ENTREVISTA

Um novo 'homem de preto': Dan Stulbach comanda o 'CQC'

Em bate-papo com o Caderno C, o ator e diretor, disse que sua experiência com Fátima Bernardes, na Globo, e no 'Saia Justa', do GNT, lhe deu estofo para encarar nova empreitada

Fábio Trindade
05/03/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 01:03
Da esquerda para a direita: Rafael Cortez, Dan Stulbach e Marco Luque, que lideram a bancada do 'CQC' 2015, na Band ( Divulgação)

Da esquerda para a direita: Rafael Cortez, Dan Stulbach e Marco Luque, que lideram a bancada do 'CQC' 2015, na Band ( Divulgação)

Dan Stulbach surpreendeu o meio televisivo ao anunciar que deixaria a Globopara assumir a bancada do novo 'CQC', que estreia na próxima segunda-feira (9), às 22h45. O programa, que perdeu Marcelo Tas após sete anos à frente da atração, estava em busca de um nome de peso para seu lugar, mas ninguém esperava que a Band conseguiria o então substituto da apresentadora mais visada da Globo no momento, Fátima Bernardes. Aliás, a experiência que teve no 'Encontro', e também como um dos apresentadores do 'Saia Justa Verão', do canal GNT, foi o que deu segurança ao ator para mudar, além do fato do 'CQC' já ser um projeto conhecido do público e de seu desejo antigo de ter seu próprio programa. Com contrato de dois anos com a Band, Dan afirma não ter medo de comparações e que está se preparando muito, principalmente com programas internacionais, para assumir o cobiçado posto ao lado de Marco Luque e Rafael Cortez. Caderno C — Qualquer pessoa que entra no lugar de outra sofre comparação, isso é inevitável, principalmente quando é no mundo artístico. Como você encara isso? Dan Stulbach — Eu não tenho medo de comparações, isso é fato. Simplesmente porque eu não me preocupo com elas. Eu não estou substituindo uma pessoa, mas uma função, e acho que comparações nem deveriam acontecer porque é natural o Tas fazer do jeito dele e eu do meu. E se alguém, no futuro, vier a assumir a mesma posição, deve fazer do jeito dela. Eu sei que o Tas é a única referência nessa posição, e ocupou o lugar muito bem e por muito tempo, mas eu não vim para o programa pensando em fazer o que ele fazia ou se eu justamente tenho que fazer exatamente o contrário para ser diferente. Eu vou achar a minha maneira de fazer. E quanto mais próprio eu for, mais prazeroso será para mim e para quem está vendo. As comparações são inevitáveis, naturalmente, mas eu só peço um pouco de paciência e carinho do público porque eu preciso de tempo para desenvolver esse trabalho.Mas como você tem se preparado para a função?   Desde que fui chamado, eu passei a assistir mais programas com apresentadores, que era algo que eu não fazia. Como ator, eu me inspirei em vários caras, mas nunca quis ser apenas um. Quando eu fiz a Fátima ('Bernardes'), eu fiz mais por intuição, até porque é um estilo bem diferente, mais solto. Desta vez está sendo diferente, e eu passei a ver muito mais pessoas que eu não conhecia, principalmente americanos, que são muito bons nisso. E sabe que eu passei a admirar mais os apresentadores agora, que estou analisando friamente o trabalho deles. Realmente é preciso talento. Tudo ajuda. Eu assisti ao Oscar e achei o apresentador (Neil Patrick Harris) muito fraco, mas fiquei reparando nos gestos dele, como ele se portava. Essas coisas me dão uma noção dessa função, porque vou fazer o melhor possível para fazer um bom programa.Usando o exemplo do Oscar, a apresentação do Neil era muito aguardada, com expectativas altíssimas, e foi um grande fiasco, o que mostra que apresentar um show é algo cheio de surpresas. Isso te preocupa, já que todos vão querer ver como o Dan Stulbach vai se sair à frente do 'CQC'? Não há como atuar, como apresentar um programa como esse, sem uma dose de risco. É evidente. Há uma dose de fracasso, de erro, que está sempre presente. Curiosamente, é isso que te faz avançar, o que te faz evoluir. Não por medo, mas porque o risco existe. Vou elaborar um pouquinho aqui para dar minha resposta, tudo bem para você?Sem dúvida. Pode elaborar.   Vamos lá. Há uma frase do Steve Jobs que diz que se você lembrar que tudo é passageiro, que um dia vai morrer, é idiota você acreditar que tem algo a perder. Esse é um ponto. E aqui é onde vou elaborar. Eu era muito amigo do Paulo Autran. A gente fez uma peça juntos, a gente tinha uma forte amizade, e ele foi o maior ator que este País já teve. Quando ele morreu, eu estava em Nova York e voltei dois dias depois porque a Karin (Rodrigues, mulher) ia jogar as cinzas dele no jardim. No dia que a gente jogou, três dias depois, já não tinha mais nenhuma nota sobre ele em jornal algum. Três dias depois ele já tinha sumido, não para mim, mas oficialmente. Então também é isso. O Paulo passou. Tudo passa. O importante é fazer o melhor possível. Eu acredito nisso piamente. Vou ficar muito triste, tocado, se as pessoas não gostarem, se a gente não agradar. Mas vou ficar triste mesmo se eu não tiver fazendo o meu melhor. Só isso.Se antes a Globo “roubava” os principais artistas das emissoras concorrentes, hoje há muita gente deixando a TV carioca por projetos que consideram melhores em outros canais. As pessoas estão insatisfeitas na Globo?   