Quem vê Leandro Vissotto se destacando em quadra, onde marca pontos com extrema facilidade, não sabe que a vida do atleta poderia ter seguido uma trilha diferente
Leandro Vissotto diz que se sente muito bem no Vôlei Renata, seu atual clube: "Fui muito bem recebido, me deram todas as condições" (Leandro Torres)
Quem vê Leandro Vissotto se destacando em quadra, onde marca pontos com extrema facilidade, não sabe que a vida do atleta poderia ter seguido uma trilha diferente. Carioca da gema, ele não tinha o sonho de ser jogador de vôlei, e sim fazer parte do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais). Quis o destino que o oposto do Renata tomasse um caminho diferente e, com suas grandes atuações, fizesse a alegria de milhares de torcedores, ao invés de estar combatendo a violência que assola o Rio de Janeiro. "Eu era muito pequeno e não tinha muita ideia de profissão. Como qualquer garoto de lá, eu tinha o sonho de ser do Bope, mas ainda bem que eu não fui, porque do jeito que está a cidade atualmente, não seria um bom negócio", relembra Vissotto com bom humor. Caçula em uma família de três filhos, o jogador cresceu envolvido com o vôlei por conta de suas irmãs Luciana e Juliana, que praticavam a modalidade na infância. Sua entrada de vez no esporte, porém, aconteceu quando resolveu acompanhá-las em uma peneira para fazer parte da equipe do Flamengo. "Na época eu tinha 1,76m e 12 anos, então o técnico quase que me obrigou a entrar pro time. Foi uma coisa natural, mas a evolução aconteceu de maneira muito rápida", contou o jogador, que em cinco anos já fazia sua estreia como titular na Superliga. O grande desempenho fez com que o atleta passasse por todas as seleções de base. Por outro lado, também foi preciso amadurecer de uma hora para a outra. "Abri mão de tudo praticamente. Eu saía da escola e já ia direto para o treino. Aí, enquanto minhas irmãs treinavam, porque era em horário diferente, eu fazia as lições de casa. O ano inteiro acontecia isso. Conforme fiquei mais velho, meus amigos aproveitavam as festas de fim de ano e eu lá tendo que treinar. Você acaba deixando de lado a juventude pelo esporte." Jogos Olímpicos Pela seleção principal, o oposto conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012 depois de perder a grande final para a Rússia, por 3 sets a 2. Após o duelo, o sentimento era de frustração, mas isso mudou conforme o tempo passou. "Nosso time tinha o foco de ganhar o ouro, então ficou um gosto amargo, mas quando você pensa como é difícil conseguir uma prata olímpica, então tem que ter orgulho sim e ficar feliz pelo resultado. Aquele grupo merecia vencer, só que no esporte nem sempre quem merece é o que leva." Se aquela geração não conseguiu o ouro, a seguinte sim. Em 2016, no Rio de Janeiro, o vôlei brasileiro se sagrou campeão ao vencer a Itália por 3 a 0. Vissotto, porém, não fez parte do grupo e revela mágoa por isso. "Sentimento de decepção, porque a gente abre mão de muita coisa. Minhas filhas nasceram e no outro dia eu estava com a seleção, eu perdi o casamento da minha irmã para viajar com o grupo, não tive lua de mel porque tinha que treinar, e depois isso não é levado em conta." Apesar da tristeza, ele não descarta um retorno. "Eu estava muito bem e não fui chamado naquela vez, então a gente fica meio duvidando dos critérios, mas se a comissão técnica acreditar que eu posso agregar ao grupo, é claro que é sempre uma motivação enorme representar o País." Jogador encarou terremoto e violência de torcida no exterior Depois de ser revelado pelo Flamengo e defender times nacionais como Unisul, Suzano e Minas, Leandro Vissotto partiu para o Exterior. Na Itália, jogou por Latina, Taranto e Trentino, passando ainda por Ural Ufa, da Rússia, Al Arabi, do Qatar e JT Thunders, do Japão. Em todo esse tempo fora do Brasil conquistou vários títulos, como o bicampeonato europeu. Já pela seleção, foi bicampeão da Liga Mundial. Consagrado, decidiu voltar para terras brasileiras e defender o Vôlei Renata. Foram sete anos no exterior até o retorno, que, segundo ele, aconteceu por conta de sua família. "Fiquei muito tempo longe. Minha filha vai fazer 8 anos e começa a entender melhor as situações, a falar que está com saudades dos parentes, tem a questão do frio também. A gente leva mais na boa, mas quando os filhos começam a sofrer com a distância, aí o golpe é pior", explicou. No tempo em que esteve fora, o jogador passou por situações tensas, como uma briga generalizada de torcidas entre gregos, que ultrapassou os limites das arquibancadas e invadiu a quadra, além de terremotos. Um dos tremores em especial foi o mais complicado. "Passei por três terremotos no Japão, e esse em Myanmar, pelo campeonato asiático, foi tenso. Vi que os moradores locais correram, então percebi que o negócio era sério mesmo e também corri." Agora no Renata, ele se mostra completamente readaptado e feliz. "Fui muito bem recebido, me deram todas as condições de estar trabalhando bem, tanto que os resultados estão chegando. Fiz uma temporada bastante regular e, pessoalmente, essa vinda para Campinas foi muito boa". Na Superliga, o oposto avalia como positiva a campanha dos campineiros. "Tivemos altos e baixos, faltou um pouco de regularidade, mas queremos chegar longe." DICAS A pedido do Correio, Leandro Vissotto dá dicas para quem quer praticar vôlei Os pais devem apoiar e incentivar O apoio é fundamental porque o esporte dá muita disciplina. As crianças precisam fazer o que gostam com amor, se amam o vôlei, que façam da melhor maneira