COMPORTAMENTO

Especialista defende um novo aprendizado

A denominada 'Geração Z', crianças e adolescentes que já nasceram conectados, tem outros tipos de aptidões, de acordo com especialista

France Press
09/03/2015 às 09:53.
Atualizado em 24/04/2022 às 01:14
Houdé: cérebros da Geração Z ganharam em velocidade, mas perderam em raciocínio e em autocontrole (France Press)

Houdé: cérebros da Geração Z ganharam em velocidade, mas perderam em raciocínio e em autocontrole (France Press)

Com relação ao mercado de trabalho, entre 50% e 70% destes jovens querem criar sua própria “start-up”, segundo diferentes pesquisas. A palavra “empresa”, contudo, evoca ideias muito negativas: “complicada”, “impiedosa”, uma “selva”. Para vencer no mercado, confiam mais em sua rede de contatos do que nos diplomas e preferem uma organização horizontal à hierarquia. Nesta geração que quer se realizar, 76% gostariam de transformar seu hobby em trabalho. Filhos da crise, eles têm critérios muito definidos com relação às suas escolhas profissionais. Na França, onde foram propostas várias classificações de empresas que hipoteticamente pagariam o mesmo salário, 25% escolheriam a “mais divertida”, 22%, a “mais inovadora” e 21%, a “mais ética”. Desejosos de ter um impacto no mundo, gostam do voluntariado, praticada por um quarto dos jovens de 16 a 19 anos nos Estados Unidos. A maioria dos “Z” se considera “estressada” com o futuro, que lhes parece sombrio, sobretudo para o meio ambiente e a economia. Essa geração ganhou aptidões cerebrais no que se refere à velocidade dos automatismos - mas perdeu em outras áreas, como o raciocínio e o autocontrole, diz o professor de Psicologia Olivier Houdé. Diretor do laboratório de psicologia do desenvolvimento e educação infantil do CNRS-Sorbonne, Houdé defende uma aprendizagem adaptada a essas mudanças.“O cérebro é o mesmo, mas os circuitos utilizados mudam. Diante das telas, na vida em geral, os nativos digitais tem uma espécie de trem de alta velocidade cerebral que vai do olho ao polegar. Utilizam sobretudo uma zona do cérebro, o córtex pré-frontal, para melhorar essa rapidez de decisão e de adaptação multitarefa, ligadas às emoções”, afirma. “ Mas isto acontece em detrimento de outra função dessa zona, mais lenta, de distanciamento, de síntese pessoal e de resistência cognitiva”, conclui. Houdé diz que existem três sistemas no cérebro humano. “Um é mais rápido, automático e intuitivo, altamente requerido no uso de telas. O outro é mais lento, lógico e reflexivo. E o terceiro permite decidir entre os dois primeiros: é, digamos assim, o coração da inteligência: permite inibir os automatismos do pensamento quando se faz necessária a aplicação da lógica ou da moral. É a chamada resistência cognitiva. Inibir é resistir. E os nativos digitais devem reaprender a resistir para pensar melhor”.AmadurecimentoHoudé alerta que esse processo de amadurecimento não é lento. “É por isso”, afirma, “que se deve educá-los e treiná-los intensamente nas escolas. É o que eu chamo de uma pedagogia do controle cognitivo, algo extremamete útil para o raciocínio, para a categorização, e também para a leitura ou para matemática.   Permite, por exemplo, evitar decisões absurdas, às vezes de maneira coletiva, em uma empresa. Permite também resistir, em nossas democracias, nas crenças errôneas: as teorias de complô, por exemplo, ou de estereótipos. E a resistência cognitiva também é um fator de tolerância: permite a inteligência interpessoal, a capacidade de silenciar  seu próprio ponto de vista para favorecer o do outro. Educar o cérebro é ensiná-lo a resistir à sua própria irracionalidade. Um verdadeiro desafio para as ciências cognitivas e para a sociedade atual”.

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