Eu acho que há uma nova televisão no Brasil. A política da Globo agora é manter menos contratos fixos. Eu não tinha contrato fixo há muito tempo por opção minha, mas muita gente tinha porque queria e acabou perdendo. Ou seja, as pessoas estão mais livres para convites de outras emissoras. Isso é um fato. O outro é que a televisão está mudando e, naturalmente, nós vamos entrar numa nova era, parece meio mítico dizer isso, mas é muito palpável, de internet e televisão a cabo, onde as coisas vão se dividir mais. Posso estar errado, mas me parece claro que a audiência de todos os lugares estão diminuindo, simplesmente porque estão se dividindo, se segmentando. A TV 'on demand' (sob demanda) vai chegar forte aqui, que é ligar sua TV, na hora que você quiser, para ver o programa que quiser, no tempo que desejar. Isso vai segmentar a audiência. E a Globo, eu conversei sobre isso com algumas pessoas lá, é uma emissora muito atenta as mudanças, uma emissora focada em qualidade, admiro muito o trabalho que é feito lá, mas de alguma maneira eles não podem fugir dessa realidade e das mudanças necessárias.Como foi a reação da emissora ao receber a notícia da sua saída?   Eu digo que se tivesse saído brigado teria sido mais fácil. Bem mais fácil. Eu adoro a Fátima, a gente sempre troca mensagens. O Boninho (diretor) é um cara que eu admiro demais, aprendi muito com ele, a gente tinha projetos juntos para a Globo. Mesmo assim, o bom projeto que me foi oferecido aqui me deu toda a segurança para mudar. Eu acredito muito nas pessoas. Claro que você pode levar tombos, mas tenho uma intuição muito boa para gente, pessoas. É a sua inteligência emocional, acho que é assim que se chama. Eu saco as pessoas muito rápido. Quando fui chamado, era um projeto que me agradava, era legal, eu tinha experiências que ajudavam no posto, porém eu queria conhecer o Diego (Guebel, diretor-geral de conteúdo da Band). Pedi para marcar um encontro com o cara. Eu falei que teria que vê-lo porque eu não o conhecia, nunca tinha trocado uma ideia com ele. Sinceramente, eu acho que ele gostou disso também, tanto que nossas conversas foram muito claras, francas, até porque eu não tenho nada para esconder. Quando o 'Saia Justa' me chamou, ele foi o primeiro a saber. Assim como a Globo foi a primeira a saber sobre a Band. A gente conversou e eu acreditei nele, acreditei no projeto, tudo isso me deu tanta segurança que acabou me gerando dúvidas, sendo que eu não tinha dúvidas. Falei então com pessoas que confio e segui no caminho.Você já tinha declarado, muito antes da Band ou do 'Encontro', que você sonha em ter um programa de debates. O 'CQC' te deixa mais perto disso?   Sim, eu tenho essa vontade. Mas não deixa mais perto, mesmo o 'CQC' sendo o que mais se aproxima do que eu quero. E o 'CQC' também não funciona como uma porta para nada. Eu vejo o programa como apenas o 'CQC'. Não é trampolim para nada, até porque fazer o 'CQC' bem já é desafio suficiente para mim. Esse desejo de ter um programa próprio com discussão, conversa, plateia, algo que se aproxima de um talk show, mas essa vontade fica realizada aqui também. Nunca imaginava que seria assim, mas está totalmente satisfeita aqui.Finalmente a Globo vai exibir a série 'Os Experientes', da qual você faz parte, a partir de 10 de abril.   Pois é, acredita que eu recebi o convite para participar da coletiva de imprensa. Eu falei, pessoal, acho que não vai dar para participar desta vez, hein (risos)?E como acha que o público vai encarar ver você em dois canais diferentes, afinal, querendo ou não, a referência do Dan como ator vai continuar muito forte? Falando sério, eu vejo de maneira positiva a Globo, apesar de eu estar aqui, colocar uma minissérie da qual eu faço parte no ar sem qualquer melindre. Isso é legal, até porque é um trabalho lindo. O capítulo que eu fiz com o Juca de Oliveira para contar a história de um pai e um filho é muito boa, belíssima, que eu adorei fazer. Vejo com bons olhos a Globo relevar essa mudança principalmente do ponto de vista do público. Fico feliz de ver essa, digamos, parceria, já que a Band também não se importou de o episódio ir ao ar. Todo mundo entendeu de uma maneira bacana, adulta.Além do 'CQC', você também está em cartaz em São Paulo, até o fim de março, com a peça 'Meu Deus'... E tenho também dois programas de rádio na CBN, coordeno um teatro e ainda vou dirigir uma peça (risos).Então, como administrar tudo isso? Essa é a forma que encontrou de virar apresentador sem deixar de lado o Dan ator?   Eu acho que já trabalhei menos e gastei mais tempo na minha vida. Quando mais novo, às vezes eu trabalhava menos, mas desperdiçava muito o meu tempo. A melhor sensação que eu posso ter é de não ter desperdício de tempo. Não me incomoda trabalhar em vários lugares, me incomoda não dividir bem meu tempo. Eu chego no teatro para o teatro. Eu chego no 'CQC' para o 'CQC', e assim as coisas funcionam. E eu gosto dessa coisa meio, cada hora de um jeito, cada hora numa energia. Isso me dá prazer. Eu tenho prazer de chegar no teatro e fazer Deus, depois estar no 'CQC' para ser só eu e ir para o rádio e doar só a minha voz. Essa mudança de veículos, de estilos, me faz bem. E se me faz bem, não tenho como reclamar.  

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