Um dos sobreviventes da tragédia da Chapecoense, ex-goleiro se torna exemplo de superação
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Nos olhos, um brilho diferente, que expressa toda a gratidão pela vida. Na fala, um tom emocionado, devido ao milagre que passou. Já na mente, as lembranças daquele 29 de novembro de 2016, que chocou o mundo. Prestes a disputar a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional (COL), a delegação da Chapecoense sofreu um desastre aéreo que culminou com a queda do avião e a morte de 71 pessoas. Ao todo, apenas seis sobreviveram, entre eles o então goleiro Jackson Follmann, que faz todo o possível para seguir sua rotina. Depois de grande campanha, onde eliminou equipes como Independiente (ARG), Junior Barranquilla (COL) e San Lorenzo (ARG), os catarinenses chegaram à decisão para encarar os colombianos. O avião decolou de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, com destino a Medellín. A poucos quilômetros da cidade, porém, caiu, naquele que é um dos maiores acidentes aéreos da história. Follmann teve parte da perna direita amputada abaixo do joelho, além de ficar com limitações nos movimentos do tornozelo esquerdo. Pouco após receber alta do hospital vieram os primeiros sinais de sua força de vontade. "Prefiro a vida do que a perna". Cerca de um ano e meio depois da tragédia, o ex-jogador segue seu processo de reabilitação. Com a ajuda de uma prótese para andar, ele garante: consegue fazer tudo que fazia antes. "Eu me sinto muito bem. O processo de reabilitação a gente sabe que é lento, mas cada caso é um caso. Consegui me reabilitar bem, me adaptei com a prótese que hoje, por incrível que pareça, é minha perna boa", disse. Follmann revelou que a maior preocupação era com seu tornozelo esquerdo, que ficou com os movimentos comprometidos. "Por tudo que aconteceu, o trauma...Só que a prótese ajudou nisso também. Eu sempre olhei para frente, nunca tive nenhuma restrição e deu tudo certo. Hoje vejo que com uma perna consigo chegar mais longe do que quando tinha duas". Um novo mundo Quando escapou do acidente com vida, Follmann se deparou com uma realidade totalmente diferente. Ao mesmo tempo em que se mostrava grato, também precisava conviver com olhares de dó por parte de desconhecidos. O ex-atleta, contudo, acredita que isso acontecia por falta de conhecimento sobre a rotina dos deficientes físicos. "Elas (pessoas) não sabem o que é ser um amputado. Esse mundo é muito prazeroso, lógico que as pessoas olham e pensam 'coitado, perdeu a perna', mas não acho que é por maldade que falam, é um mundo prazeroso, em que consigo fazer as coisas. Tanto é que hoje em dia eu dirijo, jogo meu futebol, corro e faço atividades físicas. É claro que eu respeito mais o meu corpo, por tudo que aconteceu comigo. Sei até que ponto posso chegar, só que vivo normalmente, feliz da vida. Tenho orgulho de ser um deficiente físico". Ressaltando que "apenas quer viver sua vida", sem esconder ou exibir a prótese, ele destacou a importância dos que estão ao seu redor. "São fundamentais, não só o pessoal da Chapecoense ou da minha família, mas também outras pessoas. Quero viver minha vida. Então quando é para sair de bermuda eu saio de bermuda, quando tenho que sair de calça eu saio de calça. É algo natural para mim", afirmou Follmann, antes de explicar que também presta auxílio aos que precisarão passar por algo parecido. "Muitas pessoas que vão ser amputadas vem pedir algumas opiniões e isso aconteceu comigo também. Eu tinha diversas dúvidas, então hoje eles vêm até mim com questionamentos. Eu sabia que se tivesse uma boa prótese conseguiria fazer o que já fazia antes". (Colaborou Henrique Hein/AAN)