Novo filme da saga Mad Max estreia nos cinemas trazendo o passado da personagem de ‘Estrada da Fúria’, agora interpretada por Anya Taylor-Joy
(Divulgação)
Em um mundo onde homens imperam, lideram e decidem pela sobrevivência dos outros, e as mulheres são relegadas a ferramentas para procriação, emerge Furiosa, recusando os papéis que queriam lhe impor e forjando a duras penas o seu próprio caminho. A personagem escolhida pelo diretor George Miller para protagonizar o novo filme de sua saga, tão associada ao gênero masculino, traz às telonas a brutalidade que erroneamente é dissociada da força feminina. “Furiosa – Uma Saga Mad Max” estreia hoje nos cinemas e apresenta uma história que começa anos antes de “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015). O filme acompanha a vida pregressa daquela que será conhecida como Imperatriz Furiosa.
O CORREIO JÁ VIU
Uma confissão: torci bem o nariz para a ideia de um filme derivado de “Mad Max: Estrada da Fúria” sobre o passado de Furiosa. Não me parecia interessante explorar uma trama que havia sido muito bem resolvida com elementos e diálogos sugestivos, bastante significativos quando somados a uma grande interpretação de Charlize Theron, dentro do curto espaço de tempo em que se passa a trama do filme. Mas – e que ótimo – o diretor e co-roteirista George Miller tinha outras ideias. Muitas delas e várias muito boas, como podemos ver em “Furiosa”.
No novo filme, nos sentimos dentro daquele universo estabelecido por “Estrada da Fúria”, mas ao mesmo tempo é uma trama completamente diferente. Enquanto no longa anterior a intensidade vinha da urgência de resolver uma situação em que tudo se passa em poucas horas, “Furiosa” é um épico sobre vingança que chega a ser dividido em capítulos. O agravamento de intensidade vem da natureza do arco da protagonista, repleto de violências que levam a uma busca por vingança. Ainda que tenha esse caráter épico, o longa em momento nenhum é lento, mas sim, alucinante do início ao fim.
“Furiosa” traz uma boa expansão de muitos elementos citados em “Estrada da Fúria”: Vila Gasolina e Fazenda de Balas ganham cenário, são palco de sequências de ação importantes e deixam mais evidentes as delicadas relações sociais e econômicas que existem neste mundo desértico devastado. O roteiro equilibra momentos de desaceleração para construção de muitos dos dramas que acompanham a jovem Furiosa com outros de pura adrenalina.
Muito se discutiu previamente sobre a informação de que a protagonista teria apenas 30 linhas de diálogo no filme. Bom, ela não precisa de mais do que isso. O cinema de George Miller, com “Mad Max”, sempre foi muito visual e ele se vale muito do impacto da imagem para contar a história. Dado tudo o que ela viveu, faz muito sentido ser calada e as suas poucas falas da personagem não a tornam rasa. Pelo contrário, pois a expressiva Anya Taylor-Joy aproveita bem a falta de textos para decorar, para estampar no rosto e no olhar as emoções de Furiosa. Quando ela fala, cada sílaba importa.
Chris Hemsworth, o eterno Thor dos filmes da Marvel, está praticamente irreconhecível por causa da caracterização somada à atuação. Esqueça o ator galã com o qual estamos mais acostumados. Seu personagem Dementus é desprezível de todas as maneiras. É perceptível a transformação em cores da capa que o antagonista usa. No começo, enquanto ele busca manter a aura de líder racional e intelectualmente superior, é branca. Ela passa a ficar vermelha de sangue conforme crescem as suas ações violentas e, por fim, o tecido vai sendo tingido do preto do petróleo, evidenciando não só a sua ganância, mas também como a corrupção de sua alma não pode ser mais disfarçada. E é tomada dele, passada adiante.
Durante as 2h28 de duração, o filme entrega drama e ação de tirar o fôlego, do tipo que deixa o público tenso na poltrona, ao mesmo tempo que anseia por mais. Mesmo com meses pela frente para finalizar 2024, já é possível cravar que “Furiosa” é uma das grandes experiências cinematográficas do ano.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.