilibrar entre as dificuldades do calendário e as pressões da torcida, ver um ex-integrante da casa na Seleção é combustível emocional para o projeto de revelar não apenas jogadores, mas profissionais de alto nível em todas as áreas.
"Esse é o nosso esforço permanente: identificar, formar e oferecer oportunidades. Temos médicos, fisioterapeutas, analistas e agora um nome nosso na Seleção. Isso inspira e dá respaldo à política de valorização interna", reforçou Eberlin.
O dirigente admite, porém, que os desafios são grandes. A cultura do imediatismo, a alta rotatividade dos elencos e o impacto das redes sociais tornam cada erro uma crise e reduzem o tempo de amadurecimento dos profissionais. "É difícil segurar alguém bom. Quando vai bem, recebe proposta de fora. Quando erra, a torcida quer a cabeça. Mas seguimos tentando, mesmo assim."
Na atual temporada, a Ponte Preta segue firme na disputa da Série C e terá, na próxima segunda-feira, mais um desafio contra o Ypiranga, no Moisés Lucarelli. Fora de campo, a diretoria continua o trabalho para manter viva a chama formadora que marcou a história do clube. O caminho de Cristiano Nunes até a Seleção é, para muitos, mais um lembrete de que a vocação da Macaca para revelar talentos segue viva, mesmo longe dos holofotes.
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