em campinas

Um museu que quer pulsar na cidade

O Museu da Cidade acaba de renovar seu Plano Museológico, no qual a pesquisa e a educação ganham destaque

Cibele Vieira/ [email protected]
14/03/2024 às 04:51.
Atualizado em 14/03/2024 às 09:54
Sediado na Casa de Vidro, dentro do Lago do Café, o Museu da Cidade quer ampliar sua presença para outras regiões da cidade (Firmino Piton)

Sediado na Casa de Vidro, dentro do Lago do Café, o Museu da Cidade quer ampliar sua presença para outras regiões da cidade (Firmino Piton)

Há quem pense que museu é só um local onde objetos antigos são guardados e expostos. Não é bem assim. Além do acervo e da difusão de conhecimento, é um local que precisa trabalhar pesquisa e educação. Quem garante isso é a assessora técnica da Coordenadoria de Museus de Campinas, que atuou por cerca de 20 anos na gestão do Museu da Cidade. Nesta quinta ela apresenta o novo Plano Museológico, que atualizou a versão de 1992, e indica as diretrizes que a instituição deve seguir para alcançar o que pretende. "Queremos ampliar nosso relacionamento com a cidade, levando informações históricas para outros pontos mais periféricos da cidade, além de trabalhar a pesquisa e a educação em parceria com outras entidades locais", conta Adriana.

A atualização do Plano Museológico - documento que agora é recomendado a todos os museus - foi feito graças a um edital Proac do governo do estado, e foi proposto por uma empresa de museologia chamada Engenho Cultural, que contratou a Expomus, a primeira empresa do ramo do Brasil, para realizar o trabalho. O primeiro passo, realizado no início do ano passado, foi a chamada "Escuta Ativa", uma dinâmica que ouviu vários grupos da comunidade, da equipe e outros envolvidos de alguma forma com o trabalho da instituição. "Ouvimos cerca de 60 pessoas que levantaram críticas, sugestões, avaliações e demandas. A partir disso traçamos as diretrizes e a forma como vamos trabalhar", comenta Adriana.

Entre as orientações que constam do plano estão desde a política de acervo - feita por meio de uma consultoria com a professora Cristina Bruno -, a orientações sobre aquisições e descartes, toda gestão e condução do museu, formas de aproximação de novos parceiros, mapeamento da cidade e comunidades e visitas técnicas. Uma das diretrizes que passam a ser adotadas pela equipe, além da expansão das ações do museu para as periferias, é focar mais em processos históricos e menos em personagens. Uma constatação durante o processo foi que a pesquisa e a educação tinham pouca credibilidade diante do público que frequenta o local. O plano será revisado novamente em cinco anos, mas já começa a adotar diretrizes a curto, médio e longo prazos.

Segundo a museóloga Maria Ignêz Mantovani, da Expomus, "os Planos Museológicos são documentos de gestão prioritários, que determinam o perfil conceitual e o planejamento estratégico para as instituições". Ela conta que em Campinas foram adotados os métodos de participação e escuta por meio de dinâmicas e entrevistas. "Além disso, pesquisamos o histórico institucional para compreender as vocações do Museu, bem como a atuação de outros museus de cidade, para entendermos como ele poderia seguir atuando, considerando sinergias com instituições de Campinas, brasileiras e internacionais. Entendemos que o principal desafio foi justamente delinear conceitualmente o Museu da Cidade, considerando suas múltiplas e importantes atuações, e fortalecê-lo institucionalmente, para que possa representar e problematizar as dinâmicas de uma cidade do porte e da complexidade que tem Campinas", avalia.

Entre as ações que já começam a ser implementadas sob essas novas diretrizes, está um projeto piloto iniciado em parceira com o Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) do Satélite Iris, onde haverá uma atuação compartilhada com a comunidade por meio da realização de saraus, a produção de documentário usando a metodologia de história oral (juventude conectada) e o trabalho de resgate de outras memórias da cidade. "É preciso contar mais histórias locais, resgatar memórias e não ficar apenas na história oficial que vem sendo recontada", pontua Adriana.

Para a celebração dos 250 anos de Campinas, está sendo programada uma exposição que irá ocupar todo o piso superior da Casa de Vidro, onde o Museu da Cidade está sediado. "Durante as escutas, percebemos a necessidade de expor mais o acervo, que precisa ser mais conhecido, ampliar sua visibilidade", explica a assessora técnica. Hoje o acervo é composto por cerca de três mil peças (arqueológico pré histórico e urbano), uma coleção indígena cedida pelo professor Desidério Aidar, obras do artista plástico Thomás Perina e muitos outros, peças históricas dos séculos 18 e 19, e documentos sobre a formação da cidade, a partir das fazendas de café.

Na revisão do plano, a equipe do museu, formada por apenas seis pessoas, percebeu a lógica de trabalhar em exposições circulares. Adriana explica que isso significa "mostrar os territórios, trazendo o tempo da fundação da cidade, e ir remontando os processos de trabalho e construção urbana com sua produção cultural, seus imigrantes. Assim o público pode compreender a cidade em que vive como um tecido que se reconstrói sempre, que vai se transformando em ciclos". Entre as novas parcerias com instituições está o CNPEM-Laboratório Sirius, que pesquisa fragmentos de cerâmica pré-histórica no feixe de luz da linha carnaúba para descobrir como essa cerâmica foi produzida, que tipos de materiais foram usados.

Entre outras questões debatidas no documento estão a necessidade do Museu ter um plano de gestão que lhe permita ser sustentável. Entre as sugestões que serão avaliadas estão a reativação de um bar-café, como forma de gerar renda, além de incentivar a Associação de Amigos do Museu a arrecadar fundos. A comunicação mais unificada também foi debatida, e criação de redes sociais que falem mais próximo ao público também está entre as ações a serem estudadas. Afinal, dizem os participantes que elaboraram o plano, "precisamos alinhar o conceito que o museu é uma ferramenta de diálogo, difusão, pesquisa e atuação junto às várias histórias, às culturas material e imaterial da cidade". 

PROGRAME-SE

Apresentação do Plano Museológico do Museu da Cidade

Quando: Quinta, dia 14, às 9h30

Onde: Casa de Vidro (Lago do Café) – Av. Heitor Penteado nº 2145, Taquaral

Entrada Gratuita

Informações: Instagram @museudacidadecampinas

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