Bloco popular que inovou em 1985 com o desfile de rua em Campinas comemora seu pioneirismo com festa, amanhã, com a presença de Nãnãnã da Mangueira, DJ e sambistas locais
O bloco, que começou com um pequeno grupo, foi crescendo e agora completa 40 anos, reunindo milhares de pessoas pelas ruas da cidade (Divulgação)
Tudo começou na mesa de um boteco, com um grupo de amigos boêmios apaixonados pelo samba. Eles conversavam sobre o desejo de ter uma festa carnavalesca inclusiva e abrangente, com uma banda que tocasse as marchinhas dos antigos Carnavais. Esse sonho foi sendo gestado até que a banda virou realidade. E foi assim que, em 1985, eles iniciaram os festejos de Carnaval e decidiram, naquele pequeno grupo, sair pelas ruas próximas espalhando sua alegria. Quando voltaram ao ponto de partida, viram que o cortejo estava sendo seguido por quase 200 pessoas, inebriadas pela alegria simples e autêntica. E assim tem sido nessas quatro décadas, só que agora o cortejo cresceu e arrasta cerca 5 mil pessoas.
“O desfile deste ano coroa uma trajetória de valorização da cultura brasileira e do Carnaval de Campinas, sempre com respeito à inclusão irrestrita da população campineira e da Região Metropolitana”, diz Ester Januário, presidente do Tomá na Banda. Ela conta que “a história começa com o desejo de Camilo Chagas em fazer uma festa inclusiva e abrangente, convidando a população que não podia pagar fantasia. E assim continua: o Carnaval do Tomá na Banda é para todos, com ou sem fantasia”.
A festa dos 40 anos de história do Bloco Tomá na Banda será amanhã, 1º de março, no Largo do Rosário, das 13h às 18h.O tradicional desfile do cortejo está previsto para às 16h pelas ruas do Centro. Para comemorar a edição especial, o evento terá a participação dos sambistas campineiros Ilcéi Mirian, Ido Luís e Valéria Santos, além da presença de Nãnãnã da Mangueira. A abertura da concentração será inovadora, feita pelo DJ AfroChag.
A HISTÓRIA
O local que sediou sonhos e planejamentos festivos era o antigo Bar Ilustrada, no Cambuí. Camilo Chagas, um dos fundadores, contava que, “a rigor, o Carnaval é uma festa popular, profana e de rua e restabelecer esses pilares foi a proposta da precursora das bandas de Campinas, a Tomá na Banda”. O manifesto, surgido no vazio das ruas e num tanto de boemia, multiplicou-se e transformou a folia campineira em um evento democrático”. Casado com Ester Januário, a atual presidente do Bloco, Camilo já faleceu.
O nome foi escolhido em alusão à maldosa fama de Campinas, ‘uma banda de duplo sen tido”, brincava Chagas. Na estreia, os carnavalescos contrataram quatro músicos da banda da Polícia Militar para animar a festa, em frente ao Ilustrada. Fim do espetáculo, noite alta, rua tristonha, sangue embebido em álcool, dez boêmios decidiram que Carnaval não era só aquilo. Saíram cantando e dançando pelas ruas do Centro. Quando voltaram ao bar, perceberam que uma pequena multidão de mendigos e outros frequentadores da noite havia engrossado o cortejo. Estava criada a tradição. Desde então, nos sábados de Carnaval, a Tomá na Banda desfila pelas ruas de Campinas, seguida por quem quiser participar.
AS CARACTERÍSTICAS
Quando se pensa em Carnaval alternativo, de bloco de rua, com marchinhas, o Tomá na Banda foi praticamente pioneiro, afirma Ester, que celebra o fato de Campinas ter hoje quase 60 blocos na rua. “Isso é lindo, é um Carnaval gostoso, simples, popular, com samba raiz, solto e tranquilo”, comenta. O bloco surgiu no coração do Carnaval, como uma expressão vibrante da cultura popular, unindo a tradição com a inovação em cada edição nessas quatro décadas, diz Ester Januário. Ela destaca que “o clima vibrante que envolve o evento é contagiante, criando uma atmosfera única nas ruas da cidade, onde a alegria se espalha por todos os cantos, e vem fazendo história na vida cultural e social da cidade de Campinas e região”.
Os desfiles do bloco tradicionalmente são realizados nas tardes de sábado de Carnaval, “que arrastam uma multidão fiel com amor infinito por esse bloco, que se soma ao espírito coletivo e alegre que é a essência do Carnaval”, ressalta a presidente.
O vice-presidente do bloco, Pedro Henrique Chagas Januário, tem o projeto de montar atividades culturais ao longo do ano e inscrever a agremiação em editais para conseguir trazer mais atrações e também voltar a ter sambas enredo próprios, o que era feito na época de Camilo, que faleceu em março de 2015, mas deixou dois CDs gravados. Não é só um bloco, é uma celebração à vida, afirma.
Desde a pandemia, a festa é realizada no Largo do Rosário e, devido à grande concentração de foliões– cerca de 5 mil no ano passado– há uma demanda por serviços de uma praça de alimentação no local. O trajeto do desfile, que sai às 16h do Largo do Rosário, segue pela Avenida Francisco Glicério, desce a Rua Conceição em direção à Rua Irmã Serafina, sobe pela Rua Benjamim Constant, retornando pela Glicério até o ponto de concentração, onde a festa será encerrada às 18h.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram