CULTURA

Um novo olhar para a cultura indígena

O Museu da Cidade atualiza seu acervo sobre a etnografia indígena e torna-se um dos poucos locais do país a ter uma coleção desse tipo tão importante

Cibele Vieira/[email protected]
26/06/2024 às 17:31.
Atualizado em 26/06/2024 às 17:31
Objetos da cultura de diferentes grupos indígenas estão em exibição no Museu da Cidade, como a grande panela de cerâmica doada por Orlando
Villas-Bôas, uma alegoria de pesca da Ilha do Bananal (Tocantins), adornos corporais de arte plumária, instrumentos musicais e armas de caça (Divulgação)

Objetos da cultura de diferentes grupos indígenas estão em exibição no Museu da Cidade, como a grande panela de cerâmica doada por Orlando Villas-Bôas, uma alegoria de pesca da Ilha do Bananal (Tocantins), adornos corporais de arte plumária, instrumentos musicais e armas de caça (Divulgação)

Pensar na cultura indígena como algo estereotipado, exótico ou lendário ficou no passado. Hoje, a história ancestral dos povos indígenas vem sendo atualizada com novos recursos de informação e ferramentas digitais, colocando-a dentro de um contexto que permite observar sua influência no cotidiano das pessoas. É com a proposta de dar mais visibilidade a essa cultura que o Museu da Cidade atualizou seu acervo para a exposição permanente de Etnografia Indígena, que fica aberta à visitação gratuita de terça a sexta das 10 às 12h e das 14h às 17h, e aos sábados das 10h às 14h, na Casa de Vidro, dentro do Lago do Café, no Taquaral. 

São 58 peças de diferentes tipos, como os objetos de trançado (cestarias), cerâmicas (recipientes e estatuetas), adornos corporais de arte plumária, cuias de cabaça, instrumentos musicais (flautas e maracás) e as armas de caça, de guerra e de cerimônias. Essas peças integram o acervo do Museu da Cidade e contemplam a cultura material de 14 comunidades localizadas nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas, Tocantins, Goiás e São Paulo. A maioria das peças foi adquirida durante a década de 1960 pela atuação do professor Desidério Aytai, engenheiro e antropólogo de origem húngara naturalizado brasileiro. 

Aytai – que já atuou como professor da PUC-Campinas – empreendeu visitas etnográficas a comunidades indígenas espalhadas por diferentes regiões do País para subsidiar suas pesquisas acerca dessas culturas, em especial, de suas práticas musicais e produções materiais. Nesse período, o antropólogo adquiriu, por compra ou troca, diversos objetos da cultura material de diferentes grupos indígenas, que hoje compõem acervos museológicos de várias instituições. Mas o acervo do Museu da Cidade tem também peças etnográficas cedidas nas décadas de 1970 e 1980 por outros doadores. Elas vieram de comunidades como os Xavante, Bororo, Paresí, Karajá, Nambikwara, Guarani, Kadiweú, Terena, Tiriyó, Tukano e os povos do Xingu. 

ACESSO E CONTEXTO ATUALIZADOS 

A coordenadora do Museu da Cidade, Adriana Barão, ressalta a importância da coleção exposta, lembrando que esse tipo de acervo existe em poucos locais. Ela lembra que o Museu Nacional tinha uma coleção semelhante, mas foi perdida no incêndio que ocorreu em 2018. No ano passado, o graduando em História na Unicamp, João Lucas Duarte, participou da equipe responsável pela catalogação digital do acervo, motivado pelo interesse que tem no tema. Este ano, ele deu continuidade ao trabalho fazendo intervenções pontuais no espaço expositivo, inserindo informações de contexto mais acessíveis, além de padronizar etiquetas e cartazes com o contexto original dos objetos, e o uso de recursos midiáticos, como os QR Codes que levam a informações mais detalhadas. 

“O principal potencial da exposição não é simplesmente apresentar objetos, mas ajustar uma dimensão adequada que permita aos visitantes entrarem em contato com a realidade histórica, cultural e temporal, de maneira instigante e ampla. O objetivo é permitir que as pessoas observem os significados e desenvolvam percepções sobre esses povos, além de encontrar conteúdos interessantes”, comenta Duarte. 

Ele destaca, entre as peças expostas, uma grande panela de cerâmica que foi doada por Orlando Villas-Bôas em sua visita à cidade de Campinas em 1964. Ele conta que “apesar de ter sido adquirida entre os Mehinako, a panela provavelmente foi fabricada pelos Waujá, povo xinguano de importante tradição ceramista que costuma trocar suas produções com povos vizinhos, como uma rede comunitária”. 

Outro objeto observado por Duarte é uma estatueta de cerâmica dos Karajá, uma alegoria de pesca que veio da Ilha do Bananal (Tocantins). Ele explica que a fabricação desse tipo de objeto tem uma função pedagógica de ensinar as tradições. “No contexto de confecção das ritxoko, existe sempre uma ceramista modelando uma figura e contando histórias do tempo antigo, rememorando as conquistas dos heróis fundadores, os conflitos com outros grupos étnicos e os mitos que constroem a identidade do grupo, como forma de ensinar às crianças e aos jovens as histórias do povo. Por isso, o formato, as decorações com o grafismo e os enfeites indicam o gênero e a classe de idade, além de representarem cenas do cotidiano, dos rituais e outras.”

PROGRAME-SE 

Exposição Culturas Indígenas 

Quando: das terças às sextas-feiras, das 10 às 12h e das 14h às 17h, e aos sábados, das 10h às 14h. 

Onde: Museu da Cidade — Casa de Vidro, no Lago do Café, Av. Heitor Penteado, s/nº, Taquaral, Campinas 

Entrada gratuita 

Informações: Instagram @museudacidadecampinas

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