CRÍTICA

Uma boa comédia de erros brasileira na telona

Assim é 'Vai que Dá Certo', filme de Maurício Farias em cartaz nos cinemas

João Nunes
correiopontocom@rac.com.br
23/03/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 23:26

Cena do filme brasileiro 'Vai que Dá Certo', que tem direção de Maurício Farias (Divulgação)

As imagens iniciais de um bando de homens jogando pelada, falando besteiras e se agredindo na base da brincadeira em 'Vai que Dá Certo', filme de Maurício Farias que estreou esta sexta-feira (22) nos cinemas, acende o alerta laranja: estamos diante de mais um exemplar de comédia brasileira monotemática (sobre sexo), apelativa e repleta de humor grosseiro. Felizmente, o alerta é falso.

Com uma e outra dispensável escatologia (ou não seria comédia brasileira), o filme se mostra bem arquitetado comédia de erros ao narrar o reencontro de quatro amigos de adolescência na festa em que evidencia o tamanho do fracasso profissional deles.

A partir de história real (sujeito íntegro se envolve em assalto), o cineasta criou argumento em que pessoas e situações parecem de verdade — ainda que cinema seja apenas representação da realidade. Há o músico fracassado Rodrigo (Danton Mello), dois irmãos (Fábio Porchat e Gregório Duvivier) que sobrevivem de loja pangaré de games com apenas um cliente, e professor de inglês (Felipe Abib).

Afeiçoamo-nos ao grupo porque há ingenuidade evidente nos personagens, pessoas dispostas a superar os obstáculos, porém impedidas pelas circunstâncias. Aqui reside a principal força do filme: a capacidade de fazer o espectador acreditar que os personagens são de carne e osso — e isso faz toda a diferença em relação a outras comédias nacionais recentes.

O plano começa com o encontro do músico e seu tio (Lúcio Mauro Filho), que trabalha como motorista de transportadora de dinheiro. Assaltar o carro-forte resolveria o problema de todos. Sem serem ladrões profissionais, a trupe cai facilmente numa armadilha. Ao se darem mal, precisam pagar a dívida contraída, mas também se dão mal.

O roteiro se apoia em crítica lugar-comum, porém a fundamenta bem no modo como narra a história a partir de algumas constatações: os demasiados lucros dos bancos, a corrupção policial, a violência dos traficantes e a canalhice dos políticos — quarteto de disposições que poderia ser sintetizado como os “males do Brasil são”.

Como a premissa de que não é pecado roubar ricos esbarra nos policiais desonestos e nos traficantes brucutus, a opção é imitar as ações dos políticos e se apropriar do bem público. Estabelece-se, portanto, uma batalha entre o poder (econômico, o constituído e o paralelo) de um lado e os azarados pé-rapados de outro. Porém, se os poderosos são execráveis, o povo (representado nos quatro rapazes) é, igualmente, venal. Portanto, condenável.

Eis um ponto de inflexão interessante: adoramos falar mal de políticos, polícia e traficantes (com razão). Mas na primeira oportunidade que o bom rapaz Rodrigo (nós) tem de praticar uma contravenção ele não titubeia. Claro, estamos na comédia e não há muito espaço para reflexões, mas um dos atributos do humor é a crítica aos costumes.

E a direção fez bem em fugir aos clássicos cristos redentores e pães de açúcar presentes em dez de dez filmes cariocas. Como filmou na região de Campinas, a história se passa supostamente no Interior de São Paulo com direito a sotaque caipira — um tanto forçado, mas cheio de boas intenções.

O elenco está bem, mas não há como não destacar Gregório Duvivier (repare a cena do personagem dele encantado com os games na sala do deputado vivido por Bruno Mazzeo) e Fábio Porchat, dois bons atores/humoristas. E este ainda tem talento para a escrita. O roteiro, que teve vários colaboradores incluindo o diretor, se fechou com diálogos assinados por Fábio e que dão o toque final ao filme: roteiro bem planejado repleto de afiados diálogos.

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