Criando música através da troca

Três músicos representam Campinas em festival musical

Festival Ethno Brazil 2022 celebra a cultura popular, em São Paulo, e reúne artistas de vários lugares do mundo

Aline Guevara
12/08/2022 às 09:32.
Atualizado em 12/08/2022 às 09:32
Leandro Serizo, Luca D Alessandro e Iago Tojal, os representantes de nossa cidade no festival que reúne jovens músicos: grande expectativa para a apresentação desta noite na capital paulista (Divulgação)

Leandro Serizo, Luca D Alessandro e Iago Tojal, os representantes de nossa cidade no festival que reúne jovens músicos: grande expectativa para a apresentação desta noite na capital paulista (Divulgação)

O Festival Ethno Brazil reúne e une músicos de todo o País - e alguns de fora também - celebrando a cultura popular e os saberes artísticos através do encontro de jovens de vários cantos do mundo. Os artistas, todos com idades entre 18 e 30 anos, passaram dias em uma experiência de imersão na Fazenda da Serrinha, em Bragança Paulista, a 65 km de Campinas, trocando vivências pessoais e musicais. O encontro será coroado com um show na Sala de Espetáculos do Teatro Municipal de São Paulo, nesta sexta-feira (12), às 20h, aberto e gratuito para o público. O Ethno foi criado há 30 anos pela Jeunesses Musicales International (JMI) e é promovido em outros 25 países. No Brasil, o festival é realizado pela Sustenidos Organização Social de Cultura. Esta é a terceira edição nacional e, ao todo, são 28 músicos que representam os estados da Bahia, do Maranhão, países como o Chile, Moçambique, Argélia, França e Palestina, e ainda três deles irão retratar o cenário musical de Campinas e do interior paulista.

A força da resistência preta

Um dos músicos da cidade é Leandro Serizo, cantor e sanfoneiro estudante da Unicamp. Ele conta que sugeriu para seus colegas que também participam do festival que apresentassem os cantos vissungos, cânticos de africanos e afrodescendentes escravizados no interior de Minas Gerais e de São Paulo. “Esses cantos foram musicados e gravados pelo Geraldo Filme (historiador, cantor e compositor). Não é uma música que seria esperada como representante do interior, mas como um grupo que representa essa região, a gente identifica em Campinas, que foi a última cidade do Brasil a abolir a escravidão, a importância de trazê-la para a nossa apresentação”, explica Leandro, reforçando que a intenção é dar voz a quem não teve. Ele levará o canto, como solista, abrindo a apresentação no Teatro Municipal, em conjunto com outros músicos.

Leandro compartilha a importância de estar em um festival como o Ethnos, em sua primeira participação no evento, como local de troca e fortalecimento em conjunto. “Nós conhecemos e fizemos uma oficina com outros músicos do festival que tocam samba de bumbo, que é típico do interior de São Paulo e representa a cultura preta, em total harmonia com a nossa música. E nós nem imaginávamos. Foi uma surpresa e emoção muito grande quando percebemos”, revela. Os músicos decidiram juntar o ritmo do samba de bumbo e os vissungos na abertura do espetáculo do Teatro Municipal.

Música e diversidade

A violoncelista Luca D Alessandro também faz mestrado na Unicamp e sua pesquisa é justamente o trabalho do sambista Geraldo Filme. Ela explica que o interesse no festival surgiu a partir do momento em que descobriu a proposta do encontro. “Apesar de tocar violoncelo, eu nunca me senti pertencente ao mundo erudito, sempre busquei uma outra forma de tocar o instrumento e gosto muito de música popular”, explica a musicista. Luca, que está participando pela terceira vez do Festival Ethno, conta da experiência de tocar ao lado de artistas cuja música alcança notas que os colegas brasileiros com referências ocidentais não conseguiram tocar. “O contato com isso é muito enriquecedor”, diz. Como mulher trans, a segunda a se apresentar no encontro, Luca também vê o Festival Ethno Brazil como um lugar de diversidade musical e social. “Nós, como minorias, estamos aqui, assim como muitos músicos negros também. As pessoas aqui têm diversos backgrounds e não importa se você aprendeu música em casa ou em um conservatório, aqui todo mundo tem o mesmo patamar”, esclarece.

A troca de experiências de vida

O cantor e baixista Iago Tojal também representa Campinas. Natural de Rio Branco, no Acre, ele veio para a cidade estudar o instrumento na Unicamp. Nesta sexta-feira (12), no festival, ele mostrará tanto os vissungos do interior do estado, com os colegas, quanto o pífano, uma pequena flauta transversal de raízes nordestinas. “Como eu tinha os instrumentos ideais para tocar no festival, vou usar somente flautas de bambu que fiz na Fazenda da Serrinha durante esses dias de imersão”, relata ele, que ministrou uma oficina de pífano para os outros músicos. O resultado será uma apresentação geral do grupo de pífano e pandeiro, uma espécie de intervenção musical durante o espetáculo. “É muito emocionante e tocante estar no Ethno, pois fazemos trocas musicais e também de experiências de vida”. O músico, que participou da edição anterior do Ethno, ficou tão tocado que compôs uma canção chamada “Despedida” sobre a experiência. Ela pode ser ouvida nas redes sociais do artista.

PROGRAME-SE

Festival Ethno Brazil 2022

Quando: sexta-feira, 12/08, às 20h

Onde: Theatro Municipal de São Paulo - Praça Ramos de Azevedo, s/n, República, São Paulo-SP

Entrada gratuita com ingressos com retirada pelo site do Theatro (theatromunicipal.org.br). Limite de 2 ingressos por pessoa/CPF

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