Mostra tem entrada gratuita e estará disponível até o dia 7 de julho, com audiodescrição em parte das 42 peças reunidas no acervo
Durante décadas, tambores e atabaques foram tidos como armas, explica a curadora Jéssica Martins (Nego Júnior)
A mostra itinerante “Atabaque: da árvore à escassez da madeira, o couro repousa protegido perpetuado nos terreiros e tablados” chega a Campinas como resultado do projeto Omodé, da zona Sul de São Paulo. Com curadoria de Jéssica Martins, a exposição permanecerá aberta à visitação até o dia 7 de julho, na Estação Cultura, com 42 peças de atabaques e tambores de produção artesanal, provenientes do Brasil e do continente africano.
Dentre os instrumentos do acervo, há variações de tambores e atabaques — um tipo de tambor que teve sua produção ressignificada pelos escravos no Brasil colonial, diante da falta de acessibilidade à madeira, na época. As peças foram confeccionadas com couro de animal – como bode, cabra, boi e cobra –, com o uso de madeira, cerâmica e outros materiais. Os instrumentos são peças únicas usadas na percussão de cantos, para dar o ritmo e o movimento aos encontros de fé e de religiões de matriz africana.
A mostra tem o objetivo de trazer os elementos como protagonistas, tendo em vista que durante décadas os tambores e atabaques foram tidos como armas, ilegais e apreendidos pela polícia. Para Jéssica, os ataques direcionados às peças refletem o racismo e o preconceito religioso. “Trazer essa exposição para Campinas é muito significativo para nós, tendo em vista que a cidade foi a última a abolir a escravidão no Brasil.”
Dentre as peças, 28 delas possuem audiodescrição para garantir a acessibilidade do público visitante. Outra curiosidade é a presença de parte de um tronco escavado com 1,20 metro de comprimento, como símbolo da matéria-prima utilizada na etapa inicial de confecção dos tambores, principalmente os provenientes do continente africano – nesse caso, é usada a circunferência oca da casca da árvore. A maior parte dos instrumentos é exposta com uma proteção em volta, mas alguns estão disponíveis para o manuseio e toque do público.
Algumas das peças são nomeadas como tambores Agogô e Agan, com detalhes em ripas de madeira ou ferro. Na exposição, há também um leque, que integra esse universo, feito parcialmente com couro de animal.
O projeto foi viabilizado pelo edital do Programa de Ação Cultural de São Paulo (ProAc) e percorre três cidades do Estado. A primeira a receber a exposição foi Rio Claro em maio. A mostra chegou em Campinas no dia 6, onde seguirá até julho. E o município de Iguape sediará a iniciativa em novembro.
PROGRAME-SE
Exposição Projeto Omodé
Quando: Exibição disponível até o dia 7 de julho, das 8h às 22h
Onde: Estação Cultura – Praça Mal. Floriano Peixoto, Centro
Entrada gratuita
Informações: @projeto_omode
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