Com muito humor, folclórico atacante conta episódios da carreira e diz como foi o seu gol 1000
Túlio Maravilha em ação pelo Atlético Carioca, um dos muitos clubes que o atacante defendeu na carreira: "Nasci com o dom de ser artilheiro" (Instagram Oficial)
Gol de mão, pé, carrinho, peito, cabeça ou pênalti. O modo é o menos importante, o que conta mesmo é balançar as redes. Foi desta maneira que o irreverente Túlio Maravilha se consagrou no futebol e chegou ao sonhado gol 1000, de acordo com suas próprias contas. Os tentos do folclórico atacante renderam grandes comemorações, títulos e boas histórias para contar. Como em 2014, quando já aos 44 anos, ainda perseguia a marca, e topou o desafio de vestir a camisa do Araxá Esporte, na disputa do Módulo II do Campeonato Mineiro. Sem dúvida, aquele 8 de fevereiro no Estádio Fausto Alvim jamais sairá de sua memória. Na ocasião, o árbitro assinalou pênalti do defensor adversário, aos 27 minutos do primeiro tempo. "Foi a penalidade que eu estava mais confiante em toda a minha carreira para cobrar. Porque eu esperei mais de 10 anos por esse momento e não poderia desperdiçar. Beijei com carinho a bola... Os três milésimos gols, tanto meu, quanto do Pelé e do Romário foram de pênalti, só que eles bateram no lado esquerdo e eu no direito. Ou seja, o meu foi diferenciado e o goleiro nem na foto apareceu", conta o bem-humorado centroavante. A saga teve início quando fez o gol de número 500, em 1999, pelo Cruzeiro. Ao marcar, brincou que fora "em homenagem aos 500 anos do descobrimento do Brasil". Após a partida, entretanto, ouviu de pessoas ao seu redor de que já era de parar, porque não havia mais nada a provar. Foi quando estipulou a meta. "Me chamaram de maluco e aquilo me deu forças para continuar. Os anos se passaram, eu já não estava mais jogando em time de Série A, mas fui com a paixão mesmo. Quando acordei já era contagem regressiva." E quando a espera chegou ao fim, só o que se passava na cabeça de Túlio era felicidade. "Vem a sensação de dever cumprido, eu não queria saber de mais nada. O pessoal me levantou, deu uma volta olímpica comigo... O juiz até me deu cartão amarelo por achar que paralisei a partida na hora errada, enfim, eu sosseguei, tanto é que depois não fiz mais gols", explica. Artilheiro da Série A três vezes (1989, 1994 e 1995), uma da Série B (2008) e duas da Série C (2002 e 2007), o atleta viveu seu auge com a camisa do Botafogo. Por lá, se tornou ídolo ao conquistar o Campeonato Brasileiro de 1995, vencendo na final o Santos. "Tenho muita gratidão pelo clube, esse nosso casamento dura até hoje. Sem dúvida, meu gol mais importante foi esse da decisão, no Pacaembu. Foi um título incrível para o Botafogo e para mim, então foi o gol que realmente me imortalizou." Se o mais importante aconteceu pelo time carioca, o mais bonito ele fez com a camisa do Goiás. "Dei uma bicicleta ao melhor estilo Cristiano Ronaldo na Champions League, mas a minha foi mais próxima da pequena área, acertei o ângulo", relembra. Seleção Brasileira Já quando o assunto é a amarelinha, Túlio ficou marcado pelo gol contra a Argentina nas quartas de final da Copa América de 1995, quando, impedido, matou a bola com o braço esquerdo antes de marcar o gol do empate em 2 a 2, que levou o jogo para os pênaltis e, na sequência, à classificação brasileira. "Gol contra a Argentina usando a mão deveria valer por cinco. Fizeram a comparação com o gol do Maradona... Eu disse que se o dele foi a 'mão de Deus', eu fiz a 'mão da Virgem Maria'". Ameaça de torcedor está entre as boas histórias do ídolo Se os gols vieram aos montes, Túlio Maravilha também passou por um episódio que, de propósito ou não, deixou de marcar. O caso aconteceu em 2003, quando defendia o Atlético-GO pela disputa da segunda fase da Série C do Campeonato Brasileiro, contra o Ituiutaba. Seu time venceu o jogo de ida por 2 a 1 no Serra Dourada, contudo, na volta, saiu perdendo de 2 a 0. O atacante teve a chance de descontar, cobrando pênalti, mas errou. Pouco depois, ele se redimiu e balançou as redes. O placar levou a partida para as penalidades e Túlio voltou a desperdiçar sua cobrança. "Antes de entrar no jogo, teve um torcedor, daqueles bem caipiras mesmo, com chapéu, cigarro na boca... Que entrou no vestiário dando tiro para cima, ameaçando os jogadores. Ele falava 'se ganhar ninguém vai sair vivo, vai morrer todo mundo'. Achou que ia amedrontar, mas acabou nos dando motivação. Só que no jogo aconteceu tudo ao contrário, o goleiro conseguiu pegar meu pênalti", disse. Sem revelar se perdeu suas cobranças de forma proposital, ele carrega a história com bom humor. "Se eu tivesse feito o gol, de repente eu não estaria vivo para contar." As contas do gol 1000 não são oficiais, porém, para o atleta, não há dúvidas de que ele, de fato, atingiu o feito. "É difícil você pegar os números ao pé da letra. Na Federação Goiana de Futebol tinham os arquivos, mas acabou pegando fogo e tudo foi perdido. Um cara que acompanhava meus gols veio a falecer e os dados se perderam também, mas no geral pegamos por cima... Está no DNA, eu nasci com o dom de ser artilheiro. Você vai questionar o Pelé? Não vai. Vai questionar o Romário? Também não vai. Está no DNA deles que são artilheiros, então um gol a mais ou a menos não vai fazer diferença."