CINEMA

Uruguai e Brasil chamam a atenção em Gramado

'El Padre de Gardel' e 'Tatuagem' mobilizaram as atenções no evento

João Nunes
correiopontocom@rac.com.br
13/08/2013 às 15:19.
Atualizado em 25/04/2022 às 05:29

Tatuagem, do pernambucano Hilton Lacerda, foi exibido domingo no Festival de Cinema de Gramado ( Divulgação)

Um uruguaio, em coprodução com o Brasil, e um brasileiro são os dois primeiros destaques do 41º Festival de Cinema de Gramado, que termina no sábado. 'El Padre de Gardel', de Ricardo Casas, e 'Tatuagem', do pernambucano Hilton Lacerda, ambos exibidos no domingo, mobilizaram as atenções até aqui. O primeiro conta a inacreditável história do suposto pai do mito da música argentina, Carlos Gardel. Que o cantor e compositor tenha sido uruguaio confronta a tese argentina de que ele nasceu em Toulouse, França, e veio pequeno para Buenos Aires. Porém, o filme não nega a passagem de Gardel por Toulouse, mas prova quase de modo incontestável que ele nasceu em Tacuarembó, Uruguai.Pior: nasceu de um pai de vida muito complicada. O coronel Carlos Escayola era autoritário, prendia os inimigos em calabouços, e casou com três irmãs na sequência, além de ter tido uma filha com a sogra. Filha que viria ser a mãe de Gardel, portanto, ele era filho da filha do pai.O caso incestuoso é apresentado por meio de livros, documentos e, principalmente, depoimentos de historiadores, moradores de Tacuarembó, e familiares de Escayola. Diante da tragédia familiar, Gardel teria sido isolado em um povoado e, mais tarde, enviado a Buenos Aires, de onde partiu para a França.Obviamente, tudo pode ser questionado, pois são pesquisas, mas nada comprovado de modo irrefutável. Uma jornalista argentina em Gramado elogiou o filme e o justifica dizendo que está tão bem fundamentado que ela não tem argumentos contrários. Outro jornalista argentino igualmente gostou do filme, conversou com o diretor e o elogiou pelo trabalho.A história é espetacular. A maneira como as provas vão sendo demonstradas, também. E de repente embarcarmos nessa aventura que há décadas gera polêmica entre os dois países. Há quem demonstre que ele tem uma certidão de nascimento na França. O filme mostra a certidão de quem nasceu no Uruguai.Uma polêmica saudável que, de modo simpático, o filme levanta. Depois da exibição, um jornalista brasileiro brincou que está fazendo um filme provando que Diego Maradona é paraguaio e que o papa Francisco, de fato, nasceu na Itália.BrasileiroO roteirista pernambucano Hilton Lacerda finalmente exibiu pela primeira vez seu primeiro longa-metragem, 'Tatuagem'. E pegou pesado. Trata o universo homossexual com franqueza poucas vezes vistas no cinema. Não tem medo de cenas de sexo nem do linguajar erótico que embala a relação dos protagonistas.Mas em momento algum qualquer cena, diálogo ou ações caem na vulgaridade porque o filme tem dois caminhos muito sérios. Um deles é a descoberta de vida de Fininha (o ótimo Jesuíta Barbosa), rapaz que vai para o exército em plena ditadura, descobre a homossexualidade e conhece o agitador cultural Clécio (Irandhir Santos), que tem um cabaré anarquista.O outro é político. Em 1978, o grupo teatral, que lembra muito o Dzi Croquettes, usa o teatro do puro deboche para contestar a falta de liberdade e de expressão. Dramaturgicamente, há um ótimo gancho: o libertário ator se apaixona por um soldado do exército.Em que pese o tema que espanta muita gente, o filme é arrebatador. Não só pelo ótimo roteiro do próprio diretor, mas pelos climas que ele cria: as tensões onipresentes e os escapes que prevê por meio das encenações teatrais. Há uma alegria que joga o filme para cima — apesar dos dramas.

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