Uma das primeiras aparições de Pelé no Brinco de Ouro (Reprodução/Facebook)
Pelé marcou seus últimos gols pelo Santos contra o Guarani e encerrou a carreira como jogador do Peixe contra a Ponte Preta. Ao longo dos anos, o Rei do Futebol passou por Campinas outras vezes. Em uma delas, na década de 1990, ele não calçava chuteiras, mas marcou um golaço de simplicidade e humildade.
Me permitam contar essa história:
O repórter é escalado para cobrir a passagem de Pelé por Campinas.
O Rei está na cidade para gravar um comercial para TV na antiga estação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
Ao chegar, o repórter se depara com uma pequena multidão. Curiosos, profissionais envolvidos na produção, colegas da imprensa regional e nacional. Todos súditos
Com simpatia além de uma atitude protocolar, o Rei aproveita qualquer pausa nas gravações para atender os fãs. Conversa com os jornalistas em uma entrevista coletiva improvisada, antes de retornar ao trabalho como garoto-propaganda.
Aos poucos, com o avançar das gravações, a antiga plataforma ferroviária vai se esvaziando.
Poderia ser o fim de uma história a ser registrada no currículo da vida como “o dia em que conheci o Pelé”. Se o repórter pretendesse se gabar, poderia acrescentar: “e entrevistei o Pelé”
Mas o repórter resolve ficar. Não voltou para a redação. Permaneceu ali, à espreita, na esperança de encontrar algo além da pauta sobre a visita do Rei do Futebol e a gravação de um comercial de TV na cidade de Campinas.
E foi ficando. E ficando. Ninguém notava a presença do intruso. A equipe de gravação estava ocupada demais e, surpreendentemente, Pelé não andava com assessores, nem seguranças.
Chegou a hora do almoço. A fila de pessoas com um prato nas mãos se formou rapidamente. Se serviram, um a um. Em poucos minutos, todos os lugares à mesa enorme e retangular, preparada para a refeição, foram preenchidos.
O repórter varreu a estação com os olhos à procura do Rei. Olhou para a fila, nada. Para a mesa, nem sinal. “Talvez ele já tenha ido embora”. “Ou almoçar em algum bom restaurante”, pensou.
Pronto para deixar o local e retornar à redação, arriscou um derradeiro olhar pela centenária plataforma, onde finalmente encontrou a quem procurava...
Sentado sobre um caixote, prato no colo, Pelé comia tranquilamente. Entre uma garfada e outra, ainda conversava com alguns meninos da região, tão intrusos no set de gravação quanto o próprio repórter.
Não houve tempo para uma abordagem. Um produtor esbaforido resgatou o Rei de seu trono menos nobre.
Pelé se deixou levar até à mesa farta com a mesma tranquilidade com a qual “batia seu pratão” em um canto quase escondido do set de filmagem.
Não reclamou, nem fez cara feia após ter sido ‘abandonado’. Apenas agradeceu pela atenção, ainda que tardia, e terminou o almoço.
Maior jogador de futebol deste planeta - e provavelmente dos outros - Pelé foi gigante.
Nesse dia, para esse repórter, ficou um pouco maior.
NÚMEROS DO REI
TÍTULOS
Pela Seleção Brasileira:
✔ Copa do Mundo: 1958, 1968 e 1970
✔ Copa Rocca: 1957 e 1963
✔ Sul-Americano Militar: 1959
✔ Copa Oswaldo Cruz: 1958, 1962 e 1968
✔ Copa Bernardo O'Higgins: 1959
Pelo Santos:
✔ Mundial de Clubes: 1963 e 1963
✔ Taça Libertadores: 1962 e 1963
✔ Recopa Sul-Americana: 1968
✔ Recopa Mundial: 1968
✔ Campeonato Brasileiro: 1961, 1962, 1963, 1964, 1965 e 1968
✔ Torneio Rio-São Paulo: 1959, 1963, 1964 e 1966
✔ Campeonato Paulista: 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968, 1969 e 1973
✔ Troféu Mário Echandi (Costa Rica): 1959
✔ Torneio Pentagonal do México: 1959
✔ Troféu Tereza Herrera (Espanha): 1959
✔ Torneio de Valência (Espanha): 1959
✔ Troféu de Gialorosso (Itália): 1960
✔ Torneio de Paris (França): 1960 e 1961
✔ Torneio Triangular da Costa Rica: 1961
✔ Torneio Pentagonal de Gadalajara (México): 1961
Torneio Itália: 1961
✔ Torneio Hexagonal do Chile: 1965 e 1970
✔ Torneio de Caracas (Venezuela): 1965
✔ Torneio Quadrangular de Buenos Aires (Argentina): 1965
✔ Torneio de Nova York (Estados Unidos): 1966
✔ Torneio Triangular de Florença (Itália): 1967
✔ Torneio da Amazônia: 1968
✔ Torneio Octagonal do Chile: 1968
✔ Torneio Pentagonal de Buenos Aires (Argentina): 1968
✔ Torneio de Cuiabá: 1969
✔ Torneio Triangular da Guatemala: 1970
✔ Torneio de Kingston (Jamaica): 1971
✔ Troféu Independência: 1972
Pelo Cosmos:
✔ North American Soccer League: 1977
JOGOS E GOLS:
Jogos: 1.364
Gols: 1.282
Jogos pelo Santos: 1.116
Gols pelo Santos: 1.091
Jogos pela Seleção: 113
Gols pela Seleção (contas da Fifa): 77
Gols pela Seleção (total): 95