LEMBRANÇA

Há 50 anos, Pelé marcava, no Brinco, seus últimos gols pelo Santos

Silvio Begatti
22/09/2024 às 12:47.
Atualizado em 22/09/2024 às 15:54

O Rei em ação em partida contra o Bugre nos anos de 1960 (Divulgação/Guarani FC)

Estevam Soares, hoje técnico de futebol, era um garoto de 18 anos quando entrou em campo naquele começo de Primavera para disputar uma partida nada comum em seu início de carreira como zagueiro do Guarani. O jovem, aliás, não escondia a tensão. Sua missão no duelo contra o Santos, no Brinco de Ouro, válido pelo Campeonato Paulista de 1974, era parar o maior jogador de todos os tempos: Pelé.

Em campo, o astro marcou duas vezes, uma de pênalti e outra em um chute de longe em cima do goleiro Sérgio Gomes. Nada de extraordinário para quem já havia balançado as redes das formas mais variadas ao longo da carreira, não fosse por um detalhe: os dois gols entraram para a história como os últimos de Pelé com a camisa do Santos. Exatamente hoje, dia 22 de setembro, o duelo que terminou empatado por 2 a 2 completa 50 anos. E quem exibe uma lembrança simbólica, como se fosse um troféu, é Estevam.

Na galeria de camisas de futebol do ex-zagueiro está a usada pelo Rei na icônica partida. "Já tinha pedido a camisa para ele e assim que acabou o jogo não perdi tempo, já peguei das mãos dele", conta o hoje treinador de 68 anos, que conseguiu o “manto” mesmo não estando mais em campo – ele foi expulso aos 41 do primeiro tempo, junto com o zagueiro santista Oberdan.

Na época, no entanto, a alegria do jovem zagueiro no vestiário por ter ganhado a camisa do ídolo retrava um sentimento bem diferente de quando ele entrou em campo horas antes. Estevam conta que o nervosismo começou a bater forte assim que leu os jornais. "Estava estampado em letras garrafais: 'Estevam x Pelé'. A partir daí eu comecei a tremer e senti mesmo a tensão de ter que marcar o principal jogador da história do futebol mundial", comenta.

Em campo, o ex-zagueiro lembra que a concentração por não poder dar espaços a Pelé se misturava com a admiração. Afinal, mesmo com 33 anos (idade já avançada para a época), aquele que entrou para a história como Atleta do Século seguia impressionando com jogadas extraordinárias. O gol que marcou logo aos 10 minutos foi um exemplo. “Ele recebeu a bola na intermediária, bem longe da grande área, pertinho, na minha frente”, conta o marcador. “Pensei que ele fosse tentar o drible, mas não deu nem tempo de fazer nada porque, do nada, ele soltou uma bomba. A bola entrou no ângulo."

Pelé voltou a marcar de pênalti aos 30 do segundo tempo e o Santos abriu 2 a 0 no placar. No entanto, o Guarani conseguiu fazer dois na reta final e o empate teve sabor de vitória para os campineiros. Flamarion, em cobrança de falta, aos 35 minutos, e Amílton Rocha, aos 40’, marcaram os gols bugrinos.

Na história, Pelé atuou contra o Guarani em 31 jogos, com 21 vitórias, seis empates e quatro derrotas. Ao longo dessas 31 partidas, foram 37 gols marcados.

DESPEDIDA

Dez dias depois do empate com o Guarani, o Santos recebeu a Ponte Preta na Vila Belmiro e novamente um time de Campinas fez parte da história de Pelé. A partida, disputada no dia 2 de outubro de 1974, foi a última do ídolo com a camisa do Santos. Oscar, ex-zagueiro pontepretano, esteve em campo.

"Eles queriam municiar o Pelé o tempo todo. Eu ouvia ‘toca no rei, toca no Rei’. Ou seja, queriam que ele encerrasse a carreira fazendo gol", lembra Oscar. Eo Rei ficou 21 minutos em campo. Em seguida, pegou a bola no centro do gramado e se ajoelhou. Oscar foi um dos primeiros a se aproximar do astro nesse momento, com um tapa nas costas. Sua intenção, confessa, era pedir a camisa, mas revela que não teve coragem. Após a saída de Pelé, o Santos marcou duas vezes e venceu por 2 a 0.

No ano seguinte, Pelé foi para o Cosmos, onde ajudou a difundir o futebol nos Estados Unidos.

FICHA DO JOGO 

GUARANI 2 X 2 SANTOS

GUARANI- Sérgio Gomes; Odair, Estevam, Amaral e Cláudio; Flamarion e Alexandre; Amílton Rocha, Afrânio, Jarbas (Washington) e Darcy (Gilberto). Técnico: José Duarte

SANTOS - Cejas; Wilson Campos, Marinho, Oberdan e Zé Carlos; Léo e Brecha (Vicente); Cláudio Adão, Adílson, Pelé e Edu (Mazinho). Técnico: Elba de Pádua Lima (Tim).

Data: 22/09/1974 (domingo) em jogo válido pelo Campeonato Paulista

Gols: Pelé aos 10 do primeiro tempo. Pelé aos 30, Flamarion aos 35 e Amílton Rocha aos 40 do segundo tempo

Público: 18.297 pagantes

Renda: Cr$ 176.051,00

Local: Brinco de Ouro.

Juiz: Edson Walter Pantozzi (SP)

Cartões vermelhos: Oberdan e Estevam aos 41 do primeiro tempo.

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