Saiba onde encontrar peças de reposição para o toca-disco em Campinas
Arthur Amaral, de Campinas, segura uma agulha usada em discos de vinil (Leandro Ferreira/AAN)
Após o advento e consolidação do CD, nos anos 80 e 90, o disco de vinil foi dado como morto e enterrado. Ironia do destino, a era digital da música compartilhada pela internet chacoalhou a indústria fonográfica e praticamente condenou o compact disc à extinção. E no meio dessa guerra, o velho bolachão reconquistou uma fatia de mercado graças ao trabalho de colecionadores e cultuadores da sonoridade “analógica” dos LPs. De olho nesse nicho, as próprias gravadoras voltaram ao passado e passaram a apostar em edições especiais em vinil de trabalhos de grandes nomes da música.
Porém, um dilema surgiu: fazer a manutenção e repor peças dos toca-discos, principalmente as agulhas, essenciais para a leitura dos vinis, virou um problema. Apesar de existirem diversas marcas no mercado, tais como Akai, Crosley, Gemini, Gradiente, Gramafone, Hitachi, Ion-Usb, Kenwood, Leson, Numark, Ortofon, Philips, Pickering, Pioneer, Polivox, REF, Shure, Sony, Stanton e Technic, entre outras, poucas estão disponíveis fisicamente. A maioria, só pode ser adquirida via internet.
O Caderno C foi ao Centro de Campinas procurar por elas. Cabe aqui o jargão “foi como procurar agulha no palheiro” para classificar tal missão. Apenas três lojas comercializam o produto: A Sonora, Rick Som e TwoCamp (veja os endereços abaixo). A maioria das opções é de marca estrangeira — apenas a paulistana Leson faz as honras da casa. Ainda assim, há somente alguns tipos e poucos exemplares. Outros, se houver procura, são encomendados.
“De uns anos para cá, a procura por vinil tem aumentado. Consequentemente aumentou a procura por agulhas de vitrola. Pelo menos um cliente por dia vem atrás de agulha aqui na loja, mas a gente tem de buscar em São Paulo ou importar”, afirma o proprietário da A Sonora, Carlos Eduardo Gonçalves.
A Rick Som, há 45 anos no mercado, tem uma diversidade maior, porém poucas unidades de cada tipo. Entre agulhas magnéticas e de cerâmica, existem aproximadamente 60 modelos de marcas diferentes. “Temos um estoque e vamos repondo aos poucos, quando tem procura”, diz Dulce Carvalho Lima, dona da loja, que também compra o produto em São Paulo ou pela internet.
Já a TwoCamp optou por trabalhar exclusivamente com agulhas importadas. Adquire cerca de 30 unidades mensais de cada um dos 25 tipos de agulha disponíveis na loja. Segundo o supervisor André Luis Rosa, o aumento na procura começou há dois anos e está crescente. “Temos uma procura alta por parte de colecionadores de discos. A saída é grande, porque também repassamos para cidades da região”, diz.
Cada marca, segundo os comerciantes, possui variedade tanto de modelo, quanto de material. Os preços ficam entre R$ 10,00 e R$ 2 mil. Existe também uma de tecnologia japonesa de altíssima qualidade que chega a custar R$ 30 mil. A durabilidade também é bastante diversificada, dependendo da frequência de uso. Os modelos mais modernos duram cerca de 3 mil horas, enquanto os mais antigos têm vida útil de mil horas.
DJs
Se para as vitrolas comuns já é difícil encontrar agulhas, imagine para equipamentos profissionais, aquelas mais robustas e de durabilidade maior, usadas pelos DJs? Arthur Amaral, conhecido como DJ Digão, conta que quando precisa de agulha desse tipo vai à Rua Santa Ifigênia, reduto dos eletrônicos em São Paulo, ou importa pela internet. Apesar das dificuldades, não deixa de lado a boa e velha bolacha. “Dou prioridade ao vinil, tanto no meu trabalho como em casa. Tem gente que acha exagero, mas eu gosto mais do som do vinil, tem mais profundidade, traz a ambientação, sinto a acústica melhor. Isso sem falar na questão performática. Você tem o controle, sabe exatamente onde está a agulha”, diz ele.
Complementando o que disse Digão, o DJ Fred Jorge explica que no LP as frequências das músicas estão “abertas”, ou seja, mais perceptíveis aos ouvidos do que no CD. E cada modelo de agulha tem uma característica particular. “O CD comprimiu as informações. O vinil tem todas as frequências abertas. Uso agulha Shure M44, que é melhor para o estilo de música que eu toco, sons mais antigos ou que parecem antigos. A Shure, por exemplo, não é tão boa para música eletrônica.”
Além da dificuldade de adquirir o acessório, há mais um agravante. Mesmo com todos os cuidados básicos, a vida útil de uma agulha profissional é de um a dois anos. “Tanto o aparelho quanto o disco precisam de manutenção sempre. Cada agulha pede um peso ideal, como uma bula de remédio. Você pode estragar a agulha e o disco se colocar uma pressão maior”, avisa Fred Jorge.
Os DJs podem não ter onde comprar os acessórios de reposição em Campinas, mas sabem os caminhos do fornecedor, seja na Capital ou pela internet. Nesse sentido, estão em vantagem com relação aos amadores.
Guia de endereços (em Campinas)
A Sonora: Rua General Osório, 604 - Centro. Telefone: (19) 3236-1620
Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h; sábado, das 9h às 14h
Rick Som: Rua Barão de Jaguara, 1.090 - Centro. Telefone: (19) 3234-5268
Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h; sábado, das 8h30 às 13h
TwoCamp: Rua General Osório, 359 - Centro. Telefone: (19) 3231-6022
Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h; sábado, das 8h às 12h
Sebo Casarão: Rua Sacramento, 174 - Centro. Telefone: (19) 3234-4893
Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; sábado, das 9h às 13h
Clube do Vinil: Rua Cecira Pizzardi Pattaro, 176 - Vila São Jorge. Telefone: (19) 9141-1580
(Ligar para agendar horário)