Fruto da pesquisa que desenvolve sobre memória, o ator e autor Clóvys Torres traz para Campinas seu mais recente espetáculo, Me Dá a Tua Mão
Fruto da pesquisa que desenvolve sobre memória, o ator e autor Clóvys Torres traz para Campinas seu mais recente espetáculo, Me Dá a Tua Mão, para curta temporada, sábado e domingo no Teatro Municipal José de Castro Mendes. Há anos, Torres pesquisa sobre memórias. O primeiro trabalho sobre isso, também solo encenado por ele entre 2000 e 2004, foi Maria Mucuta, em que Ella relembrava a sua vida à espera Dele. Na época, para criar a narrativa, o ator ouviu em torno de 500 pessoas, especialmente idosos, a respeito de suas memórias e alegrias e construiu o texto em sala de ensaio com muitas das memórias e sensações que tinha de seus avós. Em Me Dá a Tua Mão o ator utiliza um acordeom e um berrante para apresentar uma narrativa que serve como detonador de memórias. “Meu foco é na narrativa. Anos depois de Maria Mucuta, em que Ella recordava sua vida, surge este velho contando histórias, relembrando as muitas perdas pessoais. O texto tem um caratér autobiográfico, mas amplia e envolve a história de uma família inteira pelo viés desse homem que vive no sertão, mas sonha com o mar”, explica Torres. “À medida que as personagens revelam suas emoções, a plateia mergulha em suas memórias particulares e esta é a grande poesia do trabalho. Cada um imaginar suas próprias paisagens, suas emoções, a partir da provocação do narrador que desnuda momentos e personagens próximos a qualquer pessoa que estiver assistindo”, observa Torres. Segundo ele, o trabalho de construção do texto e das cenas levou meses, foram feitos ensaios públicos e debates abertos desde o primeiro momento, passando por escolas, grupos de estudiosos, convidados ecléticos, sempre com bate papo, até fechar o texto e uma ideia de narrativa desta história a ser adaptada a qualquer espaço e formato, grande ou pequeno. “Moro num hotel. No processo chamava outros moradores para assistir. Construí a narrativa com o público. A Clarice Neskier viu uma cena e indicou o Amir Haddad para dirigir, ou “desconstruir””, coloca. “O Amir fez uma desconstrução de tudo que eu estava fazendo, me provocando, me trazendo fortemente a questão da narrativa e do não teatro ou do “teatro depois do teatro”, como ele diz. Em resumo, a questão da verdade do ator, da entrega, da não representação. É um trabalho que não termina nunca, pois terá sempre provocações e desconstruções vindas do mestre Amir e da minha própria inquietude como ator-autor. Com a ajuda dele, a narrativa ficou mais clara, e o narrador com maior liberdade”, explica Torres. “Portanto, é uma peça que segue um fluxo de constante pesquisa e renovação e isso era o que eu desejava. Uma história que jamais estará pronta e sempre em constante evolução”, observa o ator, que faz questão de receber o público na entrada do teatro, para 'sentir' a plateia. “Em cena, uso acordeom e um berrante, instrumentos ancestrais, e o palco vazio, apenas com uma cadeira. Atuo como uma espécie de menestrel, do teatro da palavra, para estimular a imaginação do público. Já me apresentei em palcos variados, feira de livros, hospitais, várias cidades. O público, apesar de diverso, foi sempre muito receptivo”, afirma Torres. Para ele, “trata-se de mais uma história de amor. Uma narrativa que une o sertão ao mar. Um homem recebe visitas em sua casa enquanto a mulher dele, chamada Ella, pede sua mão insistentemente no quarto. A história deste casal revela as personagens de toda a família, seus amores, tristezas e sonhos.” Segundo Torres, o encontro com Amir oferece um outro jeito de fazer teatro. “Para ele, o teatro é o lugar do ator, e propõe um exercício da liberdade”, observa, citando que a montagem junta dança, música e texto. “O palco aberto passa ainda a impressão de deserto, de solidão. “As cenas não são marcadas. E também mudo a ordem das cenas. Meu compromisso é com a narrativa, assim, o espetáculo nunca é o mesmo.” O espetáculo estreou em São Paulo, em 1º de julho de 2017 e até hoje passou por 28 cidades brasileiras, além de Assuncion, no Paraguai. Em cartaz em São Paulo atualmente, cumprindo sua quinta temporada na Sala Orquidário do Café Pimenta Romã, o solo segue para os EUA em maio e depois para Portugal. SOBRE O ATOR E AUTOR Formado em Comunicação Social, com especialização em jornalismo literário, Clóvys Torres é ator e autor. Com cerca de dez peças escritas e um livro de poecontos (Curva de Vento-2016), o ator tem se dedicado à dramaturgia e ao constante exercício e busca de um teatro mais autoral. Atualmente, tem no repertório também a peça Zibaldone, com textos de Giacomo Leopardi e direção de Aimar Labaki. É autor de textos como Retrato Emoldurado (2009), montado com Rosi Campos e Arllete Montenegro, com direção de Jairo Mattos; Trem das Onze (2000), dirigido por Cida Moreira; Maria Mucuta (2002), dirigido por Weber Reis e dois espetáculos em fase de montagem: Café Paris, a ser dirigido por William Pereira e Corações de Alcachofra, dirigido por Vivien Bukup. AGENDE-SE O que: Me Dá a Tua Mão Quando: sábado,23, às 21h; e domingo,24, às 19h Onde: Teatro Castro Mendes (Praça Corrêa de Lemos, s/nº, Vila Industrial, fone: 3272-9359) Quanto: R$ 40,00(à venda na bilheteria do teatro, de terça a domingo, das 16h às 21h, ou pelo site http://www.clubedoingresso.com