Neurocirurgião alerta atletas profissionais e amadores sobre a importância de exames preventivos para evitar acidentes vasculares cerebrais
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Neurocirurgião alerta atletas profissionais e amadores sobre a importância de exames preventivos para evitar acidentes vasculares cerebrais. Atletas do mundo inteiro mostram performances incríveis nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, resultado de rigorosos treinos e muita dedicação. Os exercícios trazem inúmeros benefícios ao nosso corpo: aumenta os níveis de HDL (lipoproteína de alta densidade, o “bom colesterol”); regula o açúcar no sangue, reduzindo o risco de diabetes; melhora a capacidade mental, como reflexos mais rápidos, maior nível de concentração e memória mais apurada; fortalece os músculos e a manutenção da massa óssea, fundamentais para retardar o envelhecimento; alivia o estresse e a ansiedade; melhora a qualidade do sono, além de ajudar na autoestima. Que esporte e saúde são aliados, todos sabem. No entanto, há casos em que a prática esportiva pode até ser fatal. Não é incomum a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) durante partidas e exercícios físicos. Isso ocorre, pois durante a prática esportiva há picos de pressão. Se o paciente tiver uma malformação cerebral, correrá mais chances de que um aneurisma se rompa, gerando uma hemorragia no cérebro. Foi esse o caso do lutador de MMA Leandro Caetano de Souza, o Leandro Feijão, que morreu vítima de um aneurisma aos 26 anos, em 2013, na véspera de entrar no ringue. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o AVC é a segunda principal causa de morte no mundo em indivíduos acima de 60 anos e a quinta maior causa entre 15 e 59 anos. No Brasil, é a enfermidade que mais mata, superando o câncer e o infarto, segundo dados do Ministério da Saúde. O AVC pode ser decorrente de lesões cerebrais relacionadas a patologias que acometem artérias e veias. De forma geral, podemos dividir os AVCs em dois subtipos: o hemorrágico e o isquêmico. O acidente vascular cerebral hemorrágico ficou popularmente conhecido como derrame, porque ocorre um extravasamento de sangue para o parênquima cerebral. No entanto, esse termo não é reconhecido na terminologia médica. O isquêmico é o decorrente da obstrução de uma artéria, gerando um infarto na região irrigada por ela. No caso do AVC isquêmico, os principais sintomas são perda repentina da força muscular e da visão; dormência ou formigamento no rosto, braço ou perna; dificuldade para se comunicar e compreender (a fala fica arrastada, por exemplo); tontura e alteração da memória. No caso do hemorrágico, o principal sintoma é dor de cabeça aguda e repentina. Mas há também aumento da pressão intracraniana com perda da consciência; náuseas e vômitos; e déficits neurológicos semelhantes aos provocados pelo acidente vascular isquêmico. Os fatores de riscos são praticamente os mesmos que provocam o infarto do coração: hipertensão arterial (pressão alta); colesterol elevado; fumo; diabetes; histórico familiar; ingestão de álcool; vida sedentária; excesso de peso; e estresse. Em 2012, a jogadora da Seleção Brasileira de Handbol, Daniela Piedade, sofreu um AVC isquêmico causado por um trombo (coagulação do sangue dentro de um vaso sanguíneo), durante o aquecimento para uma partida. Para evitar que casos como o de Leandro e Daniela ocorram, é necessário que os profissionais do esporte, treinadores, diretores e presidentes de clubes, bem como qualquer pessoa que pratique atividades físicas, realizem exames preventivos. Da mesma maneira em que o fazem para checar a situação cardíaca antes dos exercícios, é importante verificar como está a saúde do cérebro. O ideal seria que um clube de futebol de elite, por exemplo, proporcione uma angiotomografia (exame utilizado para o estudo da circulação de sangue no cérebro que combina tecnologias da tomografia computadorizada associada à angiografia) a todos os jogadores. Dessa forma, seria possível diagnosticar a existência de um aneurisma antes de seu rompimento, que poderá ser corrigido em uma cirurgia. No caso de atletas amadores, a recomendação é particularmente válida