TORCIDA

Ações sociais entre bugrinas quebram barreiras

No Guarani, a força feminina faz a diferença nas arquibancadas e na ajuda ao próximo

Da redação
08/03/2025 às 12:40.
Atualizado em 08/03/2025 às 13:51
Crianças são impactadas por iniciativas das torcedoras (Divulgação)

Crianças são impactadas por iniciativas das torcedoras (Divulgação)

Em meio aos gritos e cânticos de incentivo pelo time, há também uma força que manifesta o apoio pela vida. No Guarani, a presença feminina faz a diferença não apenas nas arquibancadas. A batalha pela sobrevivência que acontece fora dos estádios, nas ruas, também se estabelece como compromisso. Tanto que o ato de se organizar para torcer ganha um sentido mais amplo quando elas se encontram.

Não são poucos os grupos de bugrinas que aproveitam a oportunidade de fazer de suas reuniões um movimento de transformação social. São mulheres que se empenham na tentativa de virar um jogo no qual a injustiça, geradora de fome, abandono e carência, prevalece. E a gratidão de quem doa e recebe é o gol que estimula a busca pela vitória em cada novo encontro.

Um dos grupos de ação social entre torcedoras do Guarani mais conhecidos é o Bugrinas em Ação, que completará nove anos de existência na próxima quinta-feira. E a fundadora, Natália Moreira, de 34 anos, lembra das barreiras que precisou superar para tornar o projeto uma realidade. Ele conta que a criação do coletivo é fruto de um ato de resistência dentro da própria torcida organizada a qual ela pertencia.

“Fui suspensa por um ano da organizada porque divulguei uma ação social em um grupo de torcida”, conta. “Depois disso, fazer ação social foi uma maneira de manter as meninas próximas e mostrar que juntas poderíamos fazer a diferença.” Natália lembra dos embates que travava ao lado de suas colegas para ter espaço em um meio dominado pelos homens.

“A diretoria da época era machista, dizia que mulher não podia isso e aquilo. Mas quando as meninas se juntavam, uma fortalecia a outra e resistíamos. Uma vez, barraram a gente em uma caravana, mas alugamos uma van e fomos. Já chegamos a lotar um ônibus só de mulheres”, relata, lembrando que o fato de a mentalidade da diretoria atual ser diferente exemplifica o resultado da resistência.

Encontro

Entre as diversas ações do Bugrinas em Ação, o encontro entre um torcedor do Guarani e outro da Ponte Preta em um lar de idosos ficou marcado na história do grupo. “Era época de Natal e o pontepretano falou pra gente: ‘acho que não vou ganhar o que eu quero’”, lembra Ana Paula Soares de Oliveira, bugrina conhecida como dona Paula, que estava presente no lar na ocasião. “Ele quis uma camisa da Ponte Preta. E como uma das integrantes do grupo tinha uma prima que pertencia a uma organizada da Ponte, conseguimos a camisa. Assim, presenteamos os dois e não dá para descrever a alegria estampada no rosto deles. Foi sensacional.” 

A bugrina Paola Tiago Cruz Costa, de 36 anos, também está sempre envolvida nos grupos de ação social entre torcedoras do Guarani. E ela conta que em algumas comunidades as doações são encaradas como “obrigatórias”. “Tem criança que na Páscoa recebe o ovo de chocolate do pai e da mãe, mas também espera o bombom da ‘tia vestida de verde’”, relata. Paola ressalta que as visitas também, além de envolver doações, possibilitam a quebra de estigmas. Algumas crianças, diz, se surpreendem ao deparar com mulheres “entendidas” de um esporte que, para elas, é ligado ao universo masculino. “Muitos meninos e meninas não têm o hábito de ver mulheres envolvidas com futebol”, afirma. “E quando a gente responde com propriedade as perguntas que eles fazem, os olhinhos deles ficam brilhando. É um tipo de encontro que valoriza a mulher.”

Envolvida também com um grupo que resgata moradores de rua, Paola salienta a transcendência das ações voltadas ao próximo. “Não se trata apenas de futebol ou de doações. O que marca são as pessoas que encontramos e ficam guardadas no coração, transformando nossas vidas.” 

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