TRAJETÓRIA CAMPEÃ

De Santa Bárbara para o mundo

Garoto do Interior que carregava um sonho, Cesar Cielo elevou o nome do Brasil na natação

Alison Negrinho
alison.negrinho@rac.com.br
25/09/2018 às 07:21.
Atualizado em 22/04/2022 às 01:35

Apesar dos feitos em Olimpíadas e Mundiais, Cesar Cielo não se vê como o maior nadador brasileiro da história: "Cada geração é uma geração" (Alison Negrinho/AAN)

O ano é 2003 e um jovem vindo de Santa Bárbara d'Oeste desembarca em São Paulo para treinar ao lado de Gustavo Borges, um dos maiores nomes da natação. Na mala, o garoto de 16 anos carrega muito mais do que a touca e a sunga. Dono de um talento único, traz consigo uma imensa vontade de aprender e um desejo guardado somente em seus pensamentos mais secretos: "um dia eu serei campeão disso". Este é Cesar Cielo, que em 2008 elevou o nome do Brasil na modalidade ao conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, na China. Antes de chegar ao outro lado do planeta para se consagrar, o atleta acompanhou Gustavo Borges e viu que era sim possível alcançar seu maior sonho. "Ele estava no fim da carreira e eu comecei a ver o que um medalhista olímpico fazia. A sensação que eu tinha era de que poderia fazer aquilo também. Só confirmou ainda mais a minha convicção de buscar ser o melhor do mundo", disse. Da capital, foi para os Estados Unidos e se deu conta de como o nível de competitividade era alto. Na época, apenas com 18 anos e sem saber falar muito bem o idioma, sentiu saudade de casa. Antes que qualquer dúvida pudesse ganhar espaço, se recordou de todo o esforço que não só ele, mas também sua família fizera. "Meu pai vendeu carro, fazia plantão de madrugada para poder pagar minha ida pros Estados Unidos... Estou sozinho na hora de nadar, mas até chegar na piscina, é uma galera grande que vem atrás me dando suporte." Cielo seguiu firme e transformou as incertezas em medalhas. O quarto lugar no Mundial de 2007 lhe deu esperanças de que poderia subir ao pódio nas Olimpíadas do ano seguinte. Só que no fim das contas, tudo foi ainda mais especial. Veio o bronze nos 100m livre e uma nova perspectiva sobre o restante de sua participação. "Minha carreira começou ali. Eu estava com o último tempo daquela final, na raia oito e tirei um terceiro lugar. Foi quando tudo nasceu. Perdi todos os medos que eu estava da competição e fui para os 50m muito mais leve. Inicialmente eu não esperava vencê-los, mas depois que peguei o bronze, eu acreditava sim que dava para ganhar nos 50m", contou, relembrando seu ouro. Foram nove títulos mundiais individuais, além de mais um bronze em Jogos Olímpicos, desta vez em Londres-2012. Os feitos transformaram o esportista em uma lenda, mas para ele, não é possível taxá-lo como o maior nadador brasileiro de todos os tempos. "Nunca gostei de comparação, porque cada geração é uma geração. Acho que cada um tem sua parcela com nível de importância diferente pelo que fez. Se não fosse o Gustavo e o Xuxa, eu não seria nada. Comecei a nadar por causa deles." Pressão no Pan do Rio Cielo chegou aos Jogos do Rio em 2007 apontado como uma das esperanças por medalhas. Nadar em casa, porém, não foi uma situação confortável.  "A gente não tem cultura de natação, então quando anunciava o nome, o chão tremia. Aquela coisa de futebol mesmo. Pra gente foi um susto tanto positivo quanto negativo", contou antes de completar: "Não digo que foi melhor ou pior, foi diferente. Eu era jovem, senti a pressão, não curti muito a competição, fui mais pro lado do nervosismo." No fim, tudo certo para o atleta, que levou três medalhas de ouro e uma de prata. Ídolo hoje divide suas experiências com as crianças À medida em que se aproxima do fim da carreira dentro das piscinas, Cesar Cielo já tem realizado outras atividades. Uma delas é sua clínica de natação. Nela, aborda ao longo de três dias assuntos envolvendo o alto rendimento e performance. As sessões são compostas de aulas teóricas, seguidas de treinamentos e atividades práticas em grupo.  "A gente fez a quinta edição agora em Campinas. Antes estivemos no Nordeste, fizemos em Ribeirão, Recife... É um projeto em que toda a equipe tem a missão de dividir tudo o que a gente passou. O conhecimento, experiências, as histórias. Então de certa forma é devolver um pouco para a natação de tudo que a gente recebeu", contou. Os nadadores que participam têm suas técnicas analisadas individualmente. Há ainda preparação física, orientação nutricional e treino de velocidade com o sistema Lumalanes. "É um momento em que conto a história para os pais, jovens e professores, para mostrar coisas que fizemos de errado, coisas que eles podem evitar ou que podem até fazer melhor. Dividimos informação o tempo inteiro", explicou Cielo. Ciente de que existem muitas crianças que sonham em alcançar o mesmo sucesso que ele, o nadador classificou a oportunidade de poder conversar com os pequenos e dividir tudo o que já passou como uma das melhores coisas de sua clínica. "É uma das horas que mais de verdade, dentro de mim, reflete o que eu busquei. Porque quando estou treinando ou competindo, estou tão focado naquilo, e aqui é realmente uma troca de energia muito gratificante. Quando estou em competição, sempre tento nadar rápido e isso se transformou em algo em que as pessoas se espelham. Faço o que mais gosto na vida que é nadar e ainda estou ajudando os outros com isso." 

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