Daniel Dias veio ao mundo com má-formação congênita dos membros superiores e da perna direita, só que isso nunca o impediu de sonhar
Daniel Dias veio ao mundo com má-formação congênita dos membros superiores e da perna direita, só que isso nunca o impediu de sonhar (Divulgação)
Um nascimento cercado de choro, angústia e dúvidas, mas que foi transformado em orgulho, felicidade e muitas certezas para os pais. Daniel Dias veio ao mundo com má-formação congênita dos membros superiores e da perna direita, só que isso nunca o impediu de sonhar. E foi assim, escolhendo ser feliz, que ele conheceu a natação, quebrou recordes, e por diversas vezes chocou o mundo com suas grandes performances. Hoje, o fenômeno das piscinas é consagrado, idolatrado e apontado por muitos como o maior atleta paralímpico da história. Daniel é campineiro e nasceu antes do previsto, de 7 para 8 meses. Na época, sua família morava em Camanducaia-MG, mas como o local não era munido de muitos recursos, optaram por mudar para Campinas, onde seu pai, Paulo Dias, morou e trabalhou por cerca de oito anos. Além disso, o fato de ter parentes na região também influenciou na decisão. Até se tornar a lenda que é, entretanto, o nadador enfrentou uma árdua caminhada. Com apenas 3 anos precisou passar por uma cirurgia no Hospital Vera Cruz para poder usar prótese. O período para se acostumar com o equipamento foi complicado e definido pelo pai como "um dos momentos mais difíceis da vida". Mais velho, ele tentou a prática de outras modalidades, como basquete e futebol, mas não teve sucesso. "Eu sempre gostei de esportes e acabei descobrindo tanto a natação, quanto o esporte paralímpico, durante as Paralimpíadas de Atenas", relembra Daniel. O evento que aconteceu na Grécia, em 2004, fascinou o jovem de 16 anos principalmente pela estrela da natação paralímpica Clodoaldo Silva, detentor de seis medalhas de ouro. A partir disso, se dedicou para atingir o sonhado sucesso. O que o garoto não esperava, era que pudesse colher os louros de maneira tão rápida. Um ano após começar a praticar, levou um bronze em seu primeiro torneio oficial, em Belo Horizonte. Já em 2006 veio o primeiro ouro, no Mundial de Natação em Durban (África do Sul) e dois anos depois, em 2008, ocupou o lugar mais alto do pódio na Paralimpíada de Pequim (China). "Sem dúvida alguma são os momentos mais marcantes da minha carreira e que ficarão para sempre em minha memória", contou. RECORDISTA PARALÍMPICO Os Jogos de Pequim, por sinal, representam o início da hegemonia de Daniel Dias na natação. Com três Paralimpíadas no currículo, ele se tornou o recordista de medalhas, com 24 pódios. Na China foram nove conquistas (quatro ouros, quatro pratas e um bronze). Quatro anos depois, em Londres, foram mais seis ouros. Por fim, no Rio de Janeiro, em 2016, outras nove medalhas (quatro ouros, três pratas e dois bronzes). Há ainda os diversos pódios em Parapans e Mundiais, conquistados em diferentes categorias, como 200m medley, 100m livre, 50m borboleta, 50m costas e revezamento 4x50 medley. "Pelo número de medalhas eu sou o maior atleta paralímpico masculino e isso me deixa muito feliz e satisfeito. Tudo que tenho foi conquistado com muito esforço e dedicação, agradeço demais a Deus pelo dom da natação", disse. O grande desempenho de Daniel fez com que ele fosse comparado ao astro norte-americano. TRÊS VEZES VENCEDOR DO PRÊMIO LAUREUS Depois de conquistar oito medalhas de ouro nas oito provas que disputou nos Jogos Parapan-americanos Rio 2007, Daniel foi indicado ao Prêmio Laureus, considerado uma espécie de Oscar do Esporte. Na ocasião em questão, não conseguiu levar a honraria, que ficou com Esther Vergeer, atleta de tênis para cadeirantes. Em 2009, porém, o nadador novamente foi indicado, pelos nove pódios nos Jogos Paralímpicos da China e, desta vez, venceu. Em 2013, após os seis ouros nas Paralimpíadas de Londres, Dias voltou a ficar com o prêmio. Feito que se repetiu em 2016, quando foi indicado - e venceu - por faturar sete medalhas de ouro e uma de prata no Mundial do ano anterior. Foram ainda outras duas indicações, em 2011 e 2012. Aos 29 anos e nadando em alto nível mesmo após 13 temporadas do seu início, o campineiro revelou grande emoção por conseguir conquistar o prêmio em mais de uma oportunidade. "A Fundação Laureus premia todo ano os melhores atletas, aqueles que se destacam ao longo da temporada. Eu tive a honra de ser escolhido como melhor esportista paralímpico do mundo por três vezes e não tenho palavras para descrever a sensação", afirmou. Faltando pouco mais de dois anos para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, o nadador disse que não entra na piscina pensando nos pódios que pode conquistar, mas sim em dar o seu melhor. Dias também contou que ainda não cogita a aposentadoria, entretanto, admitiu que chegará um momento em que seu rendimento irá cair. "Sempre nadei para melhorar meus tempos e as medalhas foram consequência. Vou continuar a competir, mas claro que em algum momento terei de parar. Ainda não sei quando, só que estarei preparado psicologicamente para isso", concluiu. DICAS - Independente das limitações físicas, o jovem deve acreditar no seu sonho. - É preciso perseverar e lutar para que os objetivos sejam alcançados. - Os pais devem sempre apoiar os filhos e incentivar o máximo possível para que se sintam confortáveis.