Carlo Carcani: É hora de retomar o futebol?

Desde o início dessa crise mundial da saúde vejo com clareza que, com exceção da vacina, não há nenhuma medida eficaz que não provoque grandes danos colaterais à população. A restrição rigorosa de movimento por um longo período vai devastar a economia (e a vida de milhões de brasileiros). A flexibilização total também pode provocar uma explosão no número de casos de covid-19 e de mortes. O desafio, complicadíssimo, das autoridades é encontrar um meio-termo entre essas soluções tão amargas. Quem pode ficar em casa sem que isso acarrete graves problemas financeiros deve fazê-lo, mas sem criticar quem realmente necessita trabalhar e se expor. Da mesma forma, quem está ansioso para retomar suas atividades depois de três meses de prejuízos incalculáveis deve respeitar os que estão muito preocupados com a saúde e a de seus familiares. É uma questão de bom senso. Está claro que apenas a vacina será a solução para todos. Vejo muitas autoridades justificando suas decisões com base na ciência. E não consigo entender que argumento a ciência pode ter para flexibilizar a quarenta em um momento em que os números de novos casos e mortes estão crescendo. Das duas, uma: ou quebramos empresas e provocamos demissões em massa à toa ou vamos lamentar nas próximas semanas recordes e mais recordes de novos casos e mortes. Mas a decisão está tomada, alguns estabelecimentos voltaram a funcionar e outros seguirão o mesmo caminho em breve. E o futebol? A Federação Paulista e os dezesseis clubes da Série A1 aguardam até amanhã uma resposta do governo estadual para o pedido de retomada dos treinamentos. Não vejo o menor sentido em negar o pedido dos clubes, já que milhões de pessoas voltaram a utilizar o transporte público e as ruas de áreas comerciais estão lotadas. O futebol, ao contrário de outras atividades, será submetido a rigorosos protocolos de segurança, com seguidos testes de atletas e outros profissionais envolvidos com treinamentos e jogos. Não sei dizer — talvez ninguém saiba — se é seguro ou não retomar as atividades agora e recomeçar as competições em julho. Mas, diante de outras medidas tomadas nos últimos dias, não faz sentido manter os clubes — muitos deles em sérias dificuldades financeiras —sem atividades. Talvez não seja a hora de voltar, mas, diante do cenário atual, não faz sentido segurar uma atividade que pode ser retomada com mais ações de segurança do que outras tantas já liberadas.   Carlo Carcani é coordenador de esportes do Grupo RAC E-mail: [email protected]