Novidade no cinema, 'Mato sem Cachorro' é estrelado por um cão da raça english shepherd narcoléptico
Cena do longo brasileiro 'Mato Sem Cachorro', que tem direção de Pedro Amorim ( Divulgação)
Mais uma comédia nacional estreia nos cinemas nesta sexta-feira (4): 'Mato sem Cachorro'. Mas dessa vez, pelo menos, a temática é um pouco diferente das muitas outras que pipocaram nos últimos tempos nas telonas.A estrela do longa é um cachorro. E um cão nada comum, já que ele sofre de narcolepsia — cai no sono toda vez que fica muito excitado. O objetivo da produção, porém, é o mesmo: faturar. E quando simplifico apenas como faturar, é que essa preocupação supera todas as outras, como o produto em si. Ou seja, insere todo tipo de piada escrachada e situações escabrosas na tentativa de dialogar com um maior número de pessoas e, assim, ter uma bilheteria exorbitante. Mesmo que para isso a qualidade seja sacrificada. Com o recado dado, é importante ressaltar, entretanto, que 'Mato sem Cachorro' pode se orgulhar de ser superior ao que o mercado vem oferecendo. Além do protagonista inusitado, o longa faz um trabalho forte em mashup — canções criadas a partir de outras já existentes, normalmente pela transposição do vocal de uma canção em cima do instrumental de outra, de forma a se combinarem. Tanto que 'Mato sem Cachorro' começa com o clipe da irritante 'Ai Se Eu Te Pego', de Michel Teló, em versão lenta e acompanhada por ninguém menos que John Lennon. Ficou ótimo. E é apenas uma das muitas misturas criativas e originais que o filme apresenta.“Criar essa feijoada musical foi muito difícil porque ela tinha que ser real. Veio de muito ensaio, de muitas tentativas, foi uma preparação forte e que com certeza é um dos pontos fortes do filme”, explicou Pedro Amorim, diretor do filme.Além disso, 'Mato sem Cachorro' tira seus atores e agregados (com algumas exceções) da zona de conforto. Algo ousado e bom de ver. Sandy fazendo piada dela mesma, ao ponto de aparecer bêbada e vomitando em cena, não é nada comum. Bruno Gagliasso, em seu primeiro longa, dá carisma a um jovem sujo e acomodado, o Deco. Leandra Leal, como Zoé, o par romântico de Deco, também estreia em comédia no cinema, apesar de a personagem ser a mais contida no longa. Gabriela Duarte faz uma ótima participação como uma hilária periguete boca suja — aliás, prepare-se, como toda comédia nacional, os palavrões dominam as cenas. E, o melhor de tudo, é ver Elke Maravilha de cara limpa, como uma velhinha em fase terminal. Muitos nem saberão que é ela.“O filme flerta muito com o universo jovem e pop. De um modo geral, ele é muito eclético, porque traz desde o rock mais pesado até o pop antigo tradicional. Além das demais tramas. O elenco é eclético, tem atores dramáticos, humoristas, pessoal de teatro, cachorro. E ter a Elke fazendo a velhinha é um máximo porque funciona quase como uma mensagem subliminar. Uma pessoa que está no subconsciente coletivo, que foi jurada do Silvio Santos, totalmente descaracterizada. E ela topou na hora e adorou o desafio”, completou Amorim.O problema está no roteiro. Danilo Gentili faz boas piadas, como não poderia ser diferente, mas ele simplesmente não encarna um personagem e exagera. É ele mesmo em todos os momentos. Quando tenta ser diferente, seu desconforto chega a incomodar. O humor, aliás, de forma geral, é exagerado, principalmente nas duas microcenas de Rafinha Bastos. Tudo se estende demais. Damos algumas risadas. Mas cansa.No filme, Deco conhece Zoé quando ele quase atropela Guto — que, claro, desmaia. Os dois se apaixonam e adotam o cão. Dois anos depois, Deco está na fossa porque Zoé o largou e levou Guto com ela. Para piorar, ela está namorando o dono de uma pet shop esotérica (Enrique Díaz) e Deco foi processado por Sandy após colocar um vídeo dela na internet.