Médica e escritora Elaine Pereira da Silva busca recursos por meio da Lei Rouanet para concretizar projeto de contar sua história na telona
A saga de Elaine Pereira da Silva - mulher, negra e pobre - para se formar em medicina na Unicamp se transformou no livro autobiográfico 'Pérola Negra, História de um Caminho' ( Leandro Ferreira/ AAN)
Mulher, pobre e negra. A trajetória de Elaine Pereira da Silva para realizar o sonho de estudar medicina não foi das mais fáceis, muito pelo contrário. Mas, contra todas as expectativas, enfrentando e vencendo todo tipo de preconceito e discriminação, além de driblar uma lesão cerebral sofrida, segundo ela, por negligência médica, se formou em medicina. Sua saga, que se transformou num livro autobiográfico — 'Pérola Negra, História de um Caminho' — pode agora render um documentário. O projeto do longa-metragem foi aprovado pelo Ministério da Cultura (MinC) para captação de recursos por meio da Lei Rouanet e depende agora do interesse de patrocinadores para sair do papel e ganhar as telonas. O projeto do documentário tem como proponente o Instituto Maracatu Bizoro Avoador, sociedade civil sem fins lucrativos, de Salvador (BA), será produzido pelo cineasta brasileiro Joel Zito Araújo, com direção do africano Balufu Bakupa-Kanyinda, da República Dominicana do Congo e atualmente radicado em Paris. “Bakuda-Kanyinda abraçou nosso projeto em 2013. Ele tem incursões profissionais na Europa, África e Américas e me disse que há tempos queria fazer um filme sobre o racismo brasileiro. Ao ler a súmula desta história em inglês em meu site (www.draelaine.com), ele imediatamente aceitou dirigir o documentário”, conta Elaine. O roteiro do longa foi escrito pela jornalista Carla Lopes. A equipe está pronta, mas a concretização do projeto esbarra na falta de patrocínio. A aprovação do Minc foi em abril do ano passado, mas em função dos acontecimentos que mobilizaram a sociedade brasileira na época — Copa do Mundo, eleições presidenciais, manifestações populares —, o grupo não conseguiu apresentar devidamente o projeto à iniciativa privada e obter patrocínios. “Mas não desisti. Nada na minha vida foi fácil, mas superei todas as barreiras e vou vencer esta também”, afirma a determinada Elaine. Só os percalços que passou após o lançamento do livro, em 2006, já renderiam um segundo volume. Quando sofreu a lesão cerebral, ela ficou quatro dias em coma até ter o diagnóstico de cistecircose (doença provocada por um verme que se instala no cérebro). Na época, acreditava estar aposentada por invalidez. Soube depois que era apenas auxílio-doença. “Voltei a trabalhar por alguns anos (2008 a 2010) e de 2011 a 2013 fiquei novamente afastada por auxílio-doença. E em janeiro de 2014 pedi alta do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) para assumir meu cargo como clínica geral concursada, em Paulínia, onde trabalho desde então”, informa Elaine.Respeito “Meu propósito sempre foi promover uma medicina de qualidade para todos. Com minha história quis fazer ‘medicina de almas’, e o filme irá muito mais longe do que foi o livro”, comenta. Elaine cita que toda a equipe — tradutores de inglês e francês, técnico de Tecnologia da Informação, roteirista, produtor de cinema, proponente — trabalha por respeito e carinho pela história. “Ainda não temos nenhuma verba. Mas temos fé de que vamos conseguir porque é uma história emblemática de luta pelo sonho de fazer medicina honesta para a população brasileira. E que merece ser contada porque ela muda o paradigma de vida de muitas pessoas.”