O convite do Zeza Amaral para Paulo Pugliesi ser arranjador de um disco chegou em meados da década de 80. Na verdade, os dois já eram grandes camaradas
Paulo Pugliese faz, juntamente com um time de profissionais de primeira, os últimos retoques na partitura (Divulgação)
O convite do Zeza Amaral para Paulo Pugliesi ser arranjador de um disco chegou em meados da década de 80. Na verdade, os dois já eram grandes camaradas. Zeza tinha feito parte da Banda do Brejo, que tocava em bailes pelo Brasil todo. Conjunto que tinha, entre os fundadores, o tecladista Zé Luiz Rivero, parente do arranjador. Juntos, os dois também participaram do Projeto Guarani, produzido e dirigido por Zeza em 75. No evento, Pugliesi foi premiado pela condução de arranjos para orquestra. Foi a partir daquele evento que a Sinfônica de Campinas se notabilizou pela execução de músicas populares, em apresentações nos bairros. Então, veio naturalmente o convite para que Pugliesi fizesse o arranjo para as faixas do disco Clareia. O detalhe, no entanto, é que a gravadora colocou à disposição da dupla um time de instrumentistas de primeira. Privilégio raro. Um deles, por exemplo, era Oswaldinho do Acordeon. “A RCA tinha uma orquestra. O disco do Zeza foi gravado com oboé, flauta, sax, trombone… Até eu fiquei surpreso com o resultado”, conta o arranjador. Mas surpresa mesmo foi o aviso telefônico da gravadora sobre a conquista do prêmio. A dupla ganhou a passagem de avião, e dividiu os assentos da plateia com as feras consagradas. De volta a Campinas, com o troféu na mão - e um prêmio em dinheiro “que não deixava ninguém rico”, segundo Paulo Pugliesi - os amigos seguiram caminhos distintos. Zeza Amaral, além de cantor e compositor, desde a década de 70 era repórter policial e cronista do Diário do Povo. Seguiu no jornal, e não gravou mais disco algum. Ele lembra que, apesar de premiado, não foi prestigiado pela gravadora, que logo em seguida se desfez do próprio patrimônio. Pugliesi usou seu talento para arrumar uma rendinha extra em outro setor, o da propaganda, e passou a compor arranjos para peças publicitárias. Mas, até 2002, ele trabalhou e sobreviveu como professor do Departamento de Música da Unicamp, e de lá só saiu quando se aposentou. Hoje, ele diz que nem seria reconhecido se passasse por lá. Mas admite que teve o prazer imenso da ajudar na formação de centenas de músicos. Os dois amigos não se encontram há um tempão. Desde a época da mesinha de bar, com os amigos ao redor. Mas a dupla se entusiasmou com as entrevistas (individuais) para esta reportagem. E já estão marcando uma prosa lá pela chácara do Guará, regada à muita música boa e lembranças melhores ainda.