AULA DIFERENTE

Escavações levam a viagem por antigas civilizações

Professor de história de Campinas simula pesquisa e transforma alunos em arqueólogos

Fabiano Ormaneze
06/08/2013 às 05:04.
Atualizado em 25/04/2022 às 06:17
Alunos se transformam em arqueólogos para entender a história (César Rodrigues/AAN )

Alunos se transformam em arqueólogos para entender a história (César Rodrigues/AAN )

A simulação de uma pesquisa arqueológica foi a estratégia utilizada pelo professor de história Thiago Vieira Magalhães, na Escola do Sítio, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, para mostrar aos alunos como é feito o levantamento de dados sobre antigas civilizações, assunto que, embora envolvente, fica distante da maioria, já que séculos e, em alguns casos, até milênios separam a narrativa dos livros e os acontecimentos. Com a atividade, Magalhães conseguiu reunir outras disciplinas e também aproximar escola e universidade.Embora o trabalho tenha sido desenvolvido com os alunos do 6º ano nas aulas de história durante os meses de abril e maio, acabaram envolvidos também os estudantes de 8º ano e as disciplinas de artes, inglês e ciências. Logo que o projeto foi apresentado, a professora Amanda Miorim, abordava, com os alunos do 8º ano, a relação entre arte e funcionalidade, explicando que, na Antiguidade, muitos objetos de uso cotidiano passaram a receber adornos e essas inscrições tornaram-se não só indícios simbólicos de como viviam os homens do período, mas também possibilitam, hoje, reconstruir parte da história humana.Os alunos produziram, então, vários objetos com argila, como vasos e jarros durante as aulas de artes. Nas peças, foram feitos adornos e registradas mensagens, usando um alfabeto fictício, concebido pelos alunos com base nos hieróglifos, a partir de uma sugestão do professor de matemática, Héctor Cárrion, que contou a eles a história da Pedra de Rosetta, fragmento rochoso do Egito em que está escrito um decreto de 196 a.C, cujas inscrições foram cruciais para a compreensão da história da escrita. Os alunos do 8º ano criaram também uma narrativa, segundo a qual aqueles objetos eram oriundos da Coreia e foram enviados, como presentes, ao Egito. Todos os elementos foram pensados: período, personagens e acontecimentos durante a viagem. Sítio arqueológicoCom a ajuda dos funcionários da escola, uma área no quintal foi delimitada e os artefatos produzidos foram enterrados. Enquanto isso, os alunos visitaram o Laboratório de Arqueologia Pública (LAP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que, além de ter arqueólogos, conta com uma coleção de peças de diversos períodos, descobertas em escavações em vários locais pelo mundo.Depois da visita e de uma palestra, os alunos do 6º ano se envolveram num desafio: fazer, com a ajuda de estagiários do LAP, a escavação no quintal da escola, em busca da história enterrada pelo 8º ano.Enquanto tudo isso se desenrolava, a professora de ciências, Marina Reiter, entrou no projeto e deu aulas sobre o processo de fossilização, ou seja, como um ser vivo pode passar por um processo de transformação em mineral e como os diversos materiais são preservados ou se deterioram com a passagem do tempo. DescobertasApós as escavações, as peças encontradas foram levadas ao laboratório da escola, onde foram higienizadas, numeradas, como ocorre numa pesquisa arqueológica. Com isso, a narrativa ia sendo reconstruída. Nesse ponto, entraram as aulas da professora Shirley dos Santos, de inglês. A partir do alfabeto fictício que os alunos criaram, os textos inscritos nas peças encontradas foram traduzidos para o inglês.Na busca pelos vestígios da história criada pelos colegas da outra turma, os “arqueólogos” do colégio conseguiram vivenciar não só a atividade de pesquisa, mas também as características da história como ciência. Algumas peças enterradas, por exemplo, não foram encontradas e a narrativa ficou com algumas lacunas.“Com isso, os alunos puderam perceber como é o trabalho do arqueólogo e do historiador e de como são possíveis várias versões, além de perceber os desafios para se recontar um período da humanidade”, explica o professor de história.De acordo com Magalhães, outro aspecto interessante notado pelos estudantes foi o fato de que a arqueologia tanto oferece informações a várias áreas como depende de diversas metodologias, como a análise microscópica dos vestígios e a decodificação linguística.Embora todas essas atividades façam parte de um mesmo projeto, muitas delas não tinham sido pensadas no planejamento e foram agregadas com o desenvolvimento. Para terminar, a escola organizou uma exposição aberta ao público externo, em que, além de apresentado o trabalho feito com os alunos, estavam à mostra objetos do acervo do LAP, como garrafas, moedas e pedaços de vasos antigos, alguns datados de antes de Cristo.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por