OFICINA

Um novo olhar sobre Carlos Gomes aborda a questão racial

O cineasta e antropólogo Cauê Nunes dará uma oficina gratuita amanhã para interessados em conhecer o músico sob uma perspectiva histórica e racial

Cibele Vieira/[email protected]
29/03/2025 às 09:56.
Atualizado em 29/03/2025 às 13:23
Na oficina, Cauê Nunes abordará o preconceito racial sofrido por Carlos Gomes e mostrará caricatura do maestro (caracterizado como índio Perry) publicada na Gazzetta Musicale de Milão (Divulgação; Reprodução; Reprodução)

Na oficina, Cauê Nunes abordará o preconceito racial sofrido por Carlos Gomes e mostrará caricatura do maestro (caracterizado como índio Perry) publicada na Gazzetta Musicale de Milão (Divulgação; Reprodução; Reprodução)

Embora circulasse pelos espaços elitistas que dominavam a música erudita, o maestro Carlos Gomes (1836 - 1896) sofreu com o preconceito racial. Filho de pai negro e mãe com ascendência indígena, ele chegou a ser chamado de 'selvagem' na Itália, por ser brasileiro e pelo tom de sua pele. Usando as lentes da antropologia e as teorias raciais do século XIX como base de sua pesquisa, o cineasta Cauê Nunes oferece amanhã, às 15h, no Centro de Ciências, Letras e Artes, uma oficina gratuita que investiga a figura do músico sob uma nova perspectiva histórica e racial. "É uma oportunidade para os que apreciam a música e a obra de Carlos Gomes, que têm curiosidade sobre a história de Campinas e seus ilustres personagens, e se interessam por esse debate étnico, que permanece válido e profundamente relevante nos dias de hoje", afirma Nunes.

"Carlos Gomes e o debate étnico do século XIX" é o nome da oficina que pretende fazer uma costura entre a vida e obra do maestro e compositor campineiro com o debate racial. "Partimos do aspecto de quem ele era e de como lidou com o preconceito em sua vida e no seu trabalho, lembrando que duas de suas grandes obras — as óperas 'O Guarani' e 'O Escravo' — trazem protagonistas indígenas", explica o cineasta. De acordo com ele, que também é professor universitário, as pesquisas envolveram análise da imagem pública construída sobre Carlos Gomes ao longo dos anos, bem como a imagem que ele tinha de si, as escolhas que guiavam o conteúdo de seu trabalho, e a sua relação com o Império.

"A vida e a obra do compositor Carlos Gomes já foram retratadas em muitos livros, mas o ineditismo desse projeto está no recorte escolhido, acrescentando novas camadas de leituras às já existentes sobre o artista", explica Nunes, idealizador do projeto. Ele acrescenta que "a cultura nacional da época do 2º Reinado também é um aspecto importante desse estudo, pois D. Pedro II foi um mecenas da arte, que girava em torno da criação do 'povo brasileiro' e da construção de uma identidade nacional para aquele momento".

A oficina faz parte do projeto "Partituras Brancas", realizado por edital da Lei Paulo Gustavo e contemplado na categoria de desenvolvimento de longa-metragem, que envolve a elaboração do roteiro e do plano de negócios para futura realização de um documentário.

Além de cineasta e antropólogo, Cauê Nunes é professor dos cursos de Ciências Sociais e Cinema e Audiovisual da PUC-Campinas e proprietário da produtora 2.8 Filmes. Atualmente, realiza seu primeiro longa-metragem, o documentário "Ancestralidade, Presente", em parceria com Ancine e Canal Curta. Tem no currículo nove curtas-metragens e 11 prêmios em festivais de cinema. Metade das vagas da oficina é destinada a estudantes de escolas públicas, pretos, pardos, pessoas com deficiência e universitários bolsistas.

PROGRAME-SE

Oficina ‘Carlos Gomes e o debate étnico do século XIX’

Quando: Domingo, dia 30, às 15h Onde: CCLA - Rua Bernardino de Campos, 989, Centro, Campinas

Entrada Gratuita - requer inscrição prévia (link do instagram @2.8Filmes)

Informações: (19) 3231-2567 / https://ccla.org.br/ 

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