Membros de outros partidos condenam atuação do PSOL e do PSTU
Ativistas que ocuparam o plenário da Câmara exibem faixas e cartazes partidários (Janaína Maciel/Especial para a AAN)
Ao contrário dos movimentos de rua que surgiram no Brasil espontaneamente pelas redes sociais, sem lideranças visíveis e que impediam a presença de bandeiras e políticos, o protesto de na quinta-feira (8) em Campinas, que acabou com a depredação do plenário da Câmara Municipal, teve a participação marcante de militantes ligados a legendas de esquerda como PSTU e PSOL. Bandeiras e camisetas com as siglas foram ostensivamente exibidas durante o ato, e figuras conhecidas no cenário político se expuseram e assumiram papel de liderança no movimento. Tudo muito diferente do que acontecia no princípio.A posição partidária tirou a espontaneidade do protesto e desvirtuou sua finalidade. Com ela, a ocupação pacífica do Legislativo fez do movimento de ontem um ato fora de sintonia com a série de protestos que se espalhou pelo Brasil desde junho e surgiu da indignação popular, quando pessoas filiadas às legendas não eram bem-vindas às manifestações.A pauta dos manifestantes foi levada a uma perda de credibilidade, na opinião de vereadores. Muitos parlamentares utilizam agora a presença dos partidos nos protestos para desqualificar as reivindicações apresentadas. À exceção do PT, integrantes de outras legendas criticam a presença do PSOL e PSTU no protesto. Parte dos políticos de Campinas começou a alegar que o movimento se transformou em palanque para que figuras que possuem pretensões no pleito do próximo ano ganhem visibilidade. ProtestoMilitantes do PSOL e PSTU estavam acompanhados de representantes sindicais, membros de diretórios acadêmicos e participantes de movimentos populares, além de um grupo de punks e anarquistas encapuzados, que já é conhecido pelas ações violentas em outros protestos que deveriam ser pacíficos.Entre os cerca de 150 manifestantes estavam algumas figuras conhecidas do cenário político campineiro, como a ex-vereadora Marcela Moreira (PSOL), que teve 3.296 votos na última eleição e é suplente do partido, e Arlei Medeiros, que foi candidato a prefeito pelo PSOL no ano passado e teve 12.318 votos (foi o quarto mais votado no pleito). Ele é presidente municipal da legenda.Marcela teve um papel ativo durante todo o protesto, apesar de não ter sido flagrada em atos de vandalismo. Com um megafone, ela fez inúmeras tentativas de organizar a manifestação. Falou da legislação e opinou, junto com os outros ativistas, para resistir a um possível movimento de esvaziamento do plenário com o uso da força policial.A ex-vereadora só deixou o plenário arrastada pela Polícia Militar (PM) e foi conduzida ao 4 Distrito Policial (DP) de Campinas, no Taquaral, junto com os outros manifestantes. A integrante do PSOL, ainda durante os protestos, entrou em uma das salas de controle da transmissão das sessões da Câmara e fez uso do computador do Legislativo. Em outro momento, Marcela chegou a transmitir na internet o movimento de ocupação da Câmara. Não houve nenhuma tentativa da ex-parlamentar de controlar a ação dos vândalos, que destruíram o plenário, mas ela afirma que é contra depredações.A ex-parlamentar afirmou ontem ao Correio que o fato de os vereadores usarem os atos de vandalismo para tirar a credibilidade do movimento representa uma “cortina de fumaça” para não assinarem a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte, pedida pelo movimento.Marcela disse também que estava no movimento como manifestante e cidadã que defende a investigação das planilhas de custo do transporte público e não como uma partidária. “Tem de haver pressão popular”, disse.Para a ex-integrante da Câmara, a participação dos partidos no movimento — antes rejeitado pelos manifestantes — é uma questão de democracia. “O que fica claro é que tem partido que não quer a investigação. Vereador que se nega a assinar a CPI”, afirmou. CidadãosArlei, presidente do PSOL, permaneceu mais afastado dos manifestantes, não entrou no plenário e, assim que a Tropa de Choque da PM invadiu o espaço onde estavam os ativistas, ele deixou o prédio. Na passeata que levou o grupo até a Câmara, ele foi visto carregando uma faixa. O líder partidário alega que o movimento não é dirigido por partidos políticos, mas admitiu participação de militantes. “Eu estive como cidadão. O dia era deles (ativistas). Ajudamos a orientar quando foi preciso. Não há uma direção centralizada.Quanto à depredação ocorrida no plenário, Arlei afirmou que o PSOL não defende os atos de vandalismo, mas avalia como legítima a ação dos punks e anarquistas que encabeçaram as ações mais radicais. “Nós não defendemos, mas não vou julgar. Os vereadores não dão ouvidos ao que está sendo pedido faz tempo. Chega uma hora que a população fica indignada. Tem muito bandido que está dentro da Câmara”, disse o presidente do PSOL.A proposta de abertura da CPI do Transporte é de autoria do representante do PSOL na Câmara, o vereador Paulo Bufalo, e recebeu até agora cinco assinaturas, todas de parlamentares que integram a oposição.Em nota, a bancada do PT na Câmara apoiou a abertura da CPI e afirma que as manifestações ocorridas na Casa “são fruto de uma situação de distanciamento dos poderes políticos em relação à população e à falta de transparência pública”. Colaboraram Milene Moreto, Bruna Mozer, Fabiana Marchezi e Felipe Tonon