Cinco artistas fizeram imersão em obra da escritoa para produzir exposição e livro
Cinco artistas plásticos de diferentes estados — Paulo Meira (PE), Nazareno (SP), Divino Sobral (GO), Thiago Martins de Melo (MA) e Adir Sodré (MT) — foram convidados a mergulhar na vida e obra da escritora Hilda Hilst (1930-2004) para produzir trabalhos e conteúdos inéditos, desdobrados na exposição que será aberta sexta-feira (14) no Ateliê Aberto e em uma publicação gratuita, criada pela designer Daniela Brilhante (PE).
Esses eventos integram o projeto 'Poemas aos Homens de Nosso Tempo - Hilda Hilst em Diálogo', selecionado pelo Programa Rede Nacional Funarte como forma de evocação à série de poemas reunidos no livro Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão (1974). É realizado com parceria da Casa do Sol - Instituto Hilda Hilst e o Ateliê Aberto, ambos em Campinas.
Cada qual ao seu estilo, os artistas se expressaram de maneira bastante diferente, tendo em comum a densidade erótica e o sobrenatural da obra de Hilda, especialmente em Júbilo... Publicado em plena ditadura, a obra utiliza vozes masculinas como repertório poético-político no qual a escritora estava imersa naquele momento. “Trouxemos o homem do nosso tempo por entendermos que estamos em um momento político extremamente complicado. Político não só partidário, mas como relação a todas as decisões que tomamos na nossa vida, como nos colocamos no mundo.
E Hilda, na escrita, procura quebrar tabus sobre a sexualidade, a mulher, traz à tona a morte, o desejo. Essa é a política da Hilda. Homens... é como uma evocação”, explica a curadora Ana Luisa Lima, que atuou ao lado de Samantha Moreira (do Ateliê Aberto) e Jurandy Valença (do Instituto Hilda Hilst).
Nesse sentido, os cinco artistas convidados e suas criações passam a representar as vozes políticas contemporâneas de Hilda em diversas formas que poderão ser observadas na exposição montada com pinturas, instalações, artes cênicas (na abertura com Adir), vídeo e sonorização com programa de rádio. Ainda como desdobramento do programa, a designer Daniela Brilhante foi convidada a conceber uma publicação para ser um plataforma de diálogo entre os artistas. Todos os profissionais envolvidos vão produzir e o conteúdo será distribuído gratuitamente, em lançamento previsto para 27 de julho, das 16h às 22h, na Casa do Sol.
Obras
Dentro do programa de residência, os artistas mergulharam na obra de Hilda na casa onde ela viveu mais da metade da vida. O tempo de imersão ficou a critério de cada um. Paulo Meira e Divino Sobral foram os que mais permaneceram: 15 dias, durante os quais puderam utilizar o próprio espaço como suporte de suas obras. “Esses 15 dias foram decisivos para a construção da poética. Eu cheguei com algumas ideias, mas não sabia de que maneira poderia executar. Foi um isolamento interessante para firmar uma ligação interessante com o espaço e a obra da Hilda”, contou Divino enquanto produzia a instalação que estará na primeira sala do ateliê.
Para compô-la, ele extraiu 18 fragmentos de Poemas aos Homens de Nosso Tempo (que integra o livro Júbilo...) que citam o vermelho, cor com a qual ela dizia se manifestar e que estará na parede. “Colocarei galhos de goiabeira que eu retirei do quintal e ficaram fincados perpendicularmente como falos eretos”, conta.
Paulo irá ocupar a parte de baixo da galeria com uma videoinstalação e um programa de rádio que exploram o sobrenatural. “Quando eu recebi o convite, peguei o livro Contos D’escárnio - Textos Grotescos (1990) para ler. Vim de Recife querendo trabalhar com rádio. Não sei o porquê, mas o clima me sugeria isso. Quando eu entrei na casa, eu saquei que o Teatro dos Loucos tinha acontecido lá, e logo deixei meu material de pintura de lado e comecei a produzir um vídeo conectado ao rádio. Aqui, tomei conhecimento que ela fazia a escuta dos mortos. Criei a partir disse universo”, diz Paulo. Os rádios vão transmitir o programa criado com a participação de todos.
Adir fez um caderno de desenhos e durante a abertura da exposição irá produzir um retrato ao vivo de Hilda, assim como representar personagens criados por Hilda. “Sempre tive certeza que eu um dia viria para cá fazer algo que dialogasse com Hilda. Isso porque quando eu li O Caderno Rosa de Lori Lamby (1990) e senti que eu era aquela menina. Eu vou fazer uma performance dela”, afirma Adir, cuja obra reilustrou o caderno.
Nazareno também usou o desenho em sua obra, porém o compôs com textos manuscritos. Neste, o artista usa a ironia e as relações humanas, temas sempre presentes na sua produção. São 15 no total. Por fim, o pintor Martins de Melo apresentará duas telas que se conectam, formando uma só, como um díptico.
AGENDE-SE
Exposição Projeto Poemas aos Homens de Nosso Tempo - Hilda Hilst em Diálogo
Abertura: Sexta-feira, às 18h
Visitação: Segunda a sexta, das 14h às 19h.
Até 27 de julho
Onde: Ateliê Aberto (Rua Major Sólon, 911, Cambuí, fone: 3251-7937)
Quanto: Entrada franca
Visitas monitoradas sob agendamento prévio pelo telefone 19. 3251 7937 ou pelo e-mailcontato@atelieaberto.art.br