CRÍTICA

'Um Cavaleiro Solitário'... e equivocado: na telona

Filme que entra em cartaz nesta sexta-feira traz Johnny Depp no papel do índio Tonto

João Nunes/Especial para o Correio
correiopontocom@rac.com.br
12/07/2013 às 15:57.
Atualizado em 25/04/2022 às 09:06

O que os blockbusters atuais têm em comum? Produção competente e requintada, efeitos especiais (em geral de qualidade) e abordagem infantilizada dos temas salva pelo humor dirigido ao público adulto. E o que temos em 'O Cavaleiro Solitário' (The Lone Ranger, Estados Unidos, 2013), de Gore Verbinski? Apenas a produção caríssima (pergunta filosófica: por que se gasta tanto dinheiro em um filme?). Não há nada notável nos efeitos e o parco humor não tem graça alguma. E os problemas nem começaram. 

Não sou especialista em blockbuster nem candidato a consultor da indústria americana de cinema, mas há tempos o gênero vive das características citadas — acrescentados alguns outros elementos, como competência de diretores, atores, roteiristas etc, que, juntos, transformam um filme em entretenimento de qualidade.

Em 'O Cavaleiro Solitário' praticamente nenhum desses elementos funciona. E isto talvez explique o fraco desempenho desta produção da Disney nos Estados Unidos no primeiro fim de semana, quando arrecadou míseros (?!?) US$ 49,8 milhões.

Some-se o excesso de tempo (ninguém está censurando, mas sugerindo bom-senso): para que 149 minutos? Sim, há razões de os produtores apostarem no tempo longo de duração dos blockbuster, mas um editor com mais coragem para cortar teria feito bem à produção.

E vamos combinar: Johnny Depp cansou com seus tipos exóticos (ele poderia fazer um sujeito normal de vez em quando). Tonto é quase cópia de Jack Sparrow, astro da bem-sucedida série Piratas do Caribe, também de Gore Verbinski. A reciclagem nem sempre funciona. Tonto é um Jack Sparrow do deserto, com os idênticos cacoetes, apesar do esforço do ator em criar algo diferente.

O roteiro escrito a oito mãos (isso quase nunca dá certo) por Eric Aronson, Justin Haythe, Ted Elliott, Terry Rossio criou uma colcha de retalhos. Seja porque se inspira na série do rádio (de 1933), que passou pela TV e cinema, seja porque misturou ingredientes de inúmeras procedências (faroeste, melodrama, HQs, ação e aventura etc), ou porque achou que bastava se basear em receita de fazer sucesso. A receita nem existe. Menos ainda quando as medidas dos ingredientes se excedem. Há exageros para todos os lados.

A começar dos significados que se quer dar às simbologias. Tem cavalo mágico, pássaro preto, alpiste com poderes, bala de revólver salvadora e a mística de um povo — o indígena — que serve para resolver todos os problemas. Em que pese o fato de os símbolos serem manjados nesse tipo de narrativa quando bem usados pode geram bons elementos de apoio. Aqui, a soma delas enjoa.

Ao olhar de Gore Verbinski (e dos insaciáveis produtores) bastaria somar alguns ingredientes de sucesso das outras franquias, citações, humor (desde que funcionasse), atores de reconhecida empatia (como Depp) e competência (como Armie Hammer), e recriar a gramática do faroeste (cenários, tipos, modo de falar, gesticular, andar e se vestir, entre outros) para se alcançar produto desejável. Se os adultos nostálgicos vêem algum valor nisso, os jovens (imagino) não acharão graça alguma.

Bem, à história: Tonto (Johnny Depp), o espírito guerreiro nativo americano narra as peripécias que transformaram o homem da lei John Reid (Armie Hammer) em alguém que faz justiça com as próprias mãos. Reid é dado como morto após emboscada de patrulheiros do Texas. Encontrado e tratado pelo índio Tonto, ele passa a usar a máscara para disfarçar e conseguir se vingar do assassinato dos companheiros, especialmente do irmão Dan (James Badge Dale). E tem o hiper-super-mega vilão Butch Cavendish (William Fichtner). E tem a mocinha casada com Dan, mas apaixonada pelo irmão John.

Acentuar a previsibilidade do filme de Gore Verbinski é chamar a atenção para o óbvio — outra das características do blockbuster. Mas este só se torna elogiável produto de entretenimento quando, mesmo contando as mesmas velhas histórias alcança nível criativo capaz de ter inúmeras semelhanças com os antecessores, porém, é essencialmente ele mesmo. Não no caso de O Cavaleiro Solitário.

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