Transtorno que atinge brasileiros ainda tem falta de informação como obstáculo
Estima-se que 3 milhões de brasileiros tenham alguma forma de epilepsia e, a cada hora, mais 11 pessoas são diagnosticadas com o transtorno. O impacto causado pelas crises convulsivas nem sempre costuma ser o principal problema enfrentado pelo portador de epilepsia. O preconceito e a exclusão gerados pela falta de conhecimento ainda são as maiores barreiras a serem superadas diariamente. Quem enfrenta a epilepsia garante, no entanto, que é possível romper com o preconceito e levar uma vida saudável e com qualidade. O primeiro passo para isso é recuperar a autoestima. O neurologista Bruno Scarpim afirma que a epilepsia não é simplesmente uma condição, mas uma família diversificada de desordens, que têm em comum a predisposição aumentada de episódios de crises. “Elas são caracterizadas por descargas elétricas anormais dos neurônios e que podem gerar convulsões”, explica. As causas, segundo o médico, podem ser sintomáticas, por alterações estruturais no Sistema Nervoso Central (SNC) após traumas, derrames e tumores, entre outras alterações. A epilepsia também pode ter causas idiopáticas, quando não há lesão estrutural, e criptogênicas, não diagnosticadas com os recursos de imagem disponíveis. Segundo Scarpim, alguns tipos de epilepsia apresentam crises durante um certo período e depois cessam. Há alguns tipos de epilepsia que não têm cura, mas com o tratamento adequado os pacientes podem ter uma boa qualidade de vida. “De 5% a 10% da população apresentam uma única crise convulsiva, sem que isso signifique que serão epilépticas”, diz. Geralmente, as crises isoladas não oferecem grandes riscos aos pacientes e podem ser tratadas no ambulatório com ajustes de doses das medicações. O tratamento, normalmente, é feito com anticonvulsivantes. “Porém, em casos de difícil controle e casos selecionados há possibilidade de procedimentos cirúrgicos para o tratamento”, explica. O neurologista ressalta, no entanto, que a epilepsia deve ser vista e tratada como mais do que simplesmente a recorrência de crises epilépticas. Pessoas com epilepsia muitas vezes são vítimas de estigma, preconceito e exclusão. As crises trazem com frequência consequências psicológicas para o paciente e também sua família. “Pacientes com epilepsia podem sofrer com exclusão, restrições, proteção excessiva e isolamento, que também são parte da condição epiléptica.” Sair das sombras Aos 3 anos, José Aparecido Martins deu início à peralmbulação por consultórios médicos. “Quando criança sofri muito por conta das crises. Tinha pelo menos quatro convulsões por dia. Mas talvez quem tenha sofrido mais foram os meus pais, que viviam preocupados comigo e correndo atrás de médicos”, relata. Na escola, algumas vezes era deixado de lado pelos amigos, mas ao longo da vida diz que não precisou se privar de fazer o que gostava. “O grande problema que cerca a epilepsia é o preconceito pela falta de informação.” Além de técnico contábil, Martins é hoje empreendedor e organiza a Associação de Pessoas com Epilepsia de Campinas e Região Metropolitana. “O objetivo é reunir as pessoas que têm epilepsia para trocar informações e experiências.” Segundo ele, a epilepsia precisa sair das sombras. Martins também ressalta duas maneiras importantes de vencer o estigma. “A pessoa com epilepsia precisa primeiro recuperar a autoestima e entender que não é o fim do mundo. Depois, é preciso que as pessoas tenham a informação correta.” Os interessados em fazer parte da Associação de Pessoas com Epilepsia podem entrar em contato com Martins pelo telefone (19) 3271-5996 ou pelo e-mail marticon@terra.com.br.