Líder da Série A3 com oito vitórias, dois empates e apenas uma derrota, o Noroeste era forte favorito ao acesso em 15 de março, quando bateu o Olímpia por 3 a 1, na casa do adversário. Dono do melhor ataque (19 gols em 11 partidas) e da melhor defesa (apenas cinco gols sofridos) do campeonato, o Norusca caminhava a passos largos para a Série A2. Era o único já classificado para a fase seguinte. O entusiasmo da torcida — o time de Bauru também tinha a melhor média de público da A3 — foi contido pela crise mundial da saúde, que interrompeu as atividades do futebol. Mas o golpe mais difícil de assimilar veio nesta quarta-feira, quando a diretoria do Noroeste anunciou o encerramento temporário de suas atividades. Para torcedores mais jovens, clubes do interior são pouco relevantes. Aparecem no noticiário durante um curto período da temporada, têm uniformes feios por causa da enorme quantidade de pequenos patrocinadores e raramente conseguem segurar seus melhores jogadores por pouco mais de alguns meses. Eu peguei um tempo diferente. O Paulistão ocupava metade do calendário e era tão ou mais importante do que o Brasileiro. Os times mais fortes do interior disputavam a divisão de elite por várias temporadas consecutivas. Revelavam grandes jogadores e os vendiam depois de boas campanhas. É por isso que o anúncio do Norusca me deixou triste e preocupado. Por falta de recursos financeiros, o clube demitiu ou rescindiu contratos de todos os seus 51 funcionários. As atividades foram interrompidas por tempo indeterminado e até as redes sociais do clube, com quase 60 mil seguidores, foram congeladas. Não fico triste apenas pelo Noroeste em si. Temo que o time de Bauru seja o primeiro do interior paulista a tomar essa atitude. A situação financeira dos clubes menores piorou muito desde as mudanças na lei do passe. União São João, o antigo Novorizontino e até o tradicionalíssimo Mogi Mirim, entre outros, já passaram por crises semelhantes. Mas é assustador imaginar o que pode acontecer com os demais no período pós-pandemia se um time que estava embalado resolve fechar as portas depois de dois meses e meio de paralisação. O mundo vai mudar após essa crise sem precedentes e o esporte profissional não escapará de transformações, principalmente na área financeira. Desejo que, ao se readequar ao novo cenário, o mundo do futebol olhe para equipes como o Noroeste, que no início dos anos 60 revelou Toninho Guerreiro, um dos maiores parceiros do Rei Pelé. O futebol precisa de seus talentos do interior. Carlo Carcani é coordenador de esportes do Grupo RAC E-mail: [email protected]