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"Vivemos uma ditadura das comédias", diz Denise Fraga

O cinema nacional não se resume a comédia, mas os estúdios começam a adotar algumas estratégias na divulgação de suas produções, reforçadas na graça

Fábio Trindade
fabio.silveira@rac.com.br
26/03/2016 às 20:20.
Atualizado em 23/04/2022 às 01:25

Denise Fraga, em cena de 'De Onde Eu Te Vejo, que estreia no dia 7 de abrlr (Andrea Testoni/Divulgação)

O cinema nacional não se resume a comédia. Ponto. Como já noticiado no Caderno C em outras ocasiões, ela representa no máximo 1/3 da produção anual brasileira. A grande questão é que, na maioria das vezes, apenas este gênero faz barulho no circuito comercial, dando a falsa impressão que a sétima arte por aqui tem a intenção apenas de fazer rir. A realidade, obviamente, é outra, mas como ainda é difícil levar público para os complexos cinematográficos espalhados pelo País quando não há humor na descrição do filme, os estúdios começam a adotar algumas estratégias na divulgação de suas produções. O longa 'De Onde Eu Te Vejo', do diretor Luiz Villaça ('O Contador de Histórias' e 'Cristina Quer Casar'), por exemplo, é um belo e poético romance estrelado por Denise Fraga e Domingos Montagner. Porém, ele chega aos cinemas no dia 7 de abril como uma comédia romântica. O motivo: romance nacional é algo raro de se ver nas programações. O excelente 'Ponte Aérea' (2015), de Júlia Rezende, é um dos poucos exemplos recentes a ir para as telonas com certo burburinho e, mesmo assim, passou longe da região de Campinas. Exatamente por essas e outras, dá para entender a ligeira mudança no gênero da produção de Villaça. “Eu acho que a gente vive uma espécie de ditadura de comédias e, por isso, para os estúdios e até para a imprensa, o filme algumas vezes precisa de certos rótulos. Este tem sido chamado de comédia romântica, mas o que eu posso dizer dele é que você ri e você chora”, afirma, em entrevista exclusiva ao Caderno C, Denise Fraga, responsável por dar vida a espiritualizada Ana Lúcia.  A atriz ressalta, porém, que o fenômeno não se enquadra apenas no cinema. “Quando você diz que está fazendo uma peça de teatro, logo vem a pergunta se é comédia, inclusive de patrocinadores”, lembra. “Eu gosto de uma boa comédia, mas eu sinto que o público erra nisso, porque às vezes ele prefere errar numa comédia ruim e perder um drama bom. A comédia não é uma segurança que você vai gastar bem o seu dinheiro. Muitas vezes você se diverte bem mais vendo uma boa história, que nem é tão comédia assim, ao invés de uma comédia explícita”, completa a atriz, que é casada com Luiz Villaça. Apesar de ser classificado como comédia romântica, o público que apostar no filme 'De Onde Eu Te Vejo' verá um longa de amor, muito bem pensado e executado, com um precioso roteiro de Leonardo Moreira e Rafael Gomes. As pessoas até vão se divertir em alguns momentos, afinal, a veia cômica de Denise Fraga e Marisa Orth (intérprete de Olga, jornalista amiga de Ana Lúcia e de Fábio, vivido por Domingos Montagner) é fortíssima. Porém, o tom do filme, assim como a mensagem passada do início ao fim, correm longe do riso. “Eu gosto de falar do filme como um tema que o Rafael Gomes diz sempre, que é a comédia sentimental. A nossa ideia, minha e do Luiz, é sempre fazer um projeto que a gente acredite porque, sem dúvida nenhuma, nós temos muitas histórias para contar além só de comédias”, rebate Denise. Ela e Domingos vivem um casal recém-divorciado. Ana Lúcia, arquiteta e fotógrafa que trabalha demolindo casas e prédios antigos para dar espaço a novos empreendimentos, ficou no apartamento junto com a filha Manoela (Manoela Aliperti). Fábio, jornalista do Interior que, no passado, foi para São Paulo em busca de oportunidades melhores, se mudou para o segundo apartamento do casal, localizado no prédio do outro lado da rua, exatamente de frente para sua antiga morada. Com isso, apesar de separados, eles se veem diariamente através da janela, vivendo mais de olho na vida do outro do que na própria. “As pessoas não suspeitam o jeito que esse filme foi feito, porque a gente construiu os apartamentos e a distância da rua em um estúdio enorme. E isso nos deu a possibilidade de filmar, porque seria impossível rodar exatamente na rua, por questões de som. Mesmo assim, durante as filmagens, eu sempre perguntava se isso realmente daria certo, e o resultado final é incrível”, acredita Denise. Há vários diálogos entre os personagens pelas janelas da sala, como a filha contar aos pais, ao mesmo tempo, que passou no vestibular e sairá de casa. “Ficou imperceptível que era um estúdio, aconteceu a mágica do cinema mesmo. Muitas vezes vamos ver filmes que ganham efeitos especiais e ficamos impressionados com o que eles conseguiram fazer. Mas aqui, o mérito do efeito é justamente você não reparar nele, é não notar”, diz a protagonista. A quarta parede é eliminada em 'De Onde Eu Te Vejo', com Denise em contato com o espectador diversas vezes, olhando diretamente para a câmera. Algo que ela e Villaça já haviam feito em outros trabalhos, como na série 'Retrato Falado', exibida no 'Fantástico' (Globo). São Paulo também ganha um destaque diferente, com os personagens mostrando a evolução da cidade, tanto para o lado negativo quanto positivo. “É lindo ver São Paulo como um personagem a mais. A cidade é importante para o filme, porque o paralelo que o roteiro fez e o Luiz faz ao mostrar as construções e demolições, o tempo passando por ela, junto com esse casamento, fez a história ficar especial”, afirma Denise. A Capital, entretanto, está longe de ser a “participação” mais especial do longa. Juca de Oliveira, como o dono de um cinema de rua falido, tem uma cena comovente ao ver seu estabelecimento devorado pelo progresso. Já o restaurante de Fúlvio Stefanini, que acompanhou toda a relação do casal protagonista, dá espaço para um estacionamento. Mas quem rouba a cena é Laura Cardoso como uma ativa dona de uma casa que emperra a venda de todo um quarteirão. “Quando essa galera da pesada topou fazer o filme com a gente, a nossa felicidade foi tanta que chega a ser difícil explicar. Eles são a cereja do bolo”, reconhece a intérprete de Ana Lúcia. 'De Onde Eu Te Vejo' é um filme delicado, sutil, com diversas nuances para mostrar os problemas e prazeres de um relacionamento. Se o termo comédia ajuda a levar pessoas para vê-lo, mesmo sendo um romance, que assim seja. Só não dá para perder um bom filme nacional simplesmente porque ele foge do estilo que tem dominado o País. Aliás, um de seus méritos é justamente não ser só mais uma péssima comédia caça-níquel. SAIBA MAIS 'De Onde Eu Te Vejo', filme de Luiz Villaça com Denise Fraga e Domingos Montagner, chega aos cinemas no dia 7 de abril

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