quando há casos de malformações na família, pois há mais chances de sua incidência. Entretanto, é importante ressaltar que a prática de esportes traz inúmeros benefícios a saúde, inclusive, previnem diversas doenças no cérebro e coração. Por isso, reunimos algumas das questões mais recorrentes entre os pacientes sobre a relação entre as atividades físicas e problemas no cérebro. Confira algumas delas: Há risco de AVC em jovens? A ocorrência de acidentes vasculares cerebrais em jovens é bastante grande, pois, diferentemente dos mais velhos, as pessoas com menos idade ainda não desenvolveram plenamente a circulação colateral. Um jovem pode ter um bom fluxo sanguíneo, uma circulação adequada e, contudo, não ter uma circulação colateral desenvolvida, que são vias alternativas para a chegada do sangue ao cérebro. Assim como um rio vai criando caminhos quando encontra barreiras, também no ser humano o sistema circulatório vai buscando canais opcionais de fluxo sanguíneo quando há obstrução por placas de gordura, por exemplo. Nas pessoas mais velhas, há a circulação colateral, que ainda não foi desenvolvida no jovem, mesmo que este pratique esporte. Qual a relação dos anabolizantes e termogênicos com o AVC? A cada dia mais os jovens consomem anabolizantes e termogênicos em busca do corpo perfeito. Essas substâncias estimulam o crescimento dos músculos com mais rapidez, mas aumentam em cinco vezes a chance de sofrer um AVC ou ter morte súbita, pois elevam a pressão arterial. Seu consumo pode também ocasionar atrofia dos testículos, impotência sexual e esterilidade, maior retenção de sódio, calvície, câncer, diabetes e lesões no fígado muitas vezes irreversíveis, pois é o órgão que metaboliza essas substâncias, além de outros problemas graves quando utilizadas para emagrecimento e ganho de massa muscular. Os anabolizantes são proibidos no Brasil, mas estão cada vez mais em alta e muitos jovens são internados diariamente devido ao uso dessas substâncias. Um dos problemas é que a maioria das pessoas usa de uma forma exagerada e isso causa a diminuição da produção de hormônios elaborados normalmente pelas nossas glândulas. O organismo interpreta o hormônio sintético como suficiente e passa a produzir menos, ou seja, há o efeito feedback negativo. Os adolescentes são os que mais sofrem consequências, pois ainda estão em fase de crescimento e acabam tendo prejuízos graves no desenvolvimento sexual e na formação óssea. Já os termogênicos aumentam a temperatura corporal. Eles agem de maneira similar à adrenalina, um hormônio produzido naturalmente pelo corpo humano. Uma das piores complicações é a pressão arterial elevada. Quem as ingere aumenta a frequência cardíaca, a capacidade respiratória e a resistência. Hoje, a maioria das pessoas busca um corpo definido e perfeito, por isso, essas pílulas estão cada vez mais populares entre os atletas amadores, que as consomem com o objetivo de perder peso e praticar exercícios de uma forma mais intensa. Essas pílulas parecem milagrosas, mas são muito prejudiciais à saúde, aumentam o risco de derrames e doenças coronarianas, que podem levar à cegueira. Nas academias, a maioria é orientada a tomar esses medicamentos por profissionais que não são preparados para indicação dessas substâncias. O preço que as pessoas pagam depois de consumir termogênicos é muito alto. Muitas vezes causam problemas endócrinos, que precisam ser resolvidos com outros medicamentos de uso crônico e hormônios para combater as consequências. Como pode ser feita a prevenção do derrame cerebral? O AVC pode ser prevenido com o controle do tabagismo, da hipertensão, das dislipidemias (ou seja, alterações do metabolismo que geram aumento do colesterol total e do ruim, diminuição do colesterol bom e aumento das triglicérides) e com a realização de atividades esportivas. No entanto, doenças específicas como os aneurismas intracranianos devem ser pesquisados nos familiares de pacientes que tenham uma história da doença envolvendo parentes de primeiro grau. Em nosso próximo encontro, conheceremos outros aspectos interessantes sobre nosso cérebro. Até lá. Envie sua pergunta ao Dr. Feres Chaddad Neto, pelo e-mail [email protected]