desperdício

Desilusão afasta talento do futebol

A habilidade do amador que joga como meia surgiu cedo. Junto com seus primeiros passos vieram também os primeiros chutes na bola. O que faltou mesmo foram oportunidades para mostrar isso para quem realmente precisava ver

Alison Negrinho
21/04/2018 às 14:35.
Atualizado em 28/04/2022 às 06:24
Matheus Marini ao lado de Ronaldinho Gaúcho no Las Vegas City, dos Estados Unidos, onde se aventurou  (Divulgação)

Matheus Marini ao lado de Ronaldinho Gaúcho no Las Vegas City, dos Estados Unidos, onde se aventurou (Divulgação)

Talento de sobra, só que cercado de desilusões com o futebol, ao ponto de preferir se afastar e apenas trabalhar. A história de Matheus Marini se confunde com a de milhares de jovens espalhados nos campos de várzea de todo o Brasil. De drible fácil, boa visão de jogo e potentes chutes de direita, o garoto de 21 anos sempre chama atenção nos campeonatos que disputa. Os mais curiosos se perguntam por que ele não está em nenhum clube profissional, mas desconhecem a trajetória do campineiro, que foi do céu ao inferno: recebeu elogios de Zico ao jogar com Ronaldinho Gaúcho e Adriano Imperador, ao mesmo tempo em que passou por dificuldades nos Estados Unidos e viu dirigentes pedirem dinheiro para que ele permanecesse no time. A habilidade do amador que joga como meia surgiu cedo. Junto com seus primeiros passos vieram também os primeiros chutes na bola. O que faltou mesmo foram oportunidades para mostrar isso para quem realmente precisava ver. Ele passou por testes em clubes como Guarani, Ponte Preta e Catanduvense, algumas vezes por períodos maiores, em outras nem tanto, mas sempre com o mesmo fim. "Acabava que o garoto que tinha menos capacidade do que eu era aprovado porque conhecia alguém que facilitava o caminho. Seja um empresário, ou algum diretor influente", lamenta. Quando já se mostrava cansado dos percalços encontrados, Matheus viu nos Estados Unidos a oportunidade de finalmente viver da bola. O ano era 2016 e depois de conhecer um empresário, embarcou para o país norte-americano sob a promessa de que teria três meses para se destacar e possivelmente assinar seu primeiro contrato profissional com o Las Vegas City. Os custos da passagem foram bancados por sua família, e, ao chegar no exterior, passou a viver nas instalações alugadas pela equipe, que, na ocasião, se preparava para disputar a quarta divisão nacional. Ainda assim, o projeto parecia atraente. O empresário, dono do time, bancava a alimentação dos atletas e havia trazido o consagrado Valdir Espinosa para comandar o elenco. Em campo, Matheus jogou o segundo tempo do embate contra o Miami United e teve a chance de trocar passes com Ronaldinho Gaúcho, contratado pelo Las Vegas para a disputa do amistoso. "Estávamos aquecendo esperando o início do jogo, mas a torcida invadiu o gramado e o Ronaldinho precisou sair de lá." O jovem, contudo, encarou Adriano Imperador, que, na época, jogando pelo adversário, marcou um dos gols na vitória do Miami por 3 a 1, e também agradou Zico, que deu o pontapé do embate e ficou para assistir. "Depois do jogo, o Arthur (filho do Zico) veio falar comigo, disse que o pai dele me elogiou bastante, disse que eu tinha muita qualidade", relembra. Confiante com a boa exibição, o campineiro foi chamado pelo dono do time para conversar. Sua esperança virou decepção quando o dirigente pediu um alto valor para que ele permanecesse, sob a justificativa de que eram os custos para pagar a taxa de profissionalização. "Não tinha como, era uma quantia grande e eu sabia que a taxa era bem menor". Ainda que não tenha passado fome, Matheus conta que as opções de alimentação eram muito restritas e por várias vezes os pagamentos de contas no local foram atrasados. Dias atuais Decepcionado, Matheus retornou ao Brasil, passou a trabalhar em uma empresa de entrega e agora joga futebol apenas em seu tempo livre. "Tento conciliar com minha rotina, mas tenho outras prioridades como terminar minha faculdade. Apesar das mágoas, o jovem segue próximo do futebol. "Participo das competições amadoras aqui na região de Campinas. É uma paixão."

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