Videoinstalação conta histórias de homens viúvos

Duas artistas, uma brasileira e outra italiana, mostram na exposição Viúvos – Vi Vendo, em cartaz a partir de amanhã no Museu de Arte Contemporânea de Campinas José Pancetti (Macc), como homens lidam com a viuvez, com a dor da perda de companheiras. A proposta tem como foco a desconstrução de estereótipos relacionados ao universo masculino. São histórias de viúvos que derrubam os clichês da masculinidade. O embrião do projeto surgiu em 2013 quando a diretora e artista visual Giovana Mastromauro perdeu a avó materna e recebeu uma ligação de sua outra avó. Na conversa, ela falou da ausência do avô que não chegou a conhecer – e cuja história não era um assunto tratado na família. “Foi como quebrar um tabu. No telefonema, minha avó contou coisas sobre ele que eu nem imaginava. Fazia 35 anos que ele tinha morrido”, conta. Além desta, outras duas exposições abrem amanhã no Macc: a mostra fotográfica O Que Mudou e Continua a Mudar, da artista visual argentina Estefania Gavina; e Pequenos Formatos, um recorte do acervo do Macc. As duas primeiras foram contempladas pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (Ficc). Giovana, que é doutora em História pela Unicamp, documentarista e artista visual, tinha acabado de encerrar uma exposição em Campinas que abordava, por meio de uma instalação, doenças psicossomáticas desenvolvidas após o término de um relacionamento amoroso. E decidiu gravar o depoimento da avó. Logo depois foi para a Itália e conheceu a artista Laura Cionci e, juntas, fizeram várias entrevistas desde então. No momento da edição, decidiram fechar o foco sobre as falas dos entrevistados homens. O resultado é um diálogo direto das artes visuais com o cinema. A videoinstalação propõe um espaço de reflexão, de pausa e de atenção através de imagens e testemunhos de homens viúvos captados no Brasil e na Itália, num processo que durou 5 anos. “Vivendo em uma sociedade machista, o homem não tem o direito de se emocionar, de se entregar, de chorar. E, para revelar não só a verdade, mas a realidade do homem que está pleno de sentimentos, emoções e conflitos com ele mesmo, Viúvos – Vi Vedo se propõe à descoberta de sentimentos e histórias que a nossa sociedade esconde individualmente, por ignorância ou interesse”, diz Giovana. Segundo ela, os protagonistas são homens que amaram e amam suas companheiras e estão em uma condição de dificuldade emocional e psíquica. As gravações dos depoimentos foram realizadas na região de Nápoles e Roma, na Itália, e em Valinhos, no Brasil. Ao longo do processo, as duas artistas buscaram, por meio das histórias pessoais, descobrir o lado emocional do homem. Para isso, optaram por uma espécie de trabalho artesanal, com o auxílio somente de uma câmera e um microfone para alcançar a intimidade dos entrevistados. A mostra reúne quatro vídeos e 22 fotografias. Em uma das salas, o público confere um mini-documentário de 25 minutos que projeta depoimentos de homens que perderam as companheiras, paisagens italianas e cenas internas da casa onde os casais viveram. Nesta sala será reconstituída uma sala de estar, com bancos, cadeiras e mesa de centro, além de fotografias e textos curatoriais do projeto. Esquecidos Em O Que Mudou…, Estefania, radicada há 19 anos no Brasil, traz, por meio de uma série de fotografias, uma escuta da artista aos clamores de objetos e fotos “esquecidos”, de casas em processo de demolição em Campinas. No trabalho, além de registrar a demolição de residências antigas, Estefania ofereceu aos pedreiros a oportunidade de serem fotografados em ação. A artista faz ainda um acolhimento de coisas esquecidas ou abandonadas pelos antigos moradores dos imóveis. A exposição Pequenos Formatos reúne 25 obras do acervo do Macc, de artistas expressivos da cena nacional como Vânia Mignone, Vera Ferro, Geraldo Porto, Geraldo Paranhos, Zé Cordeiro, Geraldo Ramos, entre outros. AGENDE-SE O que: Viúvos Vi Vedo; O Que Mudou e Continua a Mudar; Pequenos Formatos Quando: amanhã, às 19h. Até 31/3, de terça a sábado, das 10h às 18h (fechado domingo, segunda e feriados) Onde: Macc (Av. Benjamin Constant, nº 1.633, Centro) Quanto: entrada franca