Ismael Henrique e Sueli Santiago são amigos de arquibancadas (Arquivo pessoal)
Acompanhar o dérbi a distância e sem sentar nas arquibancadas reservadas aos visitantes no estádio Moisés Lucarelli é um fato que atormenta o torcedor do Guarani para o confronto marcado para às 18 horas deste domingo, em jogo válido pela Série B do Campeonato Brasileiro. Desde 2018, com a instituição da torcida única, os torcedores adotam estratégias para acompanhar os jogos e com isso transmitir força aos jogadores. O último jogo em que a torcida do Guarani esteve presente no campo do adversário foi no dia 24 de março de 2012, quando os times empataram por 1 a 1. Na ocasião, foi celebrado o centenário de existência da partida.
O jeito é adaptar-se à nova realidade. O comerciante Ismael Henrique, de 41 anos, relata que sua rotina durante a semana de preparação para o jogo é comparecer aos eventos realizados pelas torcidas organizadas e participar do processo de apoio aos jogadores, principalmente em um evento intitulado “Corredor Verde” em que os atletas são saudados antes de irem ao jogo. “É importante que a torcida esteja envolvida”, disse Ismael Henrique, que confessa a dificuldade de entrar em contato com amigos e conhecidos pontepretanos neste período. “Eu prefiro estar em contato com os torcedores bugrinos”, disse Ismael Henrique.
A representante comercial Sueli Aparecida Santiago, de 61 anos, não é muito diferente de Ismael e de outros torcedores envolvidos na partida. Ela intensifica os contatos com os torcedores presentes em grupos de aplicativos de mensagem. Assim como Ismael, sua determinação é estabelecer o menor vínculo possível com os torcedores pontepretanos. “Praticamente não converso. Até um cliente meu que é do time adversário eu procuro não visitar até para não abordar o assunto. Às vezes a gente mistura as estações”, afirmou Sueli.
Com a realidade da torcida única presente, Sueli Santiago não foge da realidade e procura ficar a mais conectada possível. “Geralmente eu faço reuniões com os amigos mais chegados. Já tivemos a chance de nos reunirmos com um grupo de até 50 pessoas. Só que tivemos algumas perdas nos últimos anos e o grupo foi diminuindo”, afirmou a representante comercial. “Eu, por exemplo, vou assistir ao jogo com mais quatro pessoas”, disse Sueli Santiago. “Infelizmente, não podemos comparecer no estádio da nossa principal rival. Então, eu assisto em família ou junto com a torcida”, completou Ismael Henrique.
Apesar dos obstáculos colocados, Ismael enfatiza a capacidade de superação dos torcedores em procurar alternativas para sustentar a paixão acesa, mesmo com a instituição da torcida única. O quadro, segundo ele, poderia ser melhor. “A diretoria poderia encontrar-se mais próxima da torcida. Se existisse um chamado ou convocação, a torcida estaria pronta para viver o dérbi com maior intensidade. Mas parece que eles não querem a festa da torcida”, lamentou o torcedor bugrino.
O tabu de 14 anos sem vencer no campo do adversário não é algo que intimide a dupla de torcedores. Pelo contrário. Os dois amigos acreditam que com Bruno Pivetti no banco de reservas, a postura será bem diferente. “Ele traz uma sensação de que o trabalho de motivação será melhor, pois ele vai falar da importância de ganhar”, apostou Ismael Henrique. Sueli Santiago comunga de idêntica visão. “Isso lembra Vadão. Ele era bugrino quando estava aqui e era pontepretano quando estava lá. Mas ele rendeu muito mais como bugrino”, disse. Sob o comando de Oswaldo Alvarez, o Vadão, o Alviverde foi vice-campeão da Série B de 2009 e medalha de prata no Campeonato Paulista de 2012.
Sentimentos, impressões e análises prévias não fazem estes torcedores perder de vista o essencial: ganhar o dérbi é um sentimento único.
