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Tarcísio Meira traz novo espetáculo a Campinas

O ator tem 60 anos dedicados à dramaturgia e é um dos maiores ícones da dramaturgia nacional, mas ficou intimidado ao ser convidado para fazer 'O Camareiro'

Fábio Trindade
02/03/2016 às 22:13.
Atualizado em 23/04/2022 às 01:46
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 (Priscila Prade/Divulgação)

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Difícil imaginar Tarcísio Meira inseguro em relação a um novo trabalho. Afinal, além de esbanjar 60 anos de carreira (em 80 de vida), estamos falando de um dos maiores ícones da dramaturgia nacional. Apesar disso, acredite, ele afirma ter se sentido assim ao ser convidado para viver o personagem Sir de 'O Camareiro', peça do inglês Ronald Harwood que se firmou como um dos melhores retratos do teatro, principalmente seus bastidores e conflitos, e que entra em cartaz nesta sexta-feira (4) em Campinas. O personagem em questão é um cavaleiro do reino, um ator consagrado de teatro com grandes interpretações shakespearianas, entre elas Otelo e Lear. Tarcísio, por outro lado, como se sabe, é o eterno galã da TV, responsável por personagens icônicos de novelas, com enorme apelo popular, que permanecem vivos na memória de muita gente. “Um ator shakespeariano é tudo o que eu não tenho feito nos últimos 50 anos. Eu fiz um texto tão forte e tão bom assim muito no começo da minha carreira”, lembra o ator, em entrevista exclusiva ao Caderno C. “Então eu até estranhei que eles tivessem me convidado porque eles não me conheciam como ator, apenas me viam na TV em personagens mais simples, de mais fácil compreensão para o público, porque sempre foi essa a minha intenção. Então receber uma proposta como essa, literalmente oposta do que eu fazia, me deixou muito feliz, gratificado, mas ao mesmo tempo um pouco inseguro”, confessa Tarcísio. Há, ainda, outra questão. Apesar de o teatro ser parte importante de sua trajetória, o ator ficou afastado dos palcos por 20 anos, justamente por ter focado a carreira na TV e no cinema. “Lá atrás, quando comecei a fazer novelas, queria fazer também comédias no teatro, então viajei com muitas delas porque era assim que eu queria ir para a estrada. Nós, minha mulher (Glória Menezes) e eu, queríamos conhecer pessoas e que as pessoas nos conhecessem, então fizemos coisas que as trouxessem ao teatro, e que elas saíssem gratificadas de lá. Então procuramos textos mais leves, não comedinhas caça-níqueis, eram comédias muito boas, porém mais leves”, explica. Segundo Tarcísio, a única peça que fez mais densa foi 'Um Dia Muito Especial', de Ettore Scola, sob a direção de José Possi Neto, em 1986. O que, segundo ele, foi “uma jornada bastante particular”. “E o personagem era muito diferente do de agora, muito introvertido. Um personagem com problemas pelo fato de ser homossexual na Itália durante a guerra”, recorda. Já Sir, o personagem de 'O Camareiro', é um tirano líder de uma companhia de teatro em turnê pela Inglaterra. Ele, apesar de cansado e à beira de um colapso nervoso, luta com todas as forças contra a idade e a saúde debilitada para interpretar mais uma vez o 'Rei Lear', de Shakespeare. Muitos desacreditam de sua capacidade, mas ele tem o tempo todo a ajuda de Norman (Kiko Mascarenhas, idealizador da peça), seu dedicado camareiro. “É uma peça muito bonita, um texto que fala muito de nós, os atores, e que me comoveu assim que li. Eu vi que não haveria problema nenhum em fazer, mas fiquei inseguro porque é um texto grande, difícil até certo ponto, um desafio mesmo a se encarar. Sabia que não seria fácil”, afirma Tarcísio. Pois o retorno de um ator como ele depois de duas décadas sem fazer teatro não seria ao acaso. A peça estreou em São Paulo no ano passado com retumbante sucesso, graças principalmente a assombrosa atuação de Tarcísio Meira. Um trabalho aclamado por crítica e público que lhe rendeu o Prêmio Arte Qualidade Brasil na categoria melhor ator. Além disso, 'O Camareiro' lidera as indicações ao Prêmio Shell, o mais importante do teatro brasileiro, concorrendo em seis das nove categorias, entre elas, claro, melhor ator para Tarcísio Meira. “Eu fiz a peça com grande prazer, com muita alegria, porque fala de um personagem muito próximo de mim. E o público foi sentindo essa vibração, essa verdade, e embarcou na peça. Talvez por isso o sucesso”, acredita o ator. Ele conta, ainda, que o valor do texto está no fato de todos os personagens serem profundamente humanos, que lidam ainda com personagens também muito fortes. “Estamos falando de uma companhia que só faz Shakespeare, então os vemos lidando com Shakespeare o tempo todo. E é bonito ver isso, ver a luta desses atores, o empenho deles em fazer a peça, em viajar com ela. Os problemas deles, e principalmente do meu personagem, são profundamente humanos. O gostoso em fazê-la é justamente o fato de interpretar um ator, e um ator que representa Shakespeare. Então se vê em alguns momentos personagens de Shakespeare na peça. É um jogo bonito, que me comoveu e tem comovido o público de forma geral.” Serviço O quê: peça 'O Camareiro' Quando: até 13 de março, às sexta e sábado, 21h; e domingos às 18h Onde: Teatro Brasil Kirin (Shopping Iguatemi Campinas, Av. Iguatemi, 777, Vila Brandina, fone: 3294-3166) Quanto: R$ 100 e R$ 50 Vendas: de terça-feira a sábado, das 13h às 21h, e domingos das 12h às 20h, ou pelo site www.ingresso.com.br

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