no mar

Poliana transforma medo em sucesso

Primeira nadadora brasileira a conquistar uma medalha olímpica na natação, Poliana Okimoto é referência na maratona aquática

Alison Negrinho
12/06/2018 às 09:31.
Atualizado em 28/04/2022 às 12:27
Poliana conta que pensou em parar: "Eu tinha que acordar às 4h para treinar antes da aula. Era uma vida sofrida para uma criança" (Alison Negrinho/AAN)

Poliana conta que pensou em parar: "Eu tinha que acordar às 4h para treinar antes da aula. Era uma vida sofrida para uma criança" (Alison Negrinho/AAN)

O medo do mar que se transformou em paixão. A cada braçada, o pavor de animais marinhos dava espaço à esperança de que era possível fazer história na maratona aquática. E como fez. Primeira nadadora brasileira a conquistar uma medalha olímpica na natação, Poliana Okimoto é referência na modalidade não só no País, mas também no exterior. Todo esse reconhecimento, porém, veio cercado de muita dedicação, suor e noites mal dormidas. A história da paulistana sempre esteve entrelaçada com a natação. Juntamente com os primeiros passos vieram também as primeiras braçadas, apenas para aprender, sem propósito algum de competir. Até que aos 7 anos, encantada com o esporte, passou a treinar, para não parar mais. "Tudo na minha vida foi acontecendo muito rápido. Com 13 anos eu já estava ganhando minha primeira medalha em Troféu Brasil. A principal dificuldade era encontrar patrocínio, meu pai teve que investir muito. Lá atrás eu não tinha garantia de nada, foi tudo na coragem, então quando olho para o passado vejo que valeu a pena", contou Poliana. Por ter se destacado cedo, a nadadora precisou conciliar a vida estudantil com a de atleta. Dos 12 aos 17 anos, foi necessário bastante força de vontade para não desistir. "Eu tinha que acordar às 4h para treinar antes da aula, depois ia para escola, voltava e treinava mais. Era muito desgastante, uma vida sofrida para criança. Várias vezes pensei em parar, porque realmente os sacrifícios são altos, só que foram momentos que me tornaram uma pessoa melhor. Nós somos feitos de desafios e obstáculos". Cercada de expectativa, Poliana conseguiu bons resultados dentro das piscinas, tanto nas provas curtas quanto nas longas. Até que o marido e treinador, Ricardo Cintra, percebeu que ela tinha grande capacidade aeróbia e poderia se dar bem na maratona aquática. "Ele disse que minha resistência era muito grande, então as provas de maratona seriam melhores para mim". Prata nos Jogos Pan-Americanos de 2007 e 2011, ela também levou o ouro no Campeonato Mundial em 2013. Nenhum destes momentos, entretanto, foi mais marcante que o bronze conquistado nos Jogos Olímpicos de 2016. Na ocasião, Poliana terminou em quarto lugar a prova realizada na praia de Copacabana e herdou a medalha depois que a francesa Aurelie Muller, que seria a terceira colocada, foi desclassificada. "Fiz a melhor prova da minha vida, eu não tinha como dar mais duas braçadas. Cheguei realmente exausta, então quando veio a notícia da medalha, foi uma forma de merecimento por toda a carreira que tive, tudo que treinei em toda minha vida. Com o quarto lugar eu não estava frustrada, porque dei meu máximo, mas ganhar uma medalha olímpica no seu País é para poucos atletas, veio para coroar”. Medo do mar Para brilhar na maratona aquática, Poliana precisou superar seu medo do mar. Segundo ela, o que mais lhe assustava eram os animais marinhos. "Eu tinha medo de tudo o que era bicho. Tubarão, peixe, arraia...", revelou. Para a ex-atleta, as principais dificuldades na modalidade acontecem por conta da natureza. "É algo que não dá para controlar. Em um dia o mar pode estar agitado, no outro calmo. Tem correnteza, água fria, tempestade no meio de uma prova. Tudo isso pode acontecer e são fatores que a gente não tem controle nenhum". Temporada de 2013 foi especial na carreira da atleta O ano de 2013 foi especial para Poliana Okimoto. No Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos, em Barcelona, ela conseguiu um brilhante desempenho ao levar a medalha de prata na Maratona de 5 km.  Dias depois, a paulistana se tornou campeã mundial ao ficar com o ouro na prova de 10 km. Para completar, ganhou o bronze na maratona de 5 km por equipe, também na Espanha. Ainda no mesmo ano, Poliana foi eleita pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), como a melhor maratonista aquática brasileira. O prêmio foi seu quinto na modalidade, já que anteriormente venceu em 2006, 2007, 2009 e 2011. "Foi um momento que para mim, como pessoa e atleta, se mostrou fundamental. Porque no ano anterior eu tive uma frustração muito grande na minha carreira e 2013 veio para me dar confiança de que eu realmente poderia ganhar uma medalha olímpica", disse. A frustração citada pela ex-atleta aconteceu nos Jogos Olímpicos de 2012, disputados em Londres (Inglaterra), quando sofreu uma hipotermia que a fez desistir na quinta volta, das seis previstas no lago Serpentine, no Hyde Park. "Depois disso eu fiquei em depressão, parei de nadar, então 2013 foi a volta por cima", explicou. Anos depois, o bom momento foi celebrado com a conquista da medalha de bronze nos Jogos do Rio, em 2016. O bom desempenho rendeu a entrada no Hall da Fama das Maratonas Aquáticas, se tornando a primeira mulher nadadora brasileira a ser incluída no seleto grupo. “Foi uma coisa que eu jamais esperava e no final do ano que fui indicada fiquei super feliz, foi um momento muito especial, de reconhecimento não só dentro do Brasil, mas também internacional”, completou. DICAS A pedido do Correio, Poliana deu algumas dicas para quem pretende praticar a maratona aquática: O apoio dos pais é fundamental para as crianças. Meus pais sempre tiveram comigo. O sacrifício não é só do atleta, é também da família, então é preciso ajudar. A criança deve persistir e conseguir tirar forças dos momentos negativos, porque sempre depois de uma tempestade vem a calmaria. É necessário ter força, muita vontade e foco naquilo que quer conquistar.